Dificuldades de alojamento para estudantes têm os dias contados em Faro

Mercado de arrendamento vai mudar a curto/médio prazo, dizem Rogério Bacalhau e Paulo Águas

Foto: Rodrigo Damasceno|Sul Informação

As dificuldades de alojamento para os estudantes que vêm de fora para estudar na Universidade do Algarve (UAlg), em Faro, têm os dias contados. Pelo menos, é nisso que acreditam tanto Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, como Paulo Águas, reitor da UAlg.

Nos últimos anos, os alunos da universidade têm passado as passinhas do Algarve para arranjar casa na capital da região. Mas este é um problema «que se vai resolver, naturalmente, dentro de poucos anos», acredita o edil farense.

É que os problemas decorrem não tanto do aumento do número de alunos da universidade, nomeadamente dos estudantes estrangeiros – embora esse crescimento se verifique – mas de outros fatores relacionados com o próprio mercado de arrendamento.

«Atualmente, há uma deslocalização do arrendamento tradicional para o alojamento local. E há outro fator muitas vezes esquecido: a partir de 2010, a construção parou por completo, em Faro. Tivemos aqui sete ou oito anos sem fogos novos», enquadrou Rogério Bacalhau.

«No ano passado, foram terminadas as primeiras construções após esse interregno. Este ano, serão concluídas muitas mais casas. Há, neste momento, cerca de 250 fogos a ser construídos, que ficarão concluídos este ano, o mais tardar no ano que vem. Por outro lado, temos perto de 350 casas em projetos aprovados que ainda não começaram as obras», disse.

Já Paulo Águas antevê «com alguma segurança» que «dentro de 10 ou 15 anos, o mercado de alojamento de estudantes  vai mudar radicalmente».

Para o reitor da UAlg, não faz sentido que, por regra, os estudantes vivam em prédios destinado à habitação familiar, como acontece atualmente.

«As necessidades dos estudantes universitários têm encontram melhor resposta noutras soluções que irão ser lançadas no mercado e que são as residências, sejam elas de cariz social e público, como as nossas, sejam elas privadas», acredita.

 

 

Paulo Águas

 

Há, de resto, muitos privados que têm pedido informações à UAlg sobre o número de alunos que esta tem e a ocupação das suas residências, «no sentido de avaliar a pertinência dos seus investimentos».

Mas a mudança não acontecerá de um momento para o outro. Atualmente, admite Paulo Águas, são precisas «muitas camas», muito por culpa da concorrência do alojamento turístico, que é cada vez mais notória.

Este é, de resto, um problema que afeta outras cidades, como Lisboa e Porto, onde muitas casas que antes estavam no mercado de arrendamento dito tradicional passaram a ser apenas destinadas a turistas.

Isto levou o Governo a lançar um programa de construção de residências universitárias, que também irá chegar ao Algarve.

«A 26 de Fevereiro deste ano, saiu um decreto-lei, relativamente ao Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior, e estão lá identificados dois edifícios em Faro. Um deles, a antiga Escola Superior de Saúde, anteriormente de Enfermagem, foi utilizada pela UAlg nos últimos 15 anos. Também está identificado outro imóvel, que foi usado pelo exército, o Palácio Guerreirinho, perto da Estação de Faro», lembrou Paulo Águas.

Segundo o reitor da UAlg, «o processo está em curso, mas é complexo e demorado. A antiga Escola Superior de Saúde não é propriedade da universidade. Neste momento, pertence à Direção-Geral do Tesouro e Património, que é quem se está a relacionar com a Fundiestamo [empresa instrumental do grupo Parpública], o fundo que irá conduzir este processo de transformação de um conjunto de edifícios pelo país fora em residências universitárias».

«Vamos aguardar, por um lado, pacientemente, e, por outro, com impaciência, pois queremos ver isso resolvido o mais depressa possível [risos]. Mas admito que ainda vai demorar algum tempo . Creio que, seguramente, daqui a um ano não estará ainda instalada a oferta, mas seria bom que ambos os edifícios estivessem transformados em residências dentro de dois anos», acrescentou o responsável máximo pela academia algarvia.

 

 

Atualmente, a Universidade do Algarve, através dos seus Serviços de Ação Social, já gere diversas residências estudantis, com cerca de 550 camas, no total. A maioria desta capacidade, entre 60 a 65%, é ocupada por alunos bolseiros, que têm prioridade.

Mas, no caso das unidades de alojamento que a Fundiestamo irá criar, a lógica será diferente.

«As obras serão financiadas com fundos da Segurança Social, que é dinheiro nosso, dos contribuintes, e tem de ser rentabilizado. No modelo, está subjacente uma taxa de remuneração. A Fundiestamo vai fazer um contrato com a Universidade do Algarve, que vai acolher estudantes e praticar preços acessíveis, ainda que não sejam os mesmos da ação social. Vão ficar abaixo dos preços de mercado e vão regulá-lo», explicou o reitor da universidade algarvia.

Com o valor que for cobrado, «temos de cobrir todas as despesas de funcionamento e de pagar à Fundiestamo uma determinada quantia, correspondente à remuneração do capital investido pela Segurança Social».

Quanto à cobiça de que é alvo o edifício onde funcionou, até 2018, a antiga Escola Superior de Saúde de Faro, que também está debaixo do olho da Polícia Judiciária, Paulo Águas diz não estar preocupado.

«Oficialmente, hoje, aquele edifício está afeto ao Plano Nacional de Alojamento do Ensino Superior. Se amanhã um decreto-lei o determinar, pode deixar de estar. Mas se isso vier a acontecer, julgo que haverá sempre uma solução alternativa e que os estudantes da UAlg não vão ser prejudicados», concluiu o reitor.

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