Diretora regional de Cultura quer criar plano para aproximar os jovens dos museus e monumentos

Adriana Nogueira deu ao Sul Informação a sua primeira entrevista formal desde que foi nomeada

Criar um plano para aproximar os jovens dos museus e dos monumentos algarvios é um dos (muitos) projetos que Adriana Freire Nogueira, nova diretora regional de Cultura, pretende implementar.

«Há a ideia de que os jovens não são, por sua iniciativa, frequentadores dos monumentos, dos museus, dos palácios. Vão visitar com os professores e as suas escolas, mas não há um plano nessas escolas para fomentar a ligação ao património, como há, por exemplo, em relação ao cinema e à leitura», disse Adriana Nogueira ao Sul Informação, na sua primeira entrevista formal desde que assumiu o novo cargo, a 15 de Dezembro.

«Acabei de vir agora da Delegação Regional de Educação e sei que existe um programa, das direções gerais do Património Cultural e da Educação, que se chama “A minha Escola adota um Museu, Palácio ou Monumento”, mas que não nos abrange a nós, Algarve».

«Ora, eu acho que temos que criar algo aqui no Algarve, mas algo que seja mais permanente, que não seja apenas um concurso. Concurso até já houve um, o “Da minha janela, vê-se um Monumento”. Temos de promover um plano regional, mais adaptado à nossa realidade, de maneira a que a ligação das escolas e dos jovens ao património seja mais próxima», acrescentou.

Adriana Nogueira diz já ter falado do assunto «com o delegado regional de Educação, por isso vamos ver o que isto vai dar».

A diretora regional de Cultura admite que se pode tratar de «uma ideia que me ultrapassa, provavelmente terá de ir a autorização superior». No entanto, interroga, com uma gargalhada: «se eu não tiver ideias agora, quando é que as irei ter?».

A juventude e a sua relação com a cultura, o património, a criação e as artes, são, aliás, áreas em que a nova responsável diz querer apostar em força.

E, sobretudo, mostra-se interessada em apoiar a internacionalização dos jovens criadores. Apesar de estar há pouco tempo no cargo, Adriana Nogueira sabe que o orçamento da Direção Regional de Cultura não é grande, nem é elástico. Por isso, avisa que tais apoios à internacionalização terão «a ver com o dinheiro que houver». Dê lá por onde der, salienta, «tem que haver apoio para a internacionalização, para a projeção internacional dos nossos artistas, em especial os jovens, para levarem lá para fora o que de bom se faz aqui. Por pouco dinheiro que haja, temos de dar um sinal de que se pensa nisso».

Confessando que, com pouco mais de um mês no cargo, ainda não teve «muito tempo para pensar» em todas as suas prioridades, Adriana Nogueira diz que «uma das coisas que gostava de fazer» é «conhecer a realidade, apoiando-me nas autarquias».

Para isso, pretende encontrar-se «com as associações que estão no terreno a trabalhar na cultura, para conhecer as suas realidades e perceber quais são as suas necessidades, de modo a definir como é que a Direção Regional de Cultura as pode apoiar melhor. Nós não temos muito dinheiro, por isso tenho de conhecer essas necessidades para podermos definir os apoios».

Também prioritário para a nova responsável é aumentar o acesso das pessoas à Cultura e ao Património.

Em termos de acessibilidades físicas, destaca o «trabalho que estamos a fazer nos nossos monumentos – Fortaleza de Sagres, Ermida de Guadalupe e Ruínas Romanas de Milreu – para os adaptar para as pessoas com mobilidade reduzida. Em Guadalupe, inclusive, vamos ter língua gestual no que estiver a ser projetado e braille».

Mas há também que eliminar barreiras no que diz respeito às «acessibilidades intelectuais». E o que é uma barreira intelectual? «É o não conhecimento». Por isso, defende a diretora regional, deve-se continuar a proporcionar o acesso das pessoas ao património e à oferta cultural, «por exemplo através do DiVaM, que é um programa que procura a dinamização dos monumentos, de forma a que haja não só o divertimento, mas também a formação. Com esse acesso, estamos a proporcionar às pessoas a abertura à cultura. E isso é uma acessibilidade intelectual».

Depois, há ainda as acessibilidades sociais: «as pessoas não vão às iniciativas culturais ou aos museus, porque pensam que não são para elas. Temos de esbater as barreiras que ainda existem na nossa sociedade. Temos de explicar essa possibilidade que todos têm de acederem à cultura. Lembro-me que, como professora, levava todos os anos os meus alunos ao Museu de Faro e, em 40, só uns 10 já o conheciam». E isto entre alunos universitários.

A este propósito, Adriana Nogueira revelou, na sua entrevista ao Sul Informação, que a Direção Regional de Cultura do Algarve vai passar a ser parceira da Acesso Cultura. «A Dália Paulo, presidente da Acesso Cultura, sugeriu que as sessões de debate passassem a ter lugar aqui na Direção Regional, já que nas outras regiões é assim que acontece e é isso que vai passar a acontecer. A próxima sessão terá já lugar no dia 19 de Fevereiro».

