Quem quer ajudar Tatiana a fazer a sua grande travessia a 30 metros de altura?

Já estão à venda os bilhetes para o espetáculo «Traversée», no Domingo de Páscoa, às 16h30, num vale perto da Praia da Amoreira

Ateliê da CieBasinga – Foto: ©João Mariano

Tatiana-Mosio Bongonga vai atravessar 150 metros de um arame colocado a 30 metros de altura, num vale perto da Praia da Amoreira, no litoral de Aljezur, no coração do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, e isso é, para ela, «normal».

«É apenas um ofício, é o que aprendi a fazer», disse Tatiana ao Sul Informação, como se andar num fio esticado lá no alto, a 30 metros do solo, fosse uma coisa que qualquer um de nós pode fazer, no seu dia a dia. É claro que, admitiu, «é o treino que nos permite fazer este tipo de coisas». Mas, insistiu, «não me sinto corajosa por fazer isto, é o meu ofício».

O ofício a que Tatiana-Mosio Bongonga se refere é o do funambulismo, essa arte de atravessar um fio esticado a dezenas de metros do solo, procurando o equilíbrio a cada passo, só com a ajuda de uma longa vara. É uma das habilidades mais antigas de circo, mas, neste caso, o trabalho de Tatiana e da sua Companhia Basinga vai muito além disso.

No Domingo de Páscoa, às 16h30, a culminar uma residência criativa, com oficinas participativas abertas à comunidade, que começou com uma semana em Março e agora duas semanas em Abril, Tatiana e a sua Cie. Basinga vão apresentar «Traversée», espetáculo de circo contemporâneo, com funambulismo, música ao vivo e uma travessia na paisagem.

Mas, para isso, muita gente local tem estado a participar e muitas mais pessoas são convidadas a envolver-se agora no projeto. É que estão a decorrer ateliês abertos, de funambulismo, música, figurinos e cavalettistes, tanto em Aljezur, como em Monchique (ver horários e datas abaixo).

 

Tatiana-Mosio Bongonga num dos ateliês, com Giacomo Scalisi – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

O ateliê de Funambulismo é apresentado como uma «oportunidade única para aprender a caminhar sobre um fio».

«Andar no arame requer coragem, confiança em si próprio e capacidade de atravessar o medo. Pensar que o chão que conhecemos encolheu muito e que, apesar disso, continua a ser um chão que nos permite uma passagem. A nossa passagem pela vida», explicam os promotores.

Este laboratório criativo tem também o propósito de descobrir pessoas que queiram participar na «Traversée», o espetáculo de funambulismo e música ao vivo na paisagem da companhia francesa Basinga. Está aberto a todas as pessoas, de ambos os sexos e de todas as idades, a partir dos 5/6 anos, «interessados em aventurar-se nos caminhos do ar».

Para construir um «chão sonoro» para a tal travessia, são necessários músicos. Por isso, há igualmente outro ateliê aberto a todos os músicos que toquem instrumentos de sopro, interessados em integrar uma banda criada especialmente para o espetáculo, composta por músicos da companhia francesa Basinga e músicos profissionais e amadores da região do Algarve e Costa Vicentina.

Mas, porque todos os espetáculos precisam de roupa apropriada, feita com muita imaginação e também com «bordados, costura, crochet, bricolage», há ainda a oficina participativa de Figurino, que está aberta a todas as pessoas de ambos os sexos e de todas as idades interessadas em criar e confecionar os figurinos de «Traversée».

 

Ateliê de Figurino – Foto: Lavrar o Mar

 

E finalmente há o ateliê de cavalettistes. E o que é isto? São as pessoas que seguram os cavaletti, os cabos que sustentam o arame principal. Quem quiser ter esta experiência e assim ajudar a funambulista Tatiana-Mosio Bongonga a percorrer o fio com 150 metros de comprimento, só tem que participar nesta oficina.

Como explicam os responsáveis pelo projeto Lavrar o Mar e pela Companhia Basinga, é uma «oportunidade muito especial e única de cumplicidade com esta artista, que deposita toda a sua confiança naqueles que escolhem ampará-la nesta travessia aérea e que, deste modo, sentem a vibração, como se caminhassem com ela».

«As pessoas podem inscrever-se num ou mais ateliês, conforme a sua disponibilidade», explicou Giacomo Scalisi, produtor do Lavrar o Mar, que promove a residência e o espetáculo, ao Sul Informação.

«O que queremos é que esta travessia não seja só mais um espetáculo nosso, mas toda uma experiência para nós e para esta comunidade de pessoas que connosco estão a trabalhar e a experimentar coisas novas», acrescentou Jan Naets, responsável pela parte técnica.

Basinga, o nome da companhia francesa, numa língua africana que remete para as origens de Tatiana-Mosio, quer dizer «corda ou ligação». «E é isso mesmo que nós queremos, partilhar, criar um espetáculo em conjunto», disse a artista.

 

Tatiana num ateliê da CieBasinga em Aljezur – Foto: ©João Mariano

 

O primeiro ateliê decorreu nos Bombeiros Voluntários de Aljezur, ainda em Março, com a participação do próprio comandante, que experimentou caminhar no arame.

«Instalámos os cabos, usando os camiões dos bombeiros, porque não tínhamos onde prendê-los, e foi muito prático, fizemos um aquecimento, para demonstrar que o equilíbrio é algo que não existe, é algo que estamos sempre a tentar encontrar, e depois fizemos uma espécie de marcha sobre o fio – demos-lhes as indicações, mas rapidamente as pessoas aprenderam. Todos aprendemos a andar, mas agora é uma reaprendizagem dessa marcha sobre um solo que é apenas mais pequeno», contou Tatiana.

