UAlg vai ter Polo Tecnológico assente em «estratégia e confiança»

Relações entre a universidade e as empresas nunca foram tão boas, garantiu João Guerreiro

Será o Algarve Tech Hub, mas também o Centro de Simulação Clínica e o projeto de transição energética que já está em curso na Ilha da Culatra. O Polo Tecnológico do Algarve foi apresentado este sábado, em Faro, e terá como palavras chave «estratégia e confiança» entre os parceiros públicos e privados da iniciativa.

Quem o garante é João Guerreiro, coordenador científico do CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve, antigo reitor da academia algarvia e principal impulsionador deste projeto, que o apresentou na cerimónia de apresentação do projeto e de formalização do apoio financeiro que a União Europeia vai dar para a instalação desta nova valência.

A cerimónia, que contou com a presença de Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e de Maria do Céu Albuquerque, secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, serviu ainda para a assinatura de memorandos de entendimento com empresas e entidades do ecossistema das tecnologias de informação.

«O Polo Tecnológico, da forma como foi concebido inicialmente, tem três áreas chave, que são as tecnologias de informação, a saúde e a energia. A candidatura que foi hoje aqui formalizada abrange as duas primeiras vertentes», explicou João Guerreiro aos jornalistas, à margem da sessão.

A candidatura em causa foi feita ao CRESC Algarve 2020 e tem um valor global de quase 5,5 milhões de euros. Destes, 70% serão garantidos pela União Europeia.

A parte que cabe à universidade e às demais entidades envolvidas no Polo Tecnológico é de cerca de 1,6 milhões de euros. «Mas a universidade coloca esse dinheiro em serviços, nomeadamente com parte dos salários do grupo que foi mobilizado para este projeto, que é numeroso, entre administrativos, técnicos, investigadores e professores».

 

João Guerreiro

A fatia de leão, os 3,8 milhões que serão garantidos pela UE, servirá, em grande medida, para reconverter e equipar dois edifícios, um na Penha, destinado às tecnologias de informação, e outro nas Gambelas, destinado à saúde.

No campus de Gambelas, o 4º piso do edifício onde está instalado o Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da UAlg, vai ser reconvertido e passará a contar com «equipamentos que são muito caros», cuja utilização será disponibilizada a «empresas que trabalham nas áreas das ciências biomédicas».

«Funcionará, em grande medida, como uma infraestrutura que pode conciliar as equipas de investigação da UAlg com pequenos grupos de investigação externos, ligados a empresas», explicou João Guerreiro.

Na penha, a infraestrutura destinada às tecnologias de investigação servirá, essencialmente, para acolher empresas desta área.

«Não se trata de uma ação imobiliária, de alugar espaços, é uma integração do que são as atividades dessas empresas com as da universidade – na promoção, na formação avançada, na criação de projetos conjuntos, no fomento de estágios profissionais dentro das próprias empresas e no fomento do núcleo para o exterior», segundo o antigo reitor da UAlg.

 

 

«É conhecido que a maior parte desta empresas têm uma faturação substancial com o mundo. muitas delas têm 80% da sua faturação com países como a Índia, a China e os Estados Unidos da América. E o que nos interessa é que isso seja refletido na vida quotidiana da UAlg e que a formação que aqui se possa oferecer seja contaminada por esse ambiente de relacionamento externo que as empresas têm», acrescentou o também professor catedrático da universidade algarvia.

A criação do polo poderá, igualmente, ajudar a atenuar a dificuldade em atrair mão-de-obra qualificada. A ideia é que o Algrave Tech Hub seja «uma plataforma de atração de gente externa, que anda por esse mundo fora. São bem conhecidos, hoje em dia, os nómadas digitais, gente com formação de excelência que anda à procura dos melhores sítios para viver».

Estes profissionais altamente qualificados procuram regiões «têm um clima interessante, boas acessibilidades, proximidade em relação a uma série de atividades culturais e desportivas, entre outras. O Algarve é uma região ótima para proporcionar as condições de vida que essas pessoas procuram».

Manuel Heitor, por seu lado, salientou a importância e relevância do projeto para o Algarve, mas também para o país.

«Estamos aqui a fazer o futuro. E, certamente, este será com os campus e instalações universitárias também com espaços de co-localização das empresas. Portanto, transformar o Campus da Penha num espaço de inovação aberto às empresas e onde estas partilham o espaço com os professores e estudantes do Ensino Superior é o futuro», disse o membro do Governo.

«É particularmente simbólico o Algarve Tech Hub nascer no campus de um instituto politécnico. Isto é o que devia estar a acontecer em todo o país, apesar de já termos outras experiências. Isto vai transformar não apenas este polo da UAlg mas também a relação do Campus da Penha com a cidade de Faro», acrescentou.

 

 

A renovada ligação com a cidade que acolhe os dois campi de maiores dimensões da UAlg também foi salientada pelo reitor da instituição Paulo Águas. «O Algarve Tech Hub será um instrumento decisivo para aprofundar a 3ª missão das instituições de ensino superior – a interação com a sociedade -, tendo por base a investigação e o ensino.

Para o responsável máximo pela academia algarvia, esta valência «irá contribuir para a criação de riqueza, para o aumento do emprego qualificado, para a diversificação do tecido económico regional, para a inovação pedagógica e para a criação de conhecimento».

Quanto aos muitos anos que demoraram desde a ideia original de criar um Polo Tecnológico da UAlg, Manuel Heitor considera que tudo decorreu de forma normal.

«O Almada Negreiros dizia que “a ciência requer um tempo que cada um de nós não dispõe”. As políticas de ciência são de paciência. Agora, há obras para fazer e coisas a acontecer, mas o caminho que foi percorrido até aqui é de validação e crescente reconhecimento da universidade. Penso que nada podia ser melhor para comemorar os 40 anos da universidade do que ter este projeto e abrir o Campus da Penha às empresas e à cidade», acredita o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Já João Guerreiro assegura que as empresas «estão numa fase de enorme convergência» com a UAlg. «Não foi fácil. Nós demorámos aqui uma data de anos a namorar as empresas. Mas fomos fazendo projetos em conjunto e utilizámos instrumentos que a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Algarve coloca à nossa disposição, de tal forma que hoje em dia temos um ambiente de confiança propício a que possamos caminhar em conjunto na consolidação deste Polo Tecnológico», explicou.

Durante a apresentação do projeto, o antigo reitor da UAlg antecipou que no Algarve Tech Hub venham a trabalhar, em simultâneo, «300 a 350 engenheiros e programadores», enquanto no Centro de Valorização e Transferência de Conhecimento, ou Centro de Simulação Clínica, irão trabalhar «50 a 80 investigadores».

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