Terras sem Sombra leva «dois gigantes da música de câmara» a Santiago do Cacém

As atividades do Terras sem Sombra são de acesso livre

A Igreja Matriz de Santiago do Cacém, obra-prima da arte gótica, recebe no próximo sábado, 22 de Junho, às 21h30, um concerto-chave do Festival Terras sem Sombra, que leva ao Alentejo dois gigantes da música de câmara no panorama europeu: o violinista Pavel Burdych e a pianista Zuzana Beresova.

O embaixador da República Checa em Portugal Petr Šelepa vai presidir à iniciativa.

Em palco, estará um «programa consagrado aos grandes vultos da música checa, com peças de Smetana, Dvořák, Janáček, Suk e Martinů», garante a organização.

O Duo de Câmara Checoslovaco foi fundado, em 2004, na Academia de Música e Artes Performativas de Brno, pelo violinista checo Pavel Burdych e pela pianista eslovaca Zuzana Berešová. Tornou-se, desde cedo, um agrupamento muito apreciado pelo público e pela crítica internacionais, graças à sua harmonia, à sua expressiva musicalidade e ao seu alto profissionalismo.

Em 2008, com o Centro para a Música de Bratislava, efetuou uma série de recitais dedicados à obra do compositor eslovaco Eugen Suchoň, com itinerância por Praga, Bratislava e Roma. Em 2011, no 130.º aniversário de Mikuláš Schneider-Trnavský, deram a conhecer a obra deste criador eslovaco numa tournée pela Coreia do Sul e celebraram, com o público checo, o 170º aniversário de Dvořák.

O concerto de Santiago do Cacém, intitulado “Onde está a Minha Casa? Tradição e Vanguarda na Música Checa”, apresenta uma panorâmica deste património artístico, da época romântica aos inícios do século XX, através das obras de alguns dos seus vultos: Bedřich Smetana, Antonín Dvořák, Leoš Janáček, Josef Suk e Bohuslav Martinů.

 

 

Este espetáculo será antecedido, às 15h00, pela visita ao mais importante exemplo da arquitetura civil da região: o palácio da Carreira. Classificado como monumento de interesse público e propriedade da família Falcão e Silva, o edifício – uma residência privada – abre as suas portas, a título excecional, para acolher esta atividade orientada pelos arquitetos Lúcia Falcão Barbosa e José António Falcão.

Construído em finais do século XVIII por José Joaquim Sallema de Andrade Guerreiro de Aboim, último capitão-mor de Santiago do Cacém, este imóvel é um imponente exemplo da arquitetura senhorial do Alentejo, na época tardo-barroca, destacando-se tanto pelas dimensões, como pela exuberância decorativa das fachadas e interiores. A planta em U enquadra um jardim com um tanque ao centro, rodeado por canteiros de buxo e estátuas em mármore.

Se o gosto neoclássico marca já os vãos exteriores, atinge o auge no interior, que conserva um dos mais ricos acervos de azulejaria oitocentista do país. Somam-se a estes as pinturas murais revestindo paredes, lambris e tetos, que combinam o gosto ecléctico e a influência rococó – característicos do reinado de D. Maria I – com as composições neoclássicas, de inspiração pompeiana, e as cenas românticas.

Marco fundamental do património do litoral alentejano, este edifício mantém-se na posse de uma família e é um exemplo de conservação arquitetónica. Aqui viveu o arqueólogo João Gualberto da Cruz e Silva, fundador do Museu Municipal de Santiago do Cacém.

 

 

Domingo, dia 23, a partir das 9h30, o festival promove uma ação de salvaguarda da biodiversidade que tem como alvo o Sado, na freguesia de Ermidas. Explorar os segredos da maior bacia hidrográfica totalmente portuguesa é o desafio de uma iniciativa que une as suas duas margens, entre os distritos de Setúbal e Beja, revelando um rio praticamente desconhecido e que prima pela intimidade.

Nascido em S. Martinho das Amoreiras (Odemira), o Sado é o único grande rio português que segue a direção geral Sul-Norte, desaguando junto a Setúbal.

«Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado, / Mansa corrente deleitosa, amena», cantou Bocage. Tem um percurso aproximado de 180 quilómetros, 70 dos quais são navegáveis, até Porto do Rei (Alcácer do Sal). Outrora, um maior desimpedimento tornava-o a melhor via de acesso ao coração do Baixo Alentejo.

O Sado e a sua bacia hidrográfica constituem um notável repositório de biodiversidade. Esta ação revela um segmento pouco conhecido do rio, na freguesia de Ermidas, o Pego da Barca, onde a passagem entre as margens era feita numa barca e perduram ruínas de imponentes moinhos. A zona, interessante do ponto de vista geológico, destaca-se pela riqueza da flora e da fauna.

Dirigem esta iniciativa o geólogo da Universidade de Évora Carlos Cupeto, o engenheiro agrónomo Ilídio Martins, o fotógrafo de natureza Dinis Cortes e o técnico de museologia José Matias.

As atividades do Terras sem Sombra são de acesso livre e resultam da parceria com o Município de Santiago do Cacém, o Centro UNESCO de Arquitetura, a Embaixada da República Checa, a Associação de Regantes de Campilhas e a Junta de Freguesia de Ermidas-Sado.

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