Além do comandante dos Bombeiros de Aljezur, outros adultos quiseram experimentar, mas os participantes foram sobretudo os mais jovens, os cadetes dos bombeiros e as crianças da escola alternativa de circo que existe naquele concelho da Costa Vicentina.

O Sul Informação também assistiu (e até participou) numa oficina em Monchique, na Escola EB 2,3 da vila. Nesse local, o grupo de cerca de 20 pessoas integrava crianças, adultos e até algumas senhoras da Universidade Sénior monchiquense, bem como o próprio Giacomo Scalisi e Madalena Vitorino, os dois mentores do Lavrar o Mar.

Tatiana-Mosio Bongonga começou por exercícios de aquecimento e de equilíbrio: «juntem os pés, fechem os olhos e fiquem em silêncio», pedia. «Este exercício faz-se para percebermos que o equilíbrio é algo que se tem de procurar, não existe por si só», continuou.

A Dona Maria Emília foi uma das senhoras que ousou experimentar, depois de alguma insistência de Tatiana. No fim, contente por ter completado a travessia do arame de cerca de 5 metros de comprimento, dizia, com um sorriso: «não queria ir, mas cheguei à meta!»

Também Carlos Almeida, técnico superior de desporto da Câmara de Monchique, se deixou encantar por este equilibrismo. «Nunca pensei que pudesse experimentar isto, muito menos aqui. Por isso, quero deixar uma palavra de apreço às pessoas do Lavrar o Mar, pelo impulso cultural que estão a trazer a Monchique e a Aljezur». E à quarta tentativa, com mais peso na vara que ajuda ao equilíbrio, Carlos lá atravessou sozinho.

«Isto é viciante, queremos tentar sempre mais uma vez», confessava Giacomo.

 

Jan, num dos ateliês em Monchique – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Se quer participar no trabalho e na magia de construir este espetáculo, já sabe: inscreva-se nos ateliês e apareça!

E, no dia 21, mesmo quem não conseguiu envolver-se na fase de criação, poderá ir assistir a «Traversée», ao ar livre, na tarde do Domingo de Páscoa. Os bilhetes custam 5 euros,  já estão à venda e podem ser comprados aqui.

«No sítio onde o arame vai ser esticado, teremos uma vista sobre o mar, ao longe, vamos ouvir o mar. As pessoas no solo, quando se forem aproximando do local, não irão ver o mar, porque o fio estará orientado em direção à montanha, para poder ter o sol por trás», explica Jan Naets.

No meio da paisagem do Parque Natural, Tatiana-Mosio considera que «o que é agradável é que se trata de sítios que têm uma carga própria. Vimos vários locais antes de escolher este, mas aqui sentimos que tudo podia ser possível, sentimos verdadeiramente qualquer coisa, uma energia própria».

E não é preciso ter coragem para andar lá em cima, equilibrando-se num estreito arame? Tatiana já antes tinha dito que aquele é apenas o seu ofício. E agora explica melhor o que sente: «curiosamente, aqui, quando estamos num meio natural, com vegetação por baixo, é psicologicamente mais fácil de atravessar do que quando há betão por baixo. Mesmo que o resultado seja exatamente o mesmo…». E diz tudo isto com um grande sorriso.

Dia 21 de Abril, lá estaremos todos, para a ajudar nessa travessia.

 

 

FUNAMBULISMO

Aljezur
8, 9 e 15 de Abril
10h00 – 13h00
8, 9, 13, 14, 15, 17, 18, 19 Abril
15h00 – 20h00
Ponto de Encontro: Jardim frente à Câmara Municipal

Monchique
10, 11 e 12 Abril
10h00-13h00 e 15h00-19h00
16 de Abril
10h00-17h00
Ponto de Encontro: Largo dos Chorões

Orientação: Tatiana-Mosio Bongonga e Cie. Basinga

 

MÚSICA

Aljezur
10, 12, 17 de abril
20h30-22h00

19 de Abril
17h00 – 19h00

17 de Abril
17h00 – 22h00

(com piquenique incluído para todos)

Local: Sala dos Bombeiros Voluntários

20 de Abril
Ensaio Geral
14h00-19h00

21 de Abril
Espetáculo
14h00-19h00

Local: Junto à Praia da Amoreira, no local do espetáculo

Orientação: Tadrien Amey (Cie. Basinga) e Remi Gallet (Lavrar o Mar)

 

FIGURINOS

Aljezur
8 a 20 de Abril (todos os dias)
10h00-13h00 e 16h00-21h00
Local: Espaço+

Monchique
10, 11 e 12 de Abril
Horário a confirmar
Local: Casa dos Avós

Orientação: Solenne Capmas (Cie. Basinga)

 

CAVALETTISTES

Aljezur
20 de Abril (Ensaio Geral)
14h00-19h00

21 de Abril (Espetáculo)
14h30-19h00

Local: Junto à Praia da Amoreira

Orientação: Tatiana-Mosio Bongonga e Cie. Basinga

 

Haverá ainda
Pequenas Mostras Coletivas
Com participantes & Tatiana-Mosio Bongonga

Aljezur
13 de Abril, às 12h00
Praça da Igreja Nova

Monchique
16 de Abril, 17h30
Largo dos Chorões

 

 

Em Aljezur, no meio da natureza, será ainda mais extraordinário, mas aqui fica um vídeo de outra atuação:

 

 

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