Autocaravanismo de natureza

Há uma oportunidade de negócio ainda não explorada

Algarve, o publicitado “segredo mais famoso da Europa”. Como qualquer território, o Algarve é feito das suas gentes: os que nele habitam e aqueles que por ele passam.

Neste último grupo, muitos são aqueles que procuram o sol e o mar durante a conhecida época alta, associada ao Verão – faz parte da história recente ser destino turístico de excelência.

Mas, também há, cada vez mais, quem o procure nas épocas mais amenas: turismo desporto (associado à prática do golfe), turismo de saúde, turismo de natureza e autocaravanismo.

Estes dois últimos são aliados a destacar no equilíbrio da procura turística, reduzindo os impactos da sazonalidade (Inverno vs. Verão).

O Turismo de Natureza, por ser uma atividade económica de valor acrescentado para os territórios, assume-se como variável determinante para a redução das assimetrias litoral-interior.

Tratando-se de um território onde existem áreas protegidas, áreas classificadas e áreas florestais, o Algarve é a matéria-prima deste turismo de experiências, onde o desafio dos animadores turísticos passa por utilizar, de forma consciente e sustentável, o património da fauna e da flora locais, aliado ao conhecimento partilhado pela população que escreve a história de cada local.

Enquanto especialistas do território, os animadores turísticos juntam sinergias para dinamizar e promover as suas atividades além-fronteiras.

Exemplo disso é o Algarve Walking Season (AWS), calendário de eventos de caminhada que se distribuem do Sotavento ao Barlavento e ao longo das estações do ano, que resulta da persistência dos agentes económicos (nomeadamente do promotor, a Cooperativa QRER) com o apoio de municípios e da Região de Turismo do Algarve (RTA).

Um dos desafios que os operadores turísticos associados ao turismo de natureza enfrentam é o da falta de alojamento. Os espaços de proximidade licenciados para o efeito são poucos e com pouca capacidade para albergar os participantes destes eventos.

É deste ponto fraco que nasce a oportunidade do autocaravanismo.

Apesar de carecerem de licenciamento específico, as áreas de serviço de autocaravanas e o aluguer de autocaravanas para aqueles que chegam ao Algarve sem a sua “casa sobre rodas” são uma das respostas possíveis para esta necessidade.

Ao longo da última década, a CCDR-Algarve tem acompanhado no terreno esta atividade, promovendo, junto dos agentes económicos públicos e privados, a necessidade de dotar o Algarve das infraestruturas necessárias para minimizar os impactos do “autocaravanismo selvagem”.

Assim, nasce a Rede de Acolhimento ao Autocaravanismo na Região do Algarve (RAARA). Constituída em 2014, é uma sinergia entre entidades públicas e privadas, que resulta da perceção de entidades com ação local, como é o caso da CCDR-Algarve, RTA, AMAL e ATA, para a necessidade de ordenamento desta atividade turística em franco crescimento na última década.

As primeiras iniciativas efetivas resultaram da reação dos municípios, como é o caso de Vila Real de Santo António, com a abertura de duas Áreas de Serviço para Autocaravanas – Muralha e Manta Rota. Mas, nos últimos anos, entidades privadas, com e sem fins lucrativos, perceberam a oportunidade económica que o autocaravanismo representa.

A RAARA começou com 12 membros e conta agora com 29 espaços com capacidade para acolhimento de autocaravanistas, muitos de natureza privada, mas poucos nos territórios do interior (coincidentemente, territórios de baixa densidade).

Nestes espaços, incluem-se os Parques de Campismo e de Caravanismo (PCC), Parques de Campismo Rural (PCR) e Áreas de Serviço para Autocaravanas (ASA), todos eles infraestruturados e equipados para o acolhimento de autocaravanas de acordo com os requisitos legais, estando autorizada a estadia e a pernoita.

Considerando que o autocaravanista procura o Algarve entre os meses de Outubro e Maio, calendário coincidente com a época de maior procura do turismo de natureza, não estamos perante uma coincidência, mas sim perante uma oportunidade de negócio.

Assim, no publicitado “segredo mais famoso da Europa”, mais do que segredos por revelar, existem oportunidades à espera de empreendedores que queiram fazer uma proposta de valor diferenciadora e consciente, onde o desafio passa por cumprir as premissas do turismo de natureza, nomeadamente a sustentabilidade ambiental.

 

Quem é Marlene Martins?
Marlene Martins, algarvia orgulhosa e membro da Ordem dos Economistas, é licenciada em Gestão de Empresas e Mestre em Finanças Empresariais pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.
Atualmente, exerce as funções de consultoria na X4DEV Business Solutions SA, uma empresa especializada em soluções tecnológicas.

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

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