Vamos pelo básico

Decidi, em 2019, começar a reciclar a sério e ensinar às minhas filhas como fazê-lo também

…o que podemos fazer, nós, Pais e Mães, quando temos de nos levantar cedo, despachar as crianças à pressa, levá-las à escola, enfrentar as filas do trânsito, aturar colegas ou patrões chatos, apanhar a criançada de volta, dar-lhes banho, preparar o jantar, deitar as lindas pestinhas, ver o feed do Instagram, as novidades do Facebook e restantes redes sociais e, finalmente ir para a cama, para no dia seguinte, repetir tudo, novamente?

O início de um novo ano é, para muitos, o momento ideal para respirar fundo e assumir novos compromissos, definir novas metas e objetivos. Quanto a mim, em 2019, decidi ir mais longe.

Além dos meus propósitos pessoais, decidi definir também objetivos para a família. Bastante ousado, diga-se de passagem, considerando que, além do marido, tenho duas filhas – uma com dois anos e outra com cinco. Sem contar com a gata e o peixe. Tudo seres vivos com fortes e vincadas personalidades.

Quem me conhece bem, sabe que o Natureza sempre foi uma das minhas grandes paixões. Muitas vezes, penso que o mundo perdeu uma grande veterinária. Talvez. Mas acredito que outros talentos e paixões que fui cultivando ao longo do tempo também possam fazer a diferença.

Principalmente, este sentimento e estado permanente chamado “Maternidade”, que só quem é Mãe consegue entender. Proteger as crias. Quando o perigo é iminente, é nisso que se traduz este sentimento, tanto para os seres humanos, como para as outras espécies.

Talvez possa ser exagerado, mas é nisto que penso, quando me vêm à mente questões relacionadas com as alterações climáticas ou com a poluição do mar pelo plástico e o lixo marinho.

O futuro do planeta está em risco. E não é só a nível ambiental, mas também social e económico, porque tudo está relacionado. E para quem ainda não pensou muito nesta matéria, a verdade – como foi já dito – é que não temos um “Planeta B”. A Terra é a nossa única e casa comum.

Até as empresas vão tomando consciência desta realidade, transformando-se gradualmente em empresas mais responsáveis “social e ambientalmente”. Se não for porque é o melhor para o planeta, será porque é o melhor para o seu negócio, como li recentemente. Ser ecologicamente correto vai ser (assim espero!) uma tendência para ficar.

Nós, comuns cidadãos e cidadãs, não podemos ficar apáticos. Temos crias para cuidar. E quem não tem filhos também deseja decerto, viver num planeta sustentável.

Mas, o que podemos fazer, nós, Pais e Mães, quando temos de nos levantar cedo, despachar as crianças à pressa, levá-las à escola, enfrentar as filas do trânsito, aturar colegas ou patrões chatos, apanhar a criançada de volta, dar-lhes banho, preparar o jantar, deitar as lindas pestinhas, ver o feed do Instagram, as novidades do Facebook e restantes redes sociais e, finalmente ir para a cama, para no dia seguinte, repetir tudo, novamente?

Acredito que podemos fazer muito. Vamos começar pelo básico: reciclar.

No ano passado, tive o privilégio de viajar até à Suécia, um país não muito longe de Portugal, mas muito à nossa frente, no que toca à reciclagem, o que, em parte, contribuiu para a definição deste meu projeto familiar.

Na Suécia, a reciclagem faz parte dos hábitos familiares diários e as crianças aprendem desde cedo que separar o lixo é importante e que há coisas que não precisam de ser jogadas fora, pois podem ser reutilizadas.

Em muitos prédios de Estocolmo, principalmente nas novas construções, existem sistemas automatizados de recolha a vácuo de resíduos, para que as pessoas não necessitem de ir à rua depositar os seus detritos, retirando também assim, da paisagem visual urbana, os famigerados contentores. Em Portugal, também já existe esta tecnologia, apesar de pouco divulgada.

Nas famosas cottages suecas, perdidas no meio da floresta, rodeadas das pequenas ilhas do Mar Báltico, é ver as famílias, ao fim-de-semana, percorrer quilómetros e quilómetros com os seus atrelados repletos de lixo meticulosamente separado, até ao Ecoponto mais próximo.

Provavelmente, esta atenção dos suecos para com a reciclagem advém da sua paixão pelo ar livre. Provavelmente, porque faz parte da política nacional a preservação do meio ambiente e a valorização de energia limpa, ou porque até recebem uns trocados, quando deixam as suas embalagens de plástico nos supermercados.

A verdade é que nem a distância, nem o frio os demove quando o assunto é verem-se livres dos seus lixos.

É impossível ficar indiferente a esta atitude. Por isso, decidi, em 2019, começar a reciclar a sério e ensinar às minhas filhas como fazê-lo também.

Já fazíamos reciclagem em casa, na verdade, de forma meio atabalhoada, porque em tempos foi-me dito que, no final, apesar do nosso cuidado, ia tudo para o mesmo aterro. Encostei-me a essa inverdade para não fazer melhor.

Mas este ano – embora tenha já sido acusada no passado de ser pior do que o chimpanzé Gervásio a separar do lixo as embalagens usadas – imbuída dos princípios de reciclagem suecos, decidi adquirir contentores domésticos para o devido efeito e envolver a criançada no espírito do reciclar e reutilizar.

E é ver agora a mais pequena a colocar os pacotes de sumo no balde amarelo; a mais velha, o frasco dos feijões (sem tampa) no balde verde, enquanto usa o frasco de vidro do iogurte para molhar o pincel das aguarelas e deixa a folha, já usada, no balde azul, enquanto canta divertida: “plástico no amarelão, vidro no verdão e papel no azulão!”.

 

Autora: Analita Alves dos Santos
Mãe preocupada com questões ambientais

 

 

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