Julie Byrne inspirou-se nos encantos da Culatra para compor nova música

Programação do Teatro das Figuras deste ano tem grande componente de envolvimento com a comunidade

Durante duas semanas, a Ilha da Culatra, no concelho de Faro, foi a musa que inspirou a artista norte-americana Julie Byrne a compor novas canções. «É uma bênção poder estar aqui. A Culatra é um sítio tão encantador. A própria atmosfera, o momento em que o sol se põe… Parece que nada mais existe», confessou, dias antes de terminar a residência artística.

O convite partiu do Teatro das Figuras, cuja programação tem, este ano, uma forte componente de envolvimento com a comunidade. O desafio foi logo aceite por Julie Byrne que morou, até esta segunda-feira, 25 de Março, numa pequenina casa na Culatra.

«Sinto-me tão agradecida. As pessoas têm sido muito hospitaleiras. Só queria saber falar melhor português para retribuir o carinho que me têm dado», explicou, sorridente, antes de um concerto, no passado domingo, 24 de Março, na Culatra.

O grande objetivo passou por fazer da ilha a inspiração para Julie escrever canções. Não houve propriamente um trabalho com a comunidade, mas, sim, sobre a comunidade.

«Desde que cheguei, já fiz uma música totalmente cá, inspirada no que fui vendo. Terminei ainda outras duas que estavam inacabadas», revelou.

Para retribuir «todo o carinho» recebido, Julie Byrne, que passou pelo Teatro das Figuras em Junho de 2018, decidiu dar um concerto de agradecimento, este domingo à tarde, no Polidesportivo do Culatrense.

A sala encheu para escutar indie folk, um estilo de música diferente daquele que se costuma ouvir naquelas paragens.

Houve quem ficasse para ouvir, mas também quem saísse para continuar a conversar. No final, uma mulher destacou-se dos demais e decidiu que tinha de ir agradecer à artista.

Jill Artífice é inglesa, mas casou-se com um culatrense (daí o apelido). O marido já morreu, mas ela continua a morar na Culatra. «Adorei o concerto. Senti que tinha de ir agradecer porque isto foi uma coisa diferente do que costuma acontecer por cá», confessou ao Sul Informação. «A música foi fantástica», acrescentou.

 

Jill Artífice

Mas não foi só Jill que gostou da iniciativa. No final, houve quem se dirigisse a Sílvia Padinha, presidente da Associação de Moradores da Culatra, para a felicitar.

«Vieram-me dizer que foi muito bonito. Até eu fiquei surpreendida com a aceitação, porque ela veio-nos trazer uma coisa totalmente diferente daquilo a que estamos habituados», confessou, entre risos.

Levar «novas realidades» à Culatra foi, com efeito, a grande mais-valia da residência artística e do concerto que se seguiu, bem como da apresentação do projeto Culatra 2030, que também se realizou durante a tarde, no Polidesportivo.

«Este local é um paraíso e tem uma essência própria, mas queremos trazer para cá conhecimento e aproximação a outras realidades. Só assim vamos mais longe», explicou ainda Sílvia Padinha.

E como conviveram as gentes do mar com a presença de uma artista internacional?

«A Julie foi recebida com agrado. Ela passeava, ia aos restaurantes, à praia. Via-a muitas vezes nos sítios onde estavam os pescadores a trabalhar, o que a inspirou de certeza. As pessoas não sabiam quem era, mas também nunca a incomodaram. Houve um respeito mútuo», disse a presidente da Associação de Moradores da Culatra.

 

Gil Silva e Sílvia Padinha

Por isso, para Gil Silva, diretor do Teatro das Figuras, iniciativas destas são para continuar.

«Queremos prosseguir com a ideia de residências num sítio que convida tanto à reflexão. O objetivo é trazer mais artistas para a Culatra, porque isto, no fundo, traz reconhecimento à própria comunidade», adiantou.

Prova disso é o facto de Julie ter composto inteiramente uma música sobre a Culatra durante estes dias. A experiência de se ter mudado para uma ilha, de armas e bagagens, é um marco na carreira da artista.

«É inesquecível. Se fosse mais fluente em português, teria sido ainda mais fácil trabalhar com as pessoas de cá, mas sinto, na mesma, que desenvolvi boas amizades. Espero cá voltar», concluiu, sorridente, com o pôr do sol no horizonte, cenário que tanto a inspirou durante duas semanas.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

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