Descobrir o espaço público à luz da linguagem acrobática em “Les Voyages”

Os espetáculos no Portinho da Arrifana e em Monchique têm entrada livre

Cie XY – Foto: © Samuel Buton

Durante uma semana, no passado mês de Março, quatro elementos da companhia XY encontraram-se com as realidades de Aljezur e Monchique, recolheram matéria-prima e descobriram um “paraíso frágil”. Agora, voltam para apresentar o seu espetáculo Les Voyages, nos dias 4 de Maio (sábado), às 18h00, no Portinho da Arrifana (Aljezur) e 5 de Maio (domingo), às 16h30, em Monchique, com partida do Largo dos Chorões.

«Habitualmente, é no interior de uma grande tenda que a magia do circo contemporâneo acontece. Neste caso, a poesia transborda para o espaço público. As ruas, as paisagens, os edifícios, os transeuntes, a cultura e os hábitos de vida locais, são palco e inspiração para uma proposta acrobática e coreográfica site specific, à medida de cada território no qual a trupe XY se infiltra», explica a produção de mais este espetáculo com a chancela Lavrar o Mar, integrado na programação do 365Algarve.

Vinte acrobatas à descoberta de como a sua linguagem artística pode refletir e re-interpretar o espaço público – um edifício, um bairro, uma paisagem – «para oferecer a quem passa, um instante significativo, uma emoção particular, uma “ligeira distorção do real”».

Eles partem do território que encontraram em Aljezur e Monchique, composto por montanhas e oceano, chamas e ondas, medronhos e batatas-doces. «Descobriram aqui um coro a muitas vozes e mil sotaques que traduzem um território em metamorfose, rico em diversidade, onde se transportam muitas camadas de memória e transpiram estórias. Descobriram lugares cheios de beleza e aspirações, num “equilíbrio imperfeito e magnífico”».

Este coletivo de acrobatas tem apresentado o seu estimulante trabalho um pouco por todo o mundo, aprofundando, nesta criação, a relação entre práticas artísticas e performance no espaço público.

Les Voyages é, assim, «uma odisseia circense fora do comum, fortemente sensorial e visual, que assenta na ideia propulsora de sermos portadores de memória: “como nos transportamos, como somos transportados?”. Quando alguém é transportado (ao colo), as suas sensações remontam, muito provavelmente, à infância. Há quanto tempo não somos transportados?»

Deste modo, desejam explorar a memória sensível, dos corpos e dos lugares. À permanência dos edifícios, acrescentam a vulnerabilidade do corpo humano, jogando com os limites físicos dos espaços.

À escuridão de uma sala de teatro, preferem aqui experimentar o clarão de uma vila.

Os espetáculos são uma construção coletiva e silenciosa, em grande proximidade com as populações. Arquiteturas efémeras de corpos em equilíbrio, onde os encontros entre artistas e desconhecidos são solidários, frágeis e sentimentais.

«Visto a companhia ser, ela mesma, uma ode à diversidade – várias nacionalidades, mulheres, homens, jovens e mais experientes, mais esguios e mais robustos – esperamos nos dois grandes rendez-vous, um intercâmbio poético e cultural, uma aventura repleta de tesouros escondidos, que possam ecoar na memória de todos os que pertencem ou visitem o Alto da Serra e a Costa Vicentina».

 

Les Voyages Exp. 2 – Alès (quartier Rochebelle) from Compagnie XY on Vimeo.

 

Cie. XY – de onde vêm, onde chegam

Formada em 2005, esta aclamada companhia sediada em Lille (França) tem circulado por todo o mundo, recebendo grande ovação da crítica.

Depois da primeira criação ‘Laissez-Porter’, constituiu-se como grande coletivo (20 acrobatas) para ‘Le Grand C’, em 2009 e mais recentemente, em 2015, ‘Il n’est pas encore minuit’, foi descrito pelo The Guardian como “o circo rock’n’roll onde tudo é possível”.

Com ‘Les Voyages’, continuam a explorar a dimensão coletiva e a solidariedade humana, desta feita, no espaço público, acolhendo o acidental, “os grandes fluxos do mundo” que circulam pela rua, sem palco e sem rede.

Partindo do princípio de que somos portadores de memória – os corpos (individual) e os lugares (coletiva) – constroem verdadeiramente arquiteturas humanas enquanto provocam encontros sentimentais com elementos de um ‘não-público’, re-imaginando um território habitado e familiar e devolvendo-o sob uma nova perspectiva.

Lavrar o Mar convidou-os a vir, pela primeira vez, ao Sul de Portugal, com este projeto que teve a sua génese na antiga cidade de Naplouse, na Palestina, em 2017.

 

Cie XY – Foto: © Samuel Buton

 

Depois de ‘Maintenant ou Jamais’, em 2016 e ‘Klaxon’ em 2017, “Saison de Cirque” em 2018 e mais recentemente “Traversée”, no domingo de Páscoa, “Les Voyages” é uma nova proposta de circo contemporâneo francês que impregna o tecido social e artístico do Alto da Serra e da Costa Vicentina territórios, neste terceiro ciclo de programação Lavrar o Mar – as artes no alto da serra e na costa vicentina.

Diversa, regular e em movimento contrário à sazonalidade, a programação deste projeto funda-se nos elementos naturais distintivos da região e na sua cultura humana, imaterial e ancestral, colocando em diálogo as artes performativas contemporâneas com o conhecimento local.

Toma como paisagem as serras, as praias e as vilas, transformadas em cenários ficcionais para espectáculos de dança, música, teatro, performance, imagem e projectos multidisciplinares, que se apresentam em locais não convencionais.

Lavrar o Mar integra o programa 365 Algarve e tem o financiamento da República Portuguesa – Secretaria de Estado da Cultura e Secretaria de Estado do Turismo; Turismo de Portugal e Região de Turismo do Algarve, da União Europeia, através do programa Portugal 2020 – CRESC Algarve 2020, bem como da Direção Geral das Artes e dos Municípios de Aljezur e Monchique.

Um projeto CosaNostra (Madalena Victorino e Giacomo Scalisi). ‘Les Voyages’ conta ainda com o apoio do Institut Français, Institut Français au Portugal – Embaixada de França em Portugal.

 

Cie XY – Foto: © Samuel Buton

 

LES VOYAGES
Compagnie XY (França)
4 Maio às 18h00 | Portinho da Arrifana – Aljezur
5 Maio às 16h30 | Partida do Largo dos Chorões – Monchique

Espetáculo ao ar livre, na rua, compreendendo uma pequena caminhada
Duração: 1h /1h30 aproximadamente
Entrada livre 

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