Proibida apanha de amêijoa nos viveiros frente a Olhão

Proibição surge numa altura em que as análises apontam para melhoria substancial da qualidade das águas

Foto: Martyna Mazurek|Sul Informação

Está totalmente proibida a apanha de amêijoa, na zona entre a Fortaleza e os Areais, em Olhão, que abrange toda a frente de ria da cidade. Mas, garantem os viveiristas, as últimas análises que foram recolhidas apontam para que a qualidade das águas, nesta área de produção de bivalves, denominada por “Olh3”, esteja agora muito melhor do que há um ano.

Em declarações ao Sul Informação, José Florêncio, presidente da Formosa, revelou que a cooperativa de viveiristas que dirige «tem recolhido amostras para análise, em conjunto com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), para ver como está a amêijoa, depois do fecho da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) [Olhão Poente]».

«Neste momento, estamos a fazer análises de 15 em 15 dias e, graças a Deus, os primeiros resultados foram positivos, vieram “B”, melhor do que o “C” que estava antes desta interdição», acrescentou.

Já as análises que resultaram na proibição da apanha «são de anos anteriores, de uma altura em que a ETAR ainda estava a funcionar».

 

Foto: Pablo Sabater|Sul Informação

 

Apesar das aparentes boas notícias, o levantamento da proibição da apanha (classificação “D”) não deverá acontecer em breve. Isto porque são necessárias «12 análises positivas consecutivas» para haver mudanças, explicou ao Sul Informação José Apolinário, secretário de Estado das Pescas.

«Na sequência da interdição, aumentámos os pontos de recolha de um para três e a frequência das análises, que passam a ser quinzenais, quando antes eram mensais», revelou o membro do Governo.

Com análises mais frequentes, também se reduz o tempo para que a interdição seja, eventualmente, levantada. José Apolinário estima que, caso as análises continuem a vir positivas, a reclassificação «demore entre quatro a seis meses».

«Vamos agora fazer a segunda rodagem e esperemos que continue “B”. E, a partir daí, tudo correrá bem de certeza. Acho que vai ser mais rápido do que anteriormente. Isto leva o seu tempo. Também tem a ver com a União Europeia, são eles que nos pressionam, lá daquele lado», disse, por seu lado, José Florêncio.

«A ETAR fechou, há menos esgotos. Tenho de admitir que, apesar de falarmos muitas vezes da Câmara, a verdade é que as coisas melhoraram um pouco e nota-se que há um esforço da parte da autarquia – embora seja certo que não se consegue remediar de um momento para o outro um problema que tem mais de 50 anos», acrescentou o presidente da Formosa.

 

Foto: Pablo Sabater|Sul Informação

 

Caso se confirme que as condições ambientais estão substancialmente melhores, na “Olh3”, os 103 titulares dos cerca de 160 viveiros aqui existentes vão, certamente, ficar bem contentes.

É que, na prática, ver uma zona de produção baixar de “C” para interdita tem um impacto muito menor na atividade dos viveiristas do que ver a classificação melhorar para um “B” ou um “A”.

Os bivalves produzidos numa zona classificada como “C” apenas podem ser transpostos por um longo período para uma zona de transição classificada como «B» ou vendidos à indústria, com muito baixa rentabilidade. E, como não há nenhuma zona de transição definida, resta a segunda hipótese.

Numa zona “B”, por outro lado, os bivalves podem ser vendidos, com um retorno muito maior para o viveirista ou mariscador, depois de passar numa depuradora – nas zonas classificadas com “A” podem ser vendidas diretamente ao consumidor.

Já as amêijoa que estiverem numa zona “D” não podem ir a lado nenhum.

Esta situação levou o Sindicato dos Trabalhadores das Pescas do Sul (STPS) – que ainda na semana passada liderou um protesto de viveiristas, em Olhão – a exigir que os viveiristas e mariscadores afetados tenham acesso a subsídios de compensação por paragem forçada da atividade, à semelhança do que é atribuído a outros profissionais da pesca.

Uma hipótese afastada por José Apolinário, que assegurou que «uma parte significativa dos viveiristas não fizeram qualquer declaração de produção nos últimos dois anos».

«Neste momento estamos a fazer um levantamento para ver se há aqui pessoas que não tenham outras fontes de rendimento, para ver o que podemos fazer. Contamos ter o levantamento das situações sociais até final do mês», assegurou o secretário de Estado das Pescas.

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