Por mais e-mails que sejam enviados, os aviões vão continuar a sobrevoar Albufeira

Moradores de Albufeira queixam-se do barulho dos aviões, mas boas notícias a esse nível só para Quarteira

Foto: Fabiana Saboya|Sul Informação

As queixas foram muitas, mas não há nada a fazer: os aviões vão continuar a sobrevoar o centro histórico de Albufeira, na sua trajetória descendente para o Aeroporto de Faro. A Autoridade Nacional de Aviação Civil promoveu, esta segunda-feira, 1 de Abril, uma sessão de esclarecimento, na sede da Região de Turismo do Algarve, em Faro, para responder às mensagens que chegam «de forma sistemática e ininterrupta» à sua caixa de correio. Essas mensagens chegam de moradores de Albufeira que se queixam do barulho e da poluição causados pelas aeronaves.

De um lado, estiveram representantes do Aeroporto de Faro, técnicos e dirigentes da ANAC, da NAV e o presidente da Região de Turismo do Algarve. Foram feitas apresentações, foi explicado que aquela trajetória foi estudada ao detalhe, que é seguida pelo “piloto-automático” das aeronaves, e que, mesmo se fosse possível fazer um desvio, implicaria maior gasto de combustível, maior impacto ambiental e menor segurança para as aeronaves.

 

Luís Miguel Ribeiro e João Fernandes

Do lado da audiência, para assistir aos esclarecimentos, esteve pouco mais de uma dezena pessoas, entre elas Ana Maria Schreckenberg, em representação «de muita gente».

A moradora lamentou, em primeiro lugar, que a sessão não tivesse acontecido em Albufeira, onde «haveria mais pessoas».  Já sobre o que motivou aquele encontro, Ana Maria Scheckenberg explicou que os moradores que representa, «entre eles alemães, que não estão cá agora», não entendem «porque é que, havendo possibilidade de haver uma rota [de aproximação] mais à direita ou mais à esquerda, com menos densidade de moradores, não se altera» o trajeto dos aviões.

«Dizem sempre que é por causa dos ventos, mas desde a Praia da Falésia, até Vilamoura, há menos moradores e podia haver um desviozito. Esta rua, onde moro, onde há duas escolas e crianças… é de pensar se é mesmo necessário que os aviões ali passem, por cima de um ponto histórico protegido», acrescentou.

O problema é que é mesmo necessário: «não se trata de uma questão de escolha, mas de cálculo. Esta é a rota ótima que minimiza poluição e o impacto no ambiente. Além disso, de acordo com todos os planos de voo, os aviões sobrevoam essa área sempre a mais de 1000 metros de altitude», e «cumprem todas as regras de sobrevoo definidas quer a nível nacional, quer internacional», explicou Luís Miguel Ribeiro, presidente da ANAC.

Tendo em conta que os aviões têm de aterrar contra o vento, prosseguiu o responsável, «só em 27% dos dias do ano é que os aviões sobrevoam aquela área, quando o vento sopra de leste». Nos restantes dias do ano, quando o vento sopra de Oeste, a aproximação ao Aeroporto é feita pelo lado de Tavira.

O que está em causa é o ponto de viragem para alinhamento com a pista do Aeroporto de Faro das aeronaves que vêm do Norte, que está localizado ao largo de Albufeira e que foi definido há cerca de 10 anos.

 

Carlos Seruca Salgado

Carlos Seruca Salgado, vice-presidente da ANAC, ex-diretor do Aeroporto de Faro e algarvio, também esteve na sessão e deu exemplos de como Albufeira até não é das cidades mais prejudicadas.

«Apesar de os aviões sobrevoarem o centro histórico, em velocidade reduzida, para não produzirem barulho com o vento, com o motor como se estivesse em ralenti, Albufeira não sofre com as descolagens. As descolagens passam todas pela zona de Quarteira/Vilamoura e é um grande sacrifício para quem ali vive, porque apanham com os motores acelerados de quando estão em descolagem. Para não falar de Faro, que é a cidade que apanha com o barulho todo sempre a subir e a descer».

«Quarteira sofre mais, mas queixa-se menos», gracejou Seruca Salgado.

No entanto, Ana Maria Scheckenberg não ficou plenamente convencida com as explicações. A albufeirense diz que «há dias que é insuportável. Eles dizem que os aviões não voam lá a menos de mil metros, mas eu tenho a sensação que aquilo está em cima da minha cabeça. Os voos passam por cima de uma rua que tem duas escolas e por cima da parte histórica, onde há 10 mil moradores. Há muita gente doente ali, gente de idade. Os parapeitos da janelas e as superfícies estão sempre pretas e as pessoas sempre a pintar as casas por causa da poluição dos aviões».

Ainda assim, a representante dos contestatários garante que irá «levar a mensagem» a quem, segundo Carlos Seruca Salgado, envia e-mails «de forma sistemática e ininterrupta».

Luís Miguel Ribeiro, o presidente da ANAC, também não está certo de que as explicações dadas tenham servido para esclarecer que o sobrevoo dos aviões em Albufeira é um mal necessário. «Viemos cá porque levamos a sério as questões colocadas, principalmente aquelas que têm a ver com a qualidade de vida das pessoas afetadas pelo transporte aéreo. Mas viemos cá sem a obrigação de obter um resultado. Não sabemos se a sessão terá sido suficiente. Tentámos ter uma postura de abertura total e transparência. A população de Albufeira tem sido a mais vocal, mas não é a mais afetada na região do Algarve».

Sobre o facto de a sessão se ter realizado em Faro, e não em Albufeira, Luís Miguel Ribeiro justificou a escolha com o facto de o auditório da RTA ter capacidade para receber um maior número de pessoas. O que, afinal, não se justificou.

Segundo o responsável, 0 que quisemos dizer aos albufeirenses é que «não decidimos e não desenhamos aquelas aproximações à pista de forma burocrática, dizendo que tem de ser ali. Desenhamos porque garantem menores níveis de ruído e menores emissões poluentes com atual tecnologia. Se a tecnologia mudar, naturalmente que as aproximações serão desenhadas de forma a otimizar os processos e de forma a ganharmos todos qualidade de vida».

Apesar de não haver uma solução para o problema de Albufeira, em breve a zona de Quarteira poderá vir a sofrer menos com o ruído dos aviões que descolam de Faro, uma vez que estão a ser desenhados, pela NAV, novos procedimentos para descolagem no sentido Oeste, prolongando o ponto de viragem, que acontece no mar, em cinco quilómetros. Isso leva a que as aeronaves cruzem a linha de costa a uma altitude superior.

«A descolagem tem um maior grau de liberdade, em termos de trajetória, do que a aterragem. Este prolongamento para o mar da subida poderá reduzir os níveis de ruído sobre Quarteira. Todos os procedimentos são estudados. Teremos de desenhar essas rotas para os vários destinos e isso demora algum tempo. Achamos que será uma boa notícia para a população de Quarteira», concluiu o presidente da ANAC.

 

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