Teatro em lume brando na serra onde nem tudo o fogo levou

Ao contrário do que aconteceu em Novembro, «iremos beber o medronho que, de um momento para o outro, pode desaparecer»

A atriz Marta Gorgulho – © Elisabete Rodrigues | Sul Informação / Serra (Março, 2018)

«O fogo não chegou a Marmelete, que só o avistou de longe no Verão passado. Por aqui, ainda temos medronho e medronheiros, mas o fogo é sempre um potencial habitante e personagem deste território. É disto que vamos falar».

É assim que o encenador e diretor artístico Giacomo Scalisi fala do espetáculo «Medronho #2. Serra, capítulo segundo», mais uma produção do projeto Lavrar o Mar, que se estreia no dia 14 Março e terá oito representações, de quinta-feira a domingo, até 24 de Março, em Marmelete, com ponto de encontro na Casa do Medronho, sempre às 20h00.

«Depois de, em Novembro, termos falado do fogo, num momento particularmente forte, na zona de Alferce, pela boca de dois homens», agora é a vez de duas mulheres darem voz ao texto de Afonso Cruz.

Serão duas atrizes «que inebriam o público, com o seu discurso, ora sensível, ora bravio, ao longo de um percurso por recantos inexplorados» de Marmelete, neste novo espetáculo de teatro nas destilarias de Medronho.

«Neste momento, em que o fogo da destila está aceso, destila-se também o medo de que o medronho seja devorado pelas chamas para dentro do coração da bebida. Porque importa não esquecer, porque importa lembrar. A tudo isso, brindamos», explica Giacomo Scalisi.

O diretor artístico, em entrevista ao Sul Informação, levanta um pouco o véu sobre o que será este novo espetáculo, explicando que «Afonso Cruz faz o retrato de duas mulheres que falam de um homem, Carlos, o Urso». No fundo, «é uma mulher dividida em duas personagens e são duas atrizes que fazem a mesma personagem e que, em flashbacks, contam a vida de Carlos, sempre no limite do saber/não saber, de uma possível ambiguidade. Falam da vida de Carlos, de como ele foi chamado Urso e como se tornou numa figura de referência da comunidade».

© João Mariano / Serra (Março, 2018)

O público, como já está habituado nestes espetáculos de teatro nas destilarias de Medronho, será itinerante e dividido em grupos e vai «à procura destas histórias, não só nas destilarias, mas também em outros lugares de Marmelete, que fazem parte da comunidade». Que lugares? Giacomo não revela.

E trata-se de uma comunidade que «a cada dia respira serra, medronho e a esse medo». «Voltamos ao tema do fogo, mas sob outro ponto de vista». Desta vez, ao contrário do que aconteceu em Novembro, «iremos beber o medronho que, de um momento para o outro, pode desaparecer», frisou. Mais uma vez, como pano de fundo, estará a questão de «como as coisas acabam e recomeçam».

Quanto às atrizes, elas são Marta Gorgulho, que repete a sua presença do ano passado, e Neusa Dias, atriz algarvia radicada em Lagos, que nasceu em Maria Vinagre, no concelho de Aljezur, de onde a sua família é originária. «Tem a ver com este território e foi essa uma das razões para eu a convidar», explica Giacomo. É que, recorda o encenador, o projeto Lavrar o Mar «está sempre à procura do território, tem como objetivo declarado procurar estas relações artísticas com quem aqui vive e trabalha».

A programação cultural Lavrar o Mar volta assim a revisitar esta cultura serrana tão singular nos seus ambientes, enredos e mistérios, com este segundo capítulo de Medronho #2: Serra.

Novos textos de Afonso Cruz estendem a narrativa do ano passado e envolvem-se com flocos de cinza do grande fogo de Monchique, enquanto amplificam o universo feminino, nas vozes de uma mulher que se desdobra no tempo para recuperar a história de um homem: “aquele a que haveriam de chamar o Urso”.

Se quer ser um dos afortunados espectadores que vão descobrir e viver tudo isto, apresse-se. Ao todo, haverá oito espetáculos, cada um com 50 pessoas, mas pelo menos cinco deles já estão esgotados. «São 200 pessoas, em duas semanas, que convidamos a partilhar connosco mais este momento», conclui Giacomo Scalisi.

A programação cultural Lavrar o Mar, promovida pela cooperativa Cosa Nostra, integra o programa 365 Algarve, contando também com o apoio financeiro da Direção Geral das Artes, do CRESC Algarve 2020 e das Câmaras Municipais de Monchique e Aljezur.

 

© João Mariano / Serra (Março, 2018)

MEDRONHO #2 . Serra, capítulo segundo

Giacomo Scalisi
qui a dom, 20h00
14, 15, 16, 17 Março
21, 22, 23, 24 Março

MARMELETE . Ponto de encontro: Casa do Medronho

Recinto: destilarias e percurso a pé na aldeia.
Espetáculo para maiores de 18 anos.

BILHETES & INFOS
Preço: 10€ inclui refeição ligeira e provas de medronho
Bilhetes disponíveis online na BOL e pontos de venda aderentes (Worten, Fnac, CTT), na Casa Lavrar o Mar – Rua João Dias Mendes, em Aljezur, e na Biblioteca Municipal de Monchique. A bilheteira local [no local de ponto de encontro, nos dias de apresentação] abre 1 hora antes do início do espetáculo.

Contactos gerais público:  [email protected] | 913 943 034

 

Clique aqui, para recordar como foi o espetáculo Serra em 2018

 

 

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