Os terraços da Fábrica da Cerveja, do edifício da Região de Turismo do Algarve, da Ermida de Santo António do Alto ou do Mercado Municipal de Faro são alguns dos 24 espaços que vão poder ser visitados durante o festival Açoteia, que decorre nos dias 21 e 22 de Junho, em Faro. Mas além da vista, que já é um apelativo forte, haverá música, workshops, exposições, performances, teatro e até cinema. Tudo isto, a uns bons metros do chão.
Paulo Santos, vice-presidente da Câmara de Faro, em conversa com o Sul Informação, realça que «este é um evento pioneiro em Portugal que vai abordar 3 grandes vertentes: a arte, a sustentabilidade e a comunidade».
Ao longo dos anos, as açoteias foram perdendo importância na vida dos algarvios, mas este festival propõe um novo olhar sobre estes espaços. «As açoteias têm um grande significado para os algarvios. Já foram um espaço de grande atividade nas suas casas. Eram espaços onde se secava os frutos secos, se recolhia água para cisternas e se secava a roupa. As açoteias sempre estiveram ligadas às tradições do Algarve, mas com as novas vivências e com os prédios, passaram a ser sítios sem acesso, ou onde se mete algo que não se quer visível, como os aparelhos de ar condicionado».
No entanto, «no final do ano passado, percebemos que as açoteias podiam ter nova lógica, numa visão de sustentabilidade, e que podem ser aproveitadas como locais que dão uma visão diferente da cidade, de cima para baixo, com vistas largas e arejadas».
Esta perceção levou a autarquia a procurar cidades europeias que já faziam utilização dos seus “rooftops” e estas encontraram-se em Faro, em Fevereiro. «Quando convidámos as cidades a vir a Faro partilhar as suas experiências, aconteceram coisas interessantes: por exemplo, Amsterdão e Roterdão que são duas cidades holandesas não estavam a colaborar entre elas e não tinham conhecimento das dinâmicas uma da outra. E esse foi o primeiro encontro internacional que fez aproximar um conjunto de cidades, com as quais estamos a trabalhar».
Devido a este papel agregador da cidade de Faro, Paulo Santos revela que «nos Rooftop Days, uma conferência que aconteceu em Roterdão, no âmbito do Festival de Rooftops da cidade, a capital algarvia foi apelidada de «Rooftop Heroes, por termos juntado estas cidades que já estavam a trabalhar nesta temática, sem saberem o que se passava ao lado e sem trabalhar em rede».
Sobre o festival farense, Paulo Santos revela que «vamos ter 24 açoteias abertas ao público. Algumas já estão abertas diariamente: o Hotel Faro, o Hotel Eva, o Lab Terrace e o Alameda. São espaços comercias que já existem e usam as suas açoteias. Mas juntaremos espaços que normalmente não estão abertos ao público e vão abrir propositadamente para o Açoteia».
Nas açoteias, haverá atividades para todos os gostos «envolvendo a comunidade local. Vamos ter, desde cinema, numa açoteia, a cargo do Cineclube de Faro, danças de época, promovidas pelo Clube de Dança da Escola João de Deus, e a biblioteca transferirá alguma da sua atividade para o seu terraço, em parceria com o Ginásio Clube de Faro». Haverá ainda uma aula de ioga na antiga Escola Superior de Saúde, os Concertos ao Entardecer, da ArQuente, vão integrar a programação e a Amarelarte também “sobe” ao Açoteia, com um espaço para crianças.
Também o LUZA, que se vai mudar para Faro, em Novembro, vai marcar presença no Açoteia. «Haverá um espaço dedicado ao LUZA, com uma instalação de luz, na Fábrica da Cerveja».
No mesmo espaço, haverá a exposição Mar Motto, promovida pela Sciaena, e, no terraço da ANJE, estará a Associação de Blues do Algarve, com uma performance que envolve Jazz e Blues.
Em relação a espetáculos musicais, ainda não são conhecidos todos os nomes, mas Paulo Santos revela que «vamos ter nomes nacionais, não com grandes concertos e produções – porque quase todos os espaços serão limitados em termos de pessoas e condições técnicas -, mas com concertos intimistas. Também os artistas regionais vão apresentar-se da mesma forma».
Alguns destes artistas, «vão dar vários concertos, repetindo as suas atuações ao longo do festival, em espaços surpresa. O público saberá que o artista tocará em determinado dia, mas não saberá onde. Quem adquirir o ingresso para o festival, pode circular pelas 24 açoteias, havendo essa programação surpresa. Os espaços estarão limitados à sua lotação específica, uma vez que tanto temos espaços que permitem ter 20 pessoas, como outros que podem receber 500».
A informação sobre os locais dos espetáculos «será disponibilizada online. Os espaços serão todos na cidade, por uma questão de mobilidade. O objetivo é que as pessoas possam percorrer os vários locais».
Ainda, em parceria com Terrazas de Cultura, o Festival de Rooftops de Barcelona, foi lançado o «desafio de colocarmos um artista nosso, de Faro, o Galopim, a trabalhar em conjunto com o Pau Alabajos, de Barcelona, para criarem uma produção exclusiva para o Açoteia. Depois, o Galopim atuará em Barcelona, em finais de Julho».
O resultado desta parceria luso-espanhola poderá ser visto no Terrace Lab, no topo do Centro Ciência Viva de Faro.
Um dos atrativos do Açoteia será o edifício da RTA que tem «uma vista fantástica sobre a cidade e a Ria e que, pela primeira vez, terá a sua açoteia aberta ao público. Será uma possibilidade para contemplar a cidade, sendo que também aqui haverá programação cultural».
A Ermida de Santo António do Alto, cujo resultado das obras será inaugurado no dia 13 de Junho, dia de Santo António, também fará parte do Açoteia, recebendo «experiências muito centradas nas tradições», tal como a açoteia do Arco da Vila, que terá fado.
Uma das provas de que o Açoteia não é apenas um evento cultural, mas que também quer promover a sustentabilidade, é o Mercado Municipal de Faro. «Será criada uma horta urbana, em parceria com a Ambifaro e a AAPACDM, com cerca de 600 metros quadrados», adianta Paulo Santos.
Este espaço, que vai ser inaugurado durante o festival, vai manter-se para o futuro. «Será um espaço para dar formação aos alunos da associação, um espaço de formação profissional. Simultaneamente, os produtos produzidos serão alocados à cantina social da AAPACDM e a cabazes sociais para distribuir pela população. Depois, serão dinamizados workshops para famílias, e atividades de educação ambiental para escolas. O objetivo é que as famílias possam usar esta experiência para replicá-la nas próprias açoteias e varandas».
O vice-presidente da Câmara de Faro reforça que «este não é um festival de música e festa. Terá essa componente, mas queremos despertar consciências para as problemáticas das alterações climáticas, a sustentabilidade e novas formas de viver a cidade».
Tal como acontece em outros festivais de rooftops na Europa, também em Faro, haverá uma conferência internacional sobre o tema. «Vamos ter o presidente da Federação Internacional de Rooftops, palestrantes internacionais e locais, que vão passar esta nova visão para as cidades». Este evento vai decorrer no hostel Casa d’Alagoa, claro está, numa açoteia.
Depois de dois dias a ver a cidade de cima para baixo, o Açoteia vai terminar “em profundidade”, com uma festa no piso -2 do Mercado Municipal de Faro
O festival vai realizar-se entre as 17h00 e as 23h00. Os ingressos custam 5 euros por dia e garantem acesso às 24 açoteias.
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