Duas peças a estrear, muita música e arte dos PALOP no programa do Lethes para 2019

A ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve voltou a montar um programa «rico e diversificado» em 2019

Espetáculo “Improvável” – Foto: ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve

Duas peças de teatro em estreia absoluta e outra novinha em folha, companhias de vários pontos do país, mas também de Angola e Moçambique, muita música e um cuidado especial com a acessibilidade marcam a programação «rica e diversificada» do Teatro Lethes, em Faro, para 2019.

A ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve apresentou, no sábado, o programa que montou para o Teatro Lethes, que gere há sete anos, numa sessão que foi seguida de mais uma apresentação da peça Frei Luís de Sousa, que se estreou no final de 2018.

Esta é a tal peça novinha em folha, tendo em conta que, apesar de já se ter estreado em 2018, continuará a ser apresentada de 11 a 26 de Janeiro, às sextas-feiras e aos sábados (15h00 e 21h30, respetivamente).

Peça Frei Luís de Sousa – Foto: Pablo Sabater|Sul Informação

Em estreia, estarão outra duas produções, ambas com o selo da ACTA e a partir de textos de autores portugueses.

«Uma delas é a peça “Improvável”, que trata de um reencontro, 40 anos depois do 25 de Abril, entre um homem que fora prisioneiro político e o agente da PIDE que o torturou. Este é um texto inédito, do José Martins, e vai estrear-se, precisamente, no dia 25 de Abril», explicou ao Sul Informação Elisabete Martins,  vice-presidente da ACTA, que foi a eleita para apresentar a programação do Lethes, na sessão que decorreu no sábado.

Neste espetáculo, que estará em cena até 12 de Maio, vão estar juntos em palco os atores Luís Vicente e Pedro Monteiro. A encenação é de Luís Vicente.

Em Novembro (dias 8 a 30), nova estreia, desta vez da peça de teatro “Ibn Qasi”, outro espetáculo com assinatura da ACTA e encenação de Luís Vicente. «Este é um texto inédito de José Carlos Fernández e trata da amizade entre o rei mulçumano Ibn Qasi e D. Afonso Henriques. É um texto muito poético», descreveu Elisabete Martins, que é, igualmente, atriz e produtora executiva da companhia teatral algarvia.

Luís Vicente e Elisabete Martins da ACTA

Estas duas estreias serão acompanhadas por palestras, que chegarão, em ambos os casos, aos pares.

«No caso do “Improvável”, vamos contar com a Isabel do Carmo, médica e ativista política, que falará sobre o medo, bem como com o grande João Mota, ator e encenador, que também é o fundador do Teatro da Comuna», anunciou a vice-presidente da ACTA.

Para falar de “Ibn Qasi”, foram convidados Alexandre Honrado, «que, além de professor, é dramaturgo e ator», além de Frei Fernando Ventura.

Ainda no teatro, o Lethes vai acolher a companhia moçambicana Ooutro d’Santana, que irá apresentar a peça “Recados de Lá”, no dia 8 de Março.

«Teremos ainda, como habitual, o Ciclo de Teatro Espanhol [de 25 a 27 de Outubro e de 1 a 3 de Novembro], bem como o FOME, o Festival de Objetos, Marionetas e Outros Comeres [16 a 29 de Setembro], que, à semelhança do que aconteceu em 2018, também marcará, este ano, presença em seis concelhos do Algarve Central», acrescentou Elisabete Martins.

Também o serviço educativo, o VATe, «continuará a andar por aí», com uma peça nova, “Uma Torneira na Testa”, «que é apoiada pela empresa Águas do Agrave e fala sobre a questão do desperdício da água e sensibiliza para o respeito para com o planeta».

Custódio Castelo

Na música, que é a arte que mais marca presença na programação do Lethes em 2019, a produtora executiva da ACTA destaca «o ciclo Euterpe, que decorre já em Fevereiro e vem sendo parte habitual da nossa programação. Em 2019, vamos acolher o Custódio Castelo, o Vítor Bacalhau, o Janita Salomé, o Couple Coffee, Pablo Lapidusas International Trio e o Grupo Paz e Unidade, de Cante Alentejano».

A Associação de Fado do Algarve também vai promover diversos espetáculos no Lethes, «com o Valentim Filipe e os irmãos Pedro e Teresa Viola. Quase esgotados, estão os bilhetes para o concerto de Daniel Kemish, que vai ter lugar a 2 de Fevereiro.

A Orquestra Clássica do Sul marcará, igualmente, presença na programação e «manterá o seu Lethes Clássico, que é muito interessante e começa já este mês».

«E há uma série de festivais que a Câmara decidiu que haviam de passar no Teatro Lethes, como sejam o Festival de Música Barroca, o Algarve Series Music, o Festival Internacional de Guitarras de Faro e o Faro Blues, que já tem vindo a realizar-se cá e volta em 2019, embora numa data diferente», resumiu Elisabete Martins.

O Monstro está em Cena – Foto: Companhia de Dança Contemporânea de Angola

A dança também terá espaço na programação do Lethes. Desde logo, passará pelo palco da histórica sala de espetáculos farense a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, que apresentará a performance “O Monstro está em Cena”, nos dias 12 e 13 de Outubro.

«Vamos, igualmente, receber a Nádia Buchinho, que fará o seu espetáculo solidário [17 de Março], e os alunos do Atelier do Movimento [13 de Julho]», disse ao Sul Informação a atriz algarvia.

Em 2019, o palco do Lethes volta a estar disponível a quem quiser mostrar os seus talentos, na 4ª edição do Palco Aberto, que decorre de 29 a 31 de Março. «Esta iniciativa tem sido um grande sucesso. Ainda não tínhamos anunciado a programação para este ano nem aberto as inscrições, é já havia três interessados em participar», contou, a rir.

«Tem sido muito interessante perceber que as pessoas querem cá vir. Podem falar de tudo. Passam por cá coisas, talentos escondidos, que nós não fazemos ideia de que andam aí. E há também pessoas que têm a oportunidade de ir atrás do seu sonho. E nós estamos cá, com a equipa técnica, para os ajudar», acrescentou.