Chama-se Dona Niza, “nasceu” em Carvoeiro e é o mais recente vinho branco algarvio. O gosto de João Raposo pelo processo de produção de vinho foi herdado da família, intensificou-se na adolescência, mas esteve adormecido até há três anos, quando, depois de ter herdado um terreno, decidiu plantar vinha. Agora, está aí o primeiro néctar e a receção tem sido boa.
João Raposo, empresário na área do design, lembrou, em conversa com o Sul Informação, que, ainda na juventude, «quando andava no liceu, aproveitava a altura das vindimas, na Adega de Lagoa, para trabalhar, porque eles precisavam de pessoal. Então, ficava no laboratório a tirar a medição do mosto, na expetativa para ver qual a uva mais forte, com maior grau alcoólico. A partir daí, comecei a ver também todo o processo de vinificação da adega e o ambiente da vindima».
Além disso, «os meus avós tinham vinha, os meus pais também e comecei a ter curiosidade e vontade de um dia fazer um vinho. Passaram-se uns anos, as coisas foram evoluindo e, há algum tempo, herdei uns terrenos que estavam abandonados, com amendoeiras e alfarrobeiras. Um dia cheguei lá, olhei para aquilo e pensei: “é agora!”. Comecei a plantar a vinha e pronto. Isto foi há três anos e agora chegou o primeiro vinho: o Dona Niza».
O nome do vinho é uma homenagem à mãe de João Raposo: «lembrei-me da forma como a tratava e o vinho ficou batizado com este nome», revelou.
Apesar de ter começado como um projeto seu, nesta altura também o seu irmão, o arquiteto Fernando Raposo, se associou à produção, uma vez que «arrancou com a plantação das mesmas castas e de uma nova, a negra mole. Neste momento, em conjunto, temos quatro hectares de vinha plantada».
A propriedade fica mesmo às portas da Praia do Carvoeiro e essa é uma das «mais-valias» do Dona Niza. «Temos o mar a 1000 metros e temos também a exposição à Serra de Monchique. É uma zona com um potencial interessante, alta e ventosa e com alguma salinidade do solo. As cepas gostam desse tipo de clima.», explicou o produtor.
Além disso, «em termos comerciais, estamos a criar uma ligação umbilical com Carvoeiro. É a única vinha ali e queremos tirar algum partido disso, associando o vinho a uma região turística conhecida internacionalmente. Toda a gente conhece Carvoeiro».
Para já, estão no mercado dois vinhos brancos monocastas: crato e arinto, que foram lançados, a 13 de Junho, no Lagoa Wine Sessions. «Optei por fazer dois lotes. As pessoas estão a provar e acho piada porque há quem goste muito do crato e quem goste muito do arinto. Ou gostam muito de um ou de outro. Não dizem que estão os dois mais ou menos».
A receção está a ser «muito boa. Ainda não tive nenhuma opinião negativa, só positivas, de ambos os vinhos», destaca João Raposo.
No total, foram feitos 6500 litros das duas castas, sendo que «são mil e tal litros de arinto e o resto de crato branco, o que dá cerca de 8000 garrafas. Somos o produtor mais pequeno do Algarve, mas, independentemente da quantidade, achámos que devíamos avançar com o projeto».
Para o próximo ano, «esperamos produzir um pouco mais, com os três hectares que já plantámos».
No futuro, surgirá também o vinho tinto, uma vez que «já plantámos negra-mole também. Daqui a mais dois anos, no mínimo, quando as cepas estiverem fortes, vamos ter também tinto», feito a partir dessa casta tradicional algarvia.
O nome desse novo vinho também «vai seguir a mesma lógica familiar e será um nome dentro do mesmo enquadramento», revelou João Raposo.
A comercialização do Dona Niza está a ser feita pelo próprio produtor, porque «quis passar por todas as fases do vinho, desde a plantação, a vindima, e agora também a comercialização. Estamos para já a distribuir para restaurantes. Ainda não entrámos no circuito dos supermercados».
Ainda assim, em Lagoa, é possível adquirir o mais jovem vinho do Algarve, na Mercearia da Paula, junto à Piscina e ao Pavilhão Desportivo Municipal.
Fotos: Rodrigo Damasceno|Sul Informação
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