Avança providência cautelar para acabar com «aberração» da ciclovia de Quarteira

Ciclovia integra-se no projeto Quarteira Lab, mas está a gerar muita contestação

Uma «anedota e uma aberração». A nova ciclovia de Quarteira, nas avenidas Mota Pinto e Sá Carneiro, está a gerar tanta indignação das pessoas que vai ser criada uma associação de cidadãos, com o objetivo de interpor uma providência cautelar contra a obra. Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, garante que a ciclovia «não vai acabar», mas que este é um projeto «experimental, aberto a correções». 

É ao longo de 900 metros, entre a rotunda do Polvo e o Terminal Rodoviário, que está implementada a ciclovia.

A nova faixa para circulação de bicicletas desenvolve-se em cada um dos sentidos de trânsito e veio tornar mais difícil o estacionamento em duas das principais artérias da cidade. A faixa de rodagem para veículos foi também estreitada.

«O espaço está milimétrico e extremamente perigoso. Há zonas onde a faixa de rodagem está com 2,6 metros, o que é muito apertado para os autocarros. Se uma pessoa estacionar e se esquecer de pôr o espelho para dentro, já não passa. Todos os dias têm acontecido casos de autocarros com dificuldade em passar», exemplifica, ao Sul Informação, Carlos Santos, quarteirense e um dos principais rostos da contestação.

«Se a ideia era a descarbonização, ela não foi conseguida, porque os carros, no pára-arranca, ainda emitem mais CO2», lamenta.

A própria circulação na ciclovia pode ser perigosa, devido ao facto de os lugares de estacionamento serem mesmo ali, lado a lado com a via para as bicicletas. Um passageiro mais desatento, ao sair do carro, pode facilmente bater com a porta num ciclista que esteja a passar.

Confrontado com estas questões, Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, considera que a oposição dos moradores à ciclovia se deve «ao efeito novidade».

«É importante referir que isto faz parte do projeto Quarteira Lab, financiado pelo Fundo Ambiental em cerca de 400 mil euros e cuja ideia é testar um conjunto de medidas. Nada disto é uma solução fechada. Quanto a algumas situações de incómodo, causadas em veículos de transporte público, estamos disponíveis para introduzir pequenas medidas de correção», disse ao Sul Informação. 

Segundo o autarca, «está em cima da mesa a possibilidade de diminuir a largura do separador central. É uma questão em estudo. Eventualmente, caminharemos para uma solução desse tipo, mas também poderá haver outras», acrescentou.

Em relação a esta possível alteração, Carlos Santos reconhece que poderá «contribuir para melhorar o fluxo viário e também a segurança dos cidadãos», mas mantém-se convicto de que o melhor é a «demolição» da ciclovia, numa luta em que parece não estar sozinho.

Na passada segunda-feira, dia 25 de Fevereiro, quarteirenses saíram à rua para contestar a obra. A manifestação juntou cerca de duas centenas e meia de pessoas que percorreram, em protesto, as avenidas onde está implementada a ciclovia.

Depois, seguiu-se uma sessão de esclarecimento, num Centro Autárquico totalmente lotado, onde Vítor Aleixo foi várias vezes apupado.

Carlos Santos participou na iniciativa, que reconhece como «um grande momento», assim como Rogério Francisco, dono de um café na Avenida Carlos Mota Pinto.

«A ciclovia veio afetar o meu negócio porque, se as pessoas não tiverem bons sítios para estacionar, com segurança, não vêm ao meu café», lamenta ao Sul Informação. Para o comerciante, «no Verão, com o aumento de tráfego automóvel, a circulação será um caos».

Também Carlos Santos tem a mesma opinião. «O trânsito já era caótico, ficou irremediavelmente mais lento e ainda estamos em Fevereiro», diz.

Na opinião daquele que é o mentor da futura Associação de Cidadãos de Quarteira, a ciclovia devia ser implementada ao longo da Marginal (Avenida Infante de Sagres), junto à praia, até ao Calçadão.

Foto: Paulo Martins, publicada no Facebook

«Era muito melhor. Fazia-se uma ligação à que existe perto da Marina da Vilamoura, vindo em direção ao Passeio das Dunas, passando pelo Mercado e pelo Calçadão até à Fonte Santa. Seria um circuito magnífico», considera.

Também o PSD/Loulé já veio a público contestar a obra, acusando Vítor Aleixo e a sua equipa de mostrarem «um total desrespeito pela população de Quarteira», impondo «uma alteração profunda na circulação da principal artéria da cidade sem ouvir opiniões da população». 

Os sociais democratas propõem ainda que a «ciclovia seja implantada na Avenida Infante de Sagres, a marginal de Quarteira, onde existe espaço e segurança suficientes para permitir circulação bidirecional de bicicletas e zona de circulação de 30 quilómetros por hora». 

Face a isto, o PS de Quarteira emitiu um comunicado em que acusa o PSD de, em Setembro de 2013, quando era executivo na Câmara de Loulé, «ter apresentado um Plano de Mobilidade Ciclável, onde estava prevista uma aposta em Quarteira, precisamente nas Avenidas Mota Pinto e Sá Carneiro, locais onde agora o PSD está a promover tanta oposição, fomentando a discórdia entre os utentes, a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal».

No entender dos socialistas, «o estreitamento do espaço para a circulação automóvel terá como consequência, intencional, a diminuição de velocidades incompatíveis com a segurança de peões, ciclistas e automobilistas, diminuindo a sinistralidade, medida exigida por muitos quarteirenses nos últimos anos».

Contudo, o PS também mostra algumas reticências quanto à obra e já apresentou, na última Assembleia Municipal, de 22 de Fevereiro, uma proposta de medidas de correção tidas como necessárias.

Telmo Pinto (PS), presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, solicitou «que, até Maio de 2020, seja executado, implementado e finalizado o projeto da rede de ciclovias» e que «sejam criadas áreas físicas delimitadas para que melhor sirvam as necessidades dos peões, das bicicletas e dos automóveis, respeitando hierarquias na mobilidade e na segurança dos vários intervenientes».

Por agora, o que já começou foi uma intervenção no separador central, perto da Rodoviária, mas que nada tem a ver com o seu estreitamento para aumentar a faixa de rodagem.

Carlos Santos

Segundo a Câmara de Loulé, está «em curso uma relocalização de alguns equipamentos de iluminação pública, para que seja possível a instalação de sensores de medição do ar, humidade, luminosidade e contadores de tráfego». 

Esta é mais uma medida do projeto “Quarteira Lab”, cujo grande objetivo, em termos gerais, passa pela descarbonização.

Voltando à ciclovia, Vítor Aleixo adiantou ao nosso jornal que ela será prolongada, com o «objetivo de ligar Quarteira a Vilamoura e à Fonte Santa».

«Recuar não vamos, mas reforço que estamos abertos a correções», concluiu.

Indiferentes a estas polémicas, os ciclistas já estão a usar a ciclovia e agradecem o investimento feito pela Câmara de Loulé. Em pouco mais de uma hora, pelo menos uma dezena de ciclistas usou a nova via, quando a reportagem do Sul Informação lá esteve.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

Comentários

pub