Cientistas financiados pela UE captam a primeira imagem de sempre de um buraco negro

Para possibilitar a observação direta do espaço envolvente de um buraco negro, o projeto Event Horizon Europe procurou aperfeiçoar e interligar em rede uma série de oito telescópios existentes em vários pontos da Terra

O Comissário Carlos Moedas na apresentação – Foto:  Basia Pawlik – fonte: Serviço Audiovisual da Comissão Europeia

A Comissão Europeia divulgou hoje a primeira imagem de sempre de um buraco negro, captada pelo Event Horizon Telescope, uma colaboração científica mundial em que participam cientistas financiados pela União Europeia.

«Esta descoberta científica de primeira grandeza constitui uma prova visual da existência de buracos negros e expande as fronteiras da ciência moderna», considera a CE em comunicado.

Esta primeira observação de sempre de um buraco negro surgiu no âmbito da colaboração internacional em larga escala designada Event Horizon Telescope (EHT), na qual têm desempenhado papel de relevo investigadores financiados pela UE.

Esta grande realização científica marca uma mudança de paradigma na nossa compreensão dos buracos negros, confirma as previsões da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein e abre novas pistas de estudo do Universo.

A primeira imagem captada de um buraco negro foi divulgada hoje em seis conferências de imprensa simultâneas, realizadas em vários pontos do mundo.

Nas palavras do Comissário Europeu Carlos Moedas, responsável pela Investigação, Ciência e Inovação, «a ficção inspira muitas vezes a Ciência e há muito que os buracos negros alimentam os nossos sonhos e a nossa curiosidade. Hoje, graças ao contributo de cientistas europeus, a existência de buracos negros deixou de ser apenas um conceito teórico. Esta descoberta extraordinária é mais uma vez reveladora de que a colaboração com parceiros dos quatro cantos do mundo pode permitir-nos atingir o inalcançável e expandir os horizontes do conhecimento».

Primeira imagem real de um buraco negro – fonte: Serviço Audiovisual da Comissão Europeia

O professor Jean-Pierre Bourguignon, presidente do Conselho Europeu de Investigação (ERC), acrescentou: «felicito os cientistas que, em vários pontos do planeta, efetuaram esta descoberta inspiradora e dilataram as fronteiras do conhecimento. Apraz-me especialmente registar o contributo decisivo, para esta descoberta, de cientistas financiados pelo ERC. A política da UE de financiar estudos com potencial para conduzirem a mudanças de paradigma no conhecimento dos céus gerou mais este caso de sucesso e volta a validar o objetivo do ERC de financiar projetos de investigação em que se associem alto risco e a possibilidade de grandes resultados».

A iniciativa Event Horizon Telescope (EHT) contou com apoio financeiro crucial da UE, por meio do Conselho Europeu de Investigação.

Concretamente, a UE financiou três dos principais cientistas que, juntamente com as suas equipas, participaram nesta descoberta e apoiou o desenvolvimento e aperfeiçoamento da vasta infraestrutura de telescópios essencial para o êxito do projeto.

Os resultados hoje anunciados acrescentam-se às muitas realizações dos programas de financiamento Horizonte 2020 da UE no domínio da investigação e da inovação e dos programas-quadro que os precederam.

No seguimento destes êxitos, a Comissão propôs o Horizonte Europa, o mais ambicioso programa da UE até à data para manter a União Europeia na vanguarda da investigação e inovação a nível mundial.

Os buracos negros são objetos cósmicos extremamente comprimidos, constituídos por uma massa imensa num espaço muito reduzido. A presença de um buraco negro afeta de modo extremo o espaço-tempo em redor, deformando-o e sobreaquecendo qualquer matéria que para ele se precipite.

A imagem captada mostra o buraco negro existente no centro do objeto Messier 87, uma supergaláxia na constelação da Virgem. O buraco negro identificado situa-se a 55 milhões de anos-luz da Terra e a sua massa é 6500 milhões de vezes maior que a do Sol.

Para possibilitar a observação direta do espaço envolvente de um buraco negro, o projeto Event Horizon Europe procurou aperfeiçoar e interligar em rede uma série de oito telescópios existentes em vários pontos da Terra, situados a altitudes elevadas em locais inóspitos da Serra Nevada espanhola, de vulcões do Havai e do México, das montanhas do Arizona, do deserto de Atacama, no Chile, e da Antártida.

Mais de 200 investigadores da Europa, das Américas e do Extremo Oriente participam nesta operação internacional de grande envergadura.

No âmbito do programa Horizonte 2020 e do 7º Programa-Quadro da UE, o Conselho Europeu de Investigação da União Europeia financiou cientistas participantes neste projeto de colaboração por meio dos seguintes projetos:

O projeto BlackHoleCam, de 14 milhões de euros, visa captar imagens de buracos negros, efetuar medições desses objetos cósmicos e compreendê-los.

Este projeto de seis anos decorre desde 2014 e está a cargo de três cientistas de grande craveira e das respetivas equipas, concretamente o professor Heino Falcke, da Universidade Radboud, em Nimega, nos Países Baixos (igualmente presidente do Conselho Científico do projeto EHT), o professor Michael Kramer, do Instituto Max Planck de Radioastronomia, e o professor Luciano Rezzolla, da Universidade Johann Wolfgang Goethe de Francoforte.

O projeto RadioNet, que apoia um consórcio de 27 instituições na Europa, na República da Coreia e na África do Sul que visa integrar infraestruturas de nível mundial dedicadas à investigação em radioastronomia: radiotelescópios, matrizes de telescópios, arquivos de dados e a rede europeia EVN (European Very Long Baseline Interferometry Network), a funcionar a nível mundial.

Este projeto é coordenado pelo Instituto Max Planck de Radioastronomia. A UE investiu 30,3 milhões de euros no projeto RadioNet nos últimos 15 anos.

O Conselho Europeu de Investigação, criado pela União Europeia em 2007, é a primeira organização de financiamento europeia vocacionada para investigação de excelência nas fronteiras do conhecimento.

Todos os anos, seleciona e financia os melhores investigadores e mais criativos, de qualquer nacionalidade e idade, para realizar projetos na Europa.

O ERC disponibiliza quatro regimes de bolsas principais: Arranque, Consolidação, Avançado e Sinérgico. Juntamente com o regime de bolsas adicional de comprovação de conceitos, o ERC ajuda os bolseiros a fazerem a transição entre a investigação pioneira que realizam e as fases iniciais da comercialização que lhe está associada.

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