Há intenção de criar santuários para cavalos-marinhos na Ria Formosa

Espécie está em decréscimo devido a factores como a pesca, o tráfego de embarcações ou as alterações climáticas

Está «em fase de planeamento», mas há mesmo intenções de avançar com a criação de santuários para proteção dos cavalos-marinhos na Ria Formosa. A espécie tem sido dizimada (houve, desde 2001, uma redução de 90%) pelo que é «absolutamente essencial» preservá-la.  

Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, visitou, esta terça-feira, 4 de Junho, o Centro do Ramalhete, em Faro, gerido pelo Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (UAlg), onde revelou esse desejo de criar santuários marinhos.

«É exatamente essa a nossa intenção. A criação de santuários de cavalos-marinhos é uma razão para termos vindo cá, contactar com os investigadores para absorver a informação que é necessária para fazer esse planeamento», começou por dizer aos jornalistas.

«Estamos neste momento em fase de aprovação, em Conselho de Ministros, do Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo. Estamos também a começar a conceber os Planos para as Áreas Marinhas Protegidas e, em concertação com isso, queremos ter aqui santuários de cavalos-marinhos», explicou.

«Nem todas as áreas marinhas protegidas precisam do mesmo nível de interdição e nem todas conseguem absorver o mesmo tipo de solução. Por isso, é importante que, em paralelo e em conjunto com as áreas marinhas protegidas, façamos este tipo de projetos de instalação de habitats», acrescentou a governante.

 

Cavalos-marinhos criados em cativeiro

 

E como vão funcionar estes santuários? A ideia é que se espalhem por várias zonas da Ria Formosa, existindo, em algumas, restrições totais à pesca, como explicou, ao Sul Informação, Jorge Palma, um dos investigadores do CCMar.

Em conjunto com Miguel Correia, são eles que têm trabalhado, mais de perto, estas questões dos cavalos-marinhos. Ali, no Centro do Ramalhete, funciona, desde 2007, um projeto inovador de reprodução da espécie em cativeiro, com taxas de sucesso entre os 60 e os 70%.

Atualmente, são 400 a 500 os cavalos-marinhos lá existentes e que receberam, hoje, a visita especial da ministra do Mar.

Desde o início do projeto, nenhum dos cavalos-marinhos foi introduzido no habitat natural e o repovoamento não está, para já, nos planos.

«O que queremos é garantir que há condições para os cavalos-marinhos subsistirem na ria e estudar se os números estão mesmo tão baixos para que seja necessário o repovoamento», explicou Miguel Correia aos jornalistas.

Certo é que a espécie está em decréscimo devido a fatores como a pesca, o tráfego de embarcações ou as alterações climáticas.

Os números não são exatos, mas as estimativas apontam para uma redução de 2 milhões, em 2001, para perto de 100 mil no ano passado. «O estado atual em que estamos, com pesca ilegal e outros fatores de pressão, pode levar a que todos sejam dizimados», lamentou o investigador.

 

 

Por isso, a ideia de criar santuários surge, «sobretudo, para preservar o habitat», criando «espaços onde podem estar sem ter os fatores de pressão».

«Obviamente tem de se criar os mecanismos necessários para não haver pesca ilegal, tem que haver ações de fiscalização acentuadas. Se criarmos condições para evitar fatores de pressão, pode ser que possamos, pelo menos, contribuir para que haja a recuperação das habitações e estamos também, assim, a criar condições para que as pradarias marinhas cresçam», concluiu Miguel Correia.

 

Fotos: Rodrigo Damasceno | Sul Informação

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