Sustentabilidade é o mote da Bienal de Turismo de Natureza

Aura Fraga, presidente da Vicentina, deu uma extensa entrevista ao programa Impressões, da RUA FM e do Sul Informação

A segunda edição da Bienal de Turismo de Natureza (BTN’19), que vai decorrer de 22 a 24 de Fevereiro no Pavilhão Multiusos de Aljezur, tem como mote genérico o tema da sustentabilidade.

Aura Fraga, presidente da Vicentina – Associação para o Desenvolvimento do Sudoeste, que promove a BTN’19, revela que, «há dois anos, quando começámos a preparar a Bienal, era importante conceber um evento que fosse útil ao território e que acrescentasse valor. E pensámos logo no tema da sustentabilidade», já que «é quase impossível fugir-se ao tema da sustentabilidade quando se fala de turismo e, sobretudo, quando se fala de turismo de natureza».

Em entrevista ao programa «Impressões», produzido em parceria pela Rádio Universitária do Algarve (RUA FM) e pelo Sul Informação, e que pode ser ouvido na íntegra clicando aqui, aquela responsável explicou por que razão a Bienal resulta, mais uma vez, da iniciativa da Vicentina. Para já, porque «não podemos esquecer as raízes da Vicentina, enquanto associação de desenvolvimento local, cuja atuação se insere num determinado território».

A Bienal de Turismo de Natureza surge assim no âmbito de um plano desenvolvido pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, que reúne os 16 municípios, «o Plano de Apoio ao Desenvolvimento dos Recursos Endógenos, no âmbito do CRESC Algarve, que pretende alavancar o investimento público que facilite o investimento privado, que as associações e os GAL estão a promover no território».

Na zona de influência da associação Vicentina – o extremo Barlavento e a Costa Vicentina -, um dos principais recursos é precisamente o património natural. Daí que a associação de desenvolvimento local tenha decidido propor «à AMAL, a integração no Plano de um projeto intermunicipal da Bienal de Turismo de Natureza. Já houve uma edição há algum tempo [em 2014] e portanto faria sentido haver um novo evento que acrescentasse valor a esse primeiro. Fizemos a proposta à AMAL, foi aprovada em Conselho Intermunicipal, integrada no plano, aprovada pela CCDR». E assim surgiu esta segunda edição da BTN.

E porque razão volta a Bienal a ter lugar em Aljezur? «A Vicentina teve a necessidade de desencadear um processo para que se decidisse onde é que o evento havia de decorrer. Fizemos várias reuniões para preparar o evento, na realidade cerca de 50, com as várias entidades e municípios», disse Aura Fraga.

As opiniões dividiram-se, uns achavam que não devia ser novamente em Aljezur, outros que sim. «Opiniões há muitas, encontrar um consenso é que é mais difícil». Por isso, acrescentou, «passado muito tempo, era preciso tomar uma decisão e reuniram-se condições quer financeiras, quer de opinião para que fosse em Aljezur». E assim será.

Quanto ao tema escolhido – a sustentabilidade – a presidente da Vicentina adiantou, na sua entrevista, que «quando começámos a trabalhar o tema, constatámos que ainda era um conceito abstrato. Como se é que se operacionaliza a sustentabilidade para que se possa dizer que vamos chegar a uma meta e que estamos a gerir um território de forma sustentável? Ainda vai uma distância muito grande até estarmos aí».

Sendo um «conceito tão alargado», a organização da Bienal considerou que seria «importante tentar traduzi-lo em ações: estudar, refletir como é que se poderia traduzir em ações, que pudessem ser incorporadas no dia a dia das atividades dos comunidades, das instituições, das empresas».

E foi nessa pesquisa sobre o tema que surgiu a questão das certificações de sustentabilidade, que, segundo Aura Fraga, «se traduzem em check lists de ações e de indicadores, que permitem, por exemplo, que uma empresa avalie o grau de sustentabilidade da sua atividade, ou quais as adaptações que precisa de fazer para atingir esses indicadores de sustentabilidade».

«Apercebemo-nos também que havia outros territórios, outras regiões, que já estavam a trabalhar nesse sentido, ou seja, a trabalhar para que a região ou o território aderissem a algumas certificações, nomeadamente de destinos sustentáveis».

