Um vento forte está a chegar!

Precisamos de mais Papas Franciscos, que, neste momento, parece ser o único líder mundial que defende o bem-comum e uma vida saudável

Dizem os sábios que o processo histórico é um eterno retorno. E sentimos, por vezes, que a realidade tende a confirmar “as verdades” dos sábios.

Há 100 anos, saímos de uma guerra que, para além de uma mortandade imemoriável, deixou feridas incuráveis nos grandes países da Europa. Tão incuráveis que, utilizando a infestação provocada pelas várias ideologias extremistas, passados 20 anos brotaram com força duas bombas atómicas.

E parece que foi há tanto tempo, mas passaram somente 100 desde esse momento em que pensamentos radicais levaram à morte, à miséria, à separação de milhões de europeus durante décadas.

São essas mesmas ideologias extremistas, com a mesma mensagem só que embrulhada em outdoors coloridos e cómicos, revelada em vídeos atrativos e dialogantes através das redes sociais mais usadas pelos jovens, muito comunicantes e próximas, que querem voltar a configurar e controlar o mundo. A mesma demagogia presente em ideais que levam à guerra, à separação, à luta e, se preciso for, à mortandade e à opressão.

Agora, porém, não temos democratas com sentido de humor e hábeis como Churchill ou astutos como Roosevelt. Temos países como a Áustria, a Hungria e mais recentemente a Itália, que, em eleições democráticas, viram a sua população, cansada de líderes corruptos, eleger dirigentes demagógicos, autoritários, que têm governos de extrema-direita, com os quais não há lugar e espaço para quem não pensa de igual maneira e, sobretudo, não há lugar para quem não é da sua “raça”.

Temos um presidente nos Estados Unidos da América que falsifica notícias para acusar os outros de falsearem notícias sobre ele.

E próximo de nós? Aqui ao lado, temos uma Espanha dividida entre autonomias e independências, com um governo fragilizado, que provavelmente “vende a alma ao diabo” da extrema-esquerda do “Podemos”, para combater o diabo da extrema-direita do “Vox”.

E, em Portugal, temos um tal André Ventura, que primeiro dizia “chega”, e agora diz “basta”, mas que, quando abre a boca, limita-se a revelar o excremento ideológico e de personalidade que habita dentro dele.

Todavia, neste momento é o movimento que gera mais doações monetárias, nas sempre nada mediáticas eleições europeias.

E, no meio disto tudo, assistimos a uma possível demissão do governo por causa de querelas partidárias mascaradas por interesses de grupos profissionais fragilizados, numa pseudocrise para televisões verem e filmarem, que só ajuda à promoção desse caldo excremento-ideológico.

E isto para já não falar de casmurros Maduros e temerários Guaidós, ou de outros que tais, que em continentes diferentes, geram ondas de migração promovidas pela fome, pela insegurança, pelo medo, como não se imaginava ver no século XXI…

Sabem? Precisamos de mais Papas Franciscos, que, neste momento, parece ser o único líder mundial que defende o bem-comum e uma vida saudável, que defende a dignidade do ser humano e a saúde do planeta e fala com clareza, para que isso se oiça.

Francisco dizia, na sua mensagem do “Dia Mundial da Paz” de 2019: «Como sabemos, a busca do poder a todo o custo leva a abusos e injustiças. A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição».

E prosseguia, citando outro Papa, São Paulo VI: «tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade».

Palavras como responsabilidade, serviço, proteção, respeito pela vida, liberdade e dignidade das pessoas estão sempre presentes no seu discurso, como atributos que devem ser intrínsecos a qualquer político e à sua atividade, pois só desse modo, para Francisco, eles conseguirão «trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo».

Este deveria ser o vendaval que agitaria as nossas vidas e as nossas consciências, um vento promissor e sorridente, que trouxesse consigo a Primavera…

Ao invés, parece estar para breve a chegada de um vento forte, mas carregado, que gira como um tornado escuro e destruidor. E que fazemos nós, todos nós?… Por acaso acreditamos que a nossa força individual e as nossas convicções podem ser geradoras de mudança, ou temos medo e estamos de braços cruzados, de bocas silenciosas e deixamos que tudo aconteça, porque tudo é inevitável??

A verdade (ensina-nos a História e justifica-nos – aos crentes – a Fé) é que as grandes mudanças começaram com vozes individuais, mas muito corajosas e firmes, que souberam encher de luz e de capacidade de acreditar todos os que, de boa consciência e bom coração, quiseram trabalhar para a mudança: Martin Luther King Jr., Mahatma Ghandi, Nelson Mandela…

E todas as vozes individuais juntas são verdadeiramente poder, um poder para o bem e do bem.

É dessa esperança que precisamos, mas também só nós a podemos construir e eu quero acreditar que somos capazes. Porque Só na lua não há vento.

 

Autor: O Padre Miguel Neto é diretor do Gabinete de Informação e da Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve, bem como pároco de Tavira.

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