E é também nesta área da acessibilidade que Adriana Freire Nogueira pretende apostar, quando diz que «gostava que fosse mais generalizado o aparecimento de Grupos de Amigos dos Museus, dos Monumentos, dos Palácios». No Algarve, recorda, já há dois desses grupos a funcionar e muito bem, no Museu de Portimão e no do Trajo, em São Brás de Alportel.

«Não será a Direção Regional de Cultura que vai criar esses grupos de amigos, apenas pretende facilitar a sua criação. Por exemplo, em Estoi, porque não criar um grupo de amigos das Ruínas Romanas de Milreu?», desafia.

«Estes grupos são fundamentais, porque, se as pessoas estiverem mais envolvidas com os museus e os monumentos que estão perto das suas residências, também elas dinamizarão mais junto das escolas, dos filhos, dos seus amigos. Isto é uma rede. E se hoje vão ao seu museu ver uma exposição, no outro dia vão a outro lado, fora da sua terra. Os amigos dos museus ou dos monumentos não se esgotam naquele a que pertencem».

Adriana Nogueira sublinha não ter «poder para criar» esses grupos de amigos, «mas se puder influenciar, melhor! Nas conversas que vou ter com os presidentes de Câmara e com as associações, um dos assuntos que vai estar na agenda será esse de incentivar as pessoas a criar grupos de amigos de museus e de monumentos».

E, já que se falou de DiVaM, o programa de Divulgação e Valorização dos Monumentos do Algarve sob tutela da Direção Regional, a sua responsável adiantou que este ano o projeto «continua entregue à Raquel Roxo e avança sem grandes alterações. Não tive a possibilidade de atrasar o processo para me inteirar mais das coisas, por isso, este ano a lógica é a mesma, o que não quer dizer que seja a mesma para o ano. Mas isso também será a própria Raquel que verá».

Um dos problemas com os quais a Direção Regional de Cultura do Algarve se tem debatido, nos últimos anos, é com um quadro de pessoal que até supriria as necessidades…se estivesse preenchido, o que não acontece. E a dificuldade de preenchimento é «algo que ultrapassa a Direção Regional. É o facto de as pessoas não quererem, por exemplo, ir trabalhar para a Fortaleza de Sagres. Pedimos mobilidade, no seio da função pública, mas as vagas na Fortaleza não foram preenchidas. Agora, já comigo, conseguimos pedir para abrir mais dois lugares (tinham sido pedidos quatro, passam agora a ser seis), para pessoas externas, através de contrato de trabalho em funções públicas», explicou Adriana Nogueira.

«Já temos cabimento orçamental para esses seis lugares de assistentes técnicos para a Fortaleza de Sagres, agora depende do Ministério das Finanças a autorização para abrir o concurso», acrescentou.

E porque as verbas do Orçamento de Estado para a Cultura não são muitas, a diretora regional salienta que é preciso «concorrer a projetos, para obter financiamentos».

Neste momento, a Direção Regional de Cultura do Algarve tem «novas candidaturas», uma delas já aprovada, quer pelo CRESC Algarve 2020, quer pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Trata-se do muito aguardado projeto «Balsa – Recuperação e Divulgação de uma Cidade Romana do Sudoeste Ibérico – Projeto cultural para a coesão social e sustentabilidade local», submetido em parceria com a Universidade do Algarve.

Este projeto, que finalmente vai permitir uma intervenção de fundo nas ruínas romanas de Balsa, no concelho de Tavira, nomeadamente com escavações arqueológicas extensas e sistemáticas e possível aquisição de terrenos para o Estado, foi submetido através da CCDR Algarve e já aprovado, na semana passada, pela FCT.

Depois, revelou Adriana Nogueira, há a «candidatura conjunta à Comissão Europeia, liderada pelo Palácio Real de Viena, para criação de uma Rede Europeia de sítios Marca do Património Europeu, submetida no dia 3 de Janeiro», no «eixo temático Memória e Património». Sendo uma candidatura recente, ainda está «em fase de análise». O Algarve é representado nesta candidatura pela Fortaleza de Sagres.

Há também a «candidatura ao programa INTERREG MED, numa parceria com a In Loco e certamente com outros parceiros, para a promoção e valorização do património cultural, de um modo acessível e inclusivo». Já foi submetida a primeira fase.

Com o «projeto já feito», está agora «em preparação uma outra candidatura, em parceria com a Universidade do Algarve, no valor de quase 900 mil euros, denominada “Investigação e divulgação do Centro Histórico de Cacela-a-Velha” e num projeto plurianual».

«O nosso financiamento é curto, portanto é importante estarmos presentes com estas candidaturas», frisou.

Ao fim de cerca de mês e meio de trabalho, Adriana Freire Nogueira faz questão de salientar que «vim encontrar aqui, na Direção Regional de Cultura, um grupo de pessoas muito sabedoras, que sabem o que fazer, e isso dá-me muita segurança. Um diretor é importante para a tomada de decisões, mas o funcionamento prático do dia a dia está muito bem entregue».

«O que as pessoas, muitas vezes, veem da Direção Regional é a presença da sua diretora aqui e ali. Mas o grande trabalho, o menos visível, é feito pelas pessoas que aqui estão, na salvaguarda e na requalificação do património cultural, móvel e imóvel e imaterial», conclui.

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