Tendo em conta que «tudo isto está ainda muito no princípio», se calhar seria interessante «promover reflexão e conhecimento sobre o tema», trazendo à Bienal de Turismo de Natureza «pessoas relacionadas com essas certificações e que nos possam explicar como é que funcionam e como se pode aderir, trazer destinos e organizações que já estão a trabalhar nesse sentido, como o Alentejo e os Açores».

«Trabalhamos num território em que o turismo de Natureza é de facto uma grande potencialidade, dada a riqueza do seu património natural, mas, ao mesmo tempo, também é importante percebermos qual é o fio deste desenvolvimento, qual é a meta, como é que gostávamos que fosse o turismo de natureza neste território em 2030», continua Aura Fraga

Por isso, a Bienal e os seu programa pretendem ser «uma proposta de reflexão, um contributo, que pode ser muito útil para o nosso trabalho e para o de outros atores e entidades, que têm muito mais responsabilidade que a Vicentina na gestão do território».

É que, se o Turismo, nomeadamente o de Natureza, é uma oportunidade, pode também trazer consequências desagradáveis. «A sustentabilidade aponta para três conceitos base: sustentabilidade ambiental, social e económica. Parece-nos que pode ser muito interessante refletir agora, que o Turismo de Natureza está a crescer, como é que gostávamos que crescesse. Se vai crescer através de um conjunto de iniciativas individuais e desgarradas ou através de um plano, com metas estabelecidas e que pudesse respeitar esses princípios de sustentabilidade, ambiental, social e económica».

A presidente da associação Vicentina não tem medo de parecer romântica quando considera que pode ser «muito útil, nesta altura em que se está a preparar novo quadro, novas orientações, que se pudesse juntar muitos atores regionais, com responsabilidades diversas a vários níveis, refletindo em torno deste assunto»,

Por isso mesmo, Aura Fraga aproveitou a entrevista ao programa «Impressões» para fazer «um forte convite a quem trabalha na área, desde o pequeno empresário, a empresa de animação, o alojamento local, o hotel, para que nos juntássemos todos a pensar nisto».

O programa vai ser variado e apostará muito em trazer a Aljezur especialistas e mentores, com experiências concretas em áreas como a certificação e a sustentabilidade.

«Em vez de irmos discutir problemas, vamos debater um fio condutor para as soluções», sublinha a dirigente da Vicentina, que anuncia que «vai haver um conjunto grande de oficinas do conhecimento, que se vão focar no património natural, para que se passe conhecimento sobre o património natural do Algarve, que é riquíssimo».

Essas oficinas – que serão 50, todas de inscrição gratuita, mas obrigatória – também se vão focar «no desenvolvimento de atividades de turismo de natureza» ou na «gestão de empresas de turismo de natureza». «O que pedimos a todos os mentores que serão responsáveis por essas oficinas é que haja sempre uma menção sobre a questão da sustentabilidade no desenvolvimento das atividades».

Aura Fraga salienta que a sustentabilidade tem até a ver com o perfil do turista atual. «As motivações do turista estão em mudança, há novas gerações de turistas para quem, cada vez mais, a motivação de um destino sustentável está presente na decisão sobre as suas férias».

«Muitas vezes há a ideia, errada, de que se limitarmos as atividades para garantir a sua sustentabilidade ambiental se está a pôr em causa a sustentabilidade económica». No entanto, avisa, sobretudo em territórios como o da Costa Vicentina, o que é preciso é «ter cuidado, porque a falta de sustentabilidade ambiental pode ser o caminho para a falta de sustentabilidade económica». O ideal, argumenta, é que se consiga «conciliar tudo».

«Um destino sustentável não tem só um objetivo de proteção do património, mas também de proteção da própria atividade económica, porque quem procura, procura cada vez mais destinos sustentáveis», frisa.

Da Bienal de Turismo de Natureza, por muito que se vá falar e refletir, não irão sair medidas concretas. «O nosso grande objetivo com este evento é levantar algumas lebres e que se possa estruturar um plano de forma a ter uma atitude preventiva em relação aos riscos que surjam e impedir que eles se instalem».

Desta Bienal, salienta Aura Fraga, «poderão sair alguns consensos, uma tomada de consciência, algum conhecimento que possa permitir que, quem tem responsabilidades, possa incorporar na sua atividade» questões como a da sustentabilidade.

