Alunos de Loulé mostram que são “artistas” da mecatrónica

Alunos finalistas do curso de Manutenção Industrial – variante de Mecatrónica Automóvel da Escola Secundária de Loulé mostraram trabalhos «ambiciosos»

Fazem com motores de automóveis coisas que poucos jovens da sua idade conseguem fazer e é com orgulho que mostram o resultado. Os alunos de Manutenção Industrial – variante de Mecatrónica Automóvel da Escola Secundária de Loulé (ESL) apresentaram os seus trabalhos de final de curso, alguns dos quais «muito ambiciosos a nível educacional e técnico».

O Sul Informação esteve em Loulé para ver ao vivo as máquinas criadas por estes alunos e assistir às suas Provas de Aptidão Profissional. E havia um pouco de tudo, incluindo um motor que foi adaptado para poder trabalhar com óleo vegetal recuperado da cantina da escola.

«Temos aqui projetos extremamente arrojados. Eu até ousaria dizer que grande parte dos projetos, principalmente os que envolvem a gestão do motor programável, são de um nível de conhecimentos muito superior ao nível 4 [12º ano]. Em alguns casos, se calhar estamos a falar de projetos ao nível de um politécnico», considerou Nelson Palma, um dos professores da área técnica deste curso.

Entre eles, destaca-se o aumento «da performance de uma viatura da marca FIAT, recorrendo à alteração do sistema de ignição. Foi substituído todo o sistema de ignição por platinado (década de 70) por um sistema de ignição por faísca perdida 100% programável pelo utilizador».

Noutro projeto, aplicou-se «uma gestão de motor eletrónica 100% programável pelo utilizador, num motor V6 da marca Ford, com o intuito de aumentar a sua performance mecânica».

 

Nelson Palma

 

Outro trabalho que merece bem o epíteto de ambicioso foi o de conversão de uma viatura diesel da marca FIAT, «de modo a poder ser utilizado óleo vegetal como combustível alternativo ao diesel, de forma eficiente e amiga do ambiente».

«Para tal, foi criada uma estação de lavagem de óleo vegetal em final de ciclo de utilização na indústria alimentar, implementado um sistema de aquecimento do óleo vegetal enquanto combustível utilizado e aplicada uma gestão eletrónica (microcontrolador Arduino) de modo a gerir de forma 100% autónoma a queima dos dois combustíveis no motor, em função das suas condições de trabalho – temperatura motor, temperatura gasóleo, nível dos vários fluidos, entre outros», descreveu ao Sul Informação Nelson Palma.

«Este é um dia muito importante para os nossos alunos, porque é o culminar de muitas horas de trabalho, de muito tempo não só de aula, mas também fora do período escolar. No segundo período, os alunos saiam daqui perto das 19h30, duas a três vezes por semana. Ou seja, muito para lá do horário de saída», salientou o professor.

Estes trabalhos foram realizados pelos nove alunos do 12ºZm da ESL. Em três deles foi utilizada uma centralina programável, que custou cerca de mil euros.

Este equipamento está a ser usado em três projetos distintos, «o que leva a que tenhamos de mudar constantemente a programação e a carregar diferentes ficheiros».

 

 

Tudo isto obrigou a que se tivessem de alterar motores e o seu desempenho. «Tínhamos algum receio de fomentar este tipo de projetos que envolvem alterações de performance mecânicas, mas chegámos à conclusão que é benéfico usar esta técnica de apagar o fogo com o fogo», segundo o professor.

«Ou seja: sim senhor, vamos alterar e tentar ir buscar mais potência. Mas vamos fazê-lo com disciplina, em ambiente controlado e com seriedade. Divertimo-nos em recinto fechado, mas na estrada fazemos por cumprir o código e zelar pela segurança das pessoas», disse Nelson Palma.

Até porque esta tem demonstrado ser uma forma eficaz de passar os conhecimentos teóricos associados às técnicas que são ensinadas aos alunos.

«Passa a ser mais apetecível. Os alunos bebem mais  conhecimento teórico, saem fora daquela monotonia de estar apenas a assistir. Sendo um curso profissional, a ideia é que haja uma forte componente prática. Mas não podemos praticar algo se não soubermos a teoria que está por trás», disse.

 

 

Certo é que não tem faltado emprego para os alunos que saem da ESL. «O curso tem 100% de empregabilidade. Eu não tenho receio de dizer que, na mecânica, o futuro está garantido. Mais fossem e mais ficariam empregados, até porque existe uma grande sede no mercado no que respeita a gente nova e com uma boa bagagem técnica».

«Temos alunos que finalizaram o curso há cerca de cinco ou seis anos, que neste momento já gerem oficinas. Em pouco anos progrediram muito rápido na carreira, o que é muito gratificante para nós», assegurou o professor da ESL.

Outro motivo de orgulho para os professores do curso é ver alunos seus a procurarem levar mais longe os seus estudos.

Os jovens que se inscrevem no curso desejam aprender uma profissão, para começar a trabalhar. Afinal esta é uma formação que, além de equivalência ao 12º ano, dá «uma certificação profissional de nível 4».

Mas também há alunos que progridem  para especialização tecnológica, no Campus da Penha da Universidade do Algarve, em Faro, que, «depois de fazerem Cursos Técnicos Superiores Profissionais (TeSP), têm entrada em engenharia mecânica».

«Os nossos alunos que frequentaram esse tipo de cursos dizem-nos que estão muito bem preparados ao nível técnico, mas têm alguma dificuldade com a matemática – que hoje em dia é o calcanhar de Aquiles da maioria dos alunos -, bem como com disciplinas de física e de álgebra. Mas têm conseguido dar a volta e há alguns que já estão no segundo ano do curso e com o objetivo de se tornar engenheiros», disse Nelson Palma.

Noutros casos, «o nível de motivação foi tão elevado que seguiram Engenharia Automóvel em Leiria. Estamos a falar de dois miúdos com 17 anos, que acabaram o curso profissional e tiveram de realizar os exames de Português e Matemática para conseguirem candidatar-se ao Ensino Superior».

 

 

Este ano, há um aluno que pretende seguir Engenharia Automóvel em Leiria. «Já está a estudar para poder realizar o exame nacional, pois, sendo nós um curso profissional, a matemática e o português não são iguais aos do científico-humanístico. Tem de trabalhar um pouco mais para se sair bem no exame nacional».

«Também temos três alunos que querem seguir o TEsP aqui em Faro. E isto numa turma com nove alunos!», argumentou o professor da Secundária de Loulé.

O curso de Mecatrónica Automóvel da ESL conta com quatro professores da área técnica, todos de Engenharia Mecânica. «Dois de nós, eu e o Sérgio Bárbara, no campo da Engenharia Automóvel, dedicada exclusivamente às viaturas.  Os outros dois docentes, Joaquim Guerreiro e João Duarte, dão mecânica de estruturas e metalomecânica», concluiu Nelson Palma.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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