A Bienal, sublinha, «surge integrada num projeto da AMAL, os municípios têm a responsabilidade de gestão do território, a Região de Turismo, a Universidade tem aqui um papel muito importante ao nível do conhecimento, que deve passar aos novos empresários».

Para Aura Fraga, «isto é um processo». E a BTN’19 será o quê neste processo? «Uma gota de água, apenas um contributo, num processo muito maior e que vai depender dos decisores» regionais e nacionais.

Na Bienal, o dia 22 será dedicado a um ciclo de debates e palestras, para as quais a organização convidou «especialistas para nos virem apresentar essencialmente certificações e galardões».

Aura Fraga sublinha que há «um convidado que pode ser muito importante, Luigi Cabrini», ex-diretor do Programa de Turismo Sustentável da Organização Mundial de Turismo e presidente do Conselho de Administração do Global Sustainable Tourism Council, «entidade responsável pela acreditação das certificadoras e que responde perante as Nações Unidas. Convidámos o senhor e ele aceitou de imediato, o que para nós foi muito importante. Vai cá estar ao longo do evento e já manifestou interesse em visitar algumas zonas do território para se aperceber da realidade».

Também foram convidadas entidades certificadoras, como a Biosphere, a Europarc, a Green Key, que «também tem um trabalho vasto na certificação principalmente de restaurantes e de alojamentos e mais recentemente de alojamentos locais». «Vamos tentar perceber como é que isto funciona», explica a presidente da Associação Vicentina.

«Sinto que há uma certa desconfiança em relação às certificações. É preciso desmistificar um bocado isso. Um exemplo que nos chamou a atenção de uma forma muito positiva é o caso da Bandeira Azul, que é um caso de sucesso de um galardão. Anualmente, o país anuncia quantas praias tem com bandeira azul e todos nós já percebemos o que aquilo quer dizer». Bandeira Azul e Geoparque de Arouca são casos de sucesso a apresentar na Bienal.

Por isso, salienta, «talvez fosse interessante alargar esse reconhecimento a outras atividades».

É que, frisa, «ter um alojamento certificado se calhar não é muito importante, mas se um concelho tiver 70% dos seus alojamentos certificados, isso já pode ser um fator importante na escolha das pessoas».

As Moçoilas

Além das oficinas e dos debates, haverá também uma componente expositiva muito institucional – com os municípios, a RTA, a CCDRA, onde estará patente «o trabalho que já está a ser feito por todas essas entidades, principalmente no domínio da sustentabilidade».

Mas também foram convidadas empresas que apresentarão «soluções sustentáveis: alguns exemplos de equipamentos, ou de certificações, ou de intervenções e adaptações, serviços que essas empresas prestam e que podem ser úteis para quem tem um negócio nessa área poder adaptar-se a alguns indicadores de sustentabilidade»

Também não será esquecida a questão da acessibilidade, que aliás motiva também uma das palestras e debates. «A acessibilidade começa a estar na agenda das entidades, nomeadamente do Turismo de Portugal, mas, na prática, quando falamos com entidades responsáveis, dizem-nos sempre que há ainda muito trabalho a ser feito nesse domínio». Por isso, salienta Aura Fraga, «procurámos trazer também expositores que têm soluções nesse domínio da acessibilidade: cadeiras especiais para que pessoas com mobilidade reduzida possam fazer um percurso, por exemplo».

Haverá ainda «soluções ao nível da energia, da água» e mesmo alguns exemplos concretos, como «um alojamento que é completamente autónomo do ponto de vista energético e da gestão da água, com reutilizações da água de uma atividade para outra e inclusivamente para a agricultura. Achámos que era um exemplo interessante e convidámos para estarem presentes».

Sendo um «evento de reflexão e de procura de soluções», Aura Fraga lança o convite a que, «quem opera nestas áreas do turismo de natureza, vá lá conhecer coisas novas, melhorar o seu conhecimento sobre as atividades, fazer contactos, participar em reuniões B2B, onde podem ser feitas parcerias».

E depois há a festa. Importante numa Bienal de Turismo de Natureza, que tem tudo a ver com o território em que se insere e que aproveita as suas potencialidades de forma sustentável, é a animação.

«Procuramos sempre que a animação esteja ligada à identidade do território», por isso haverá gastronomia e música. No dia 22, por exemplo, o serão (21h00) inclui um concerto pelas Moçoilas, o que é garantia de boa música e muita animação.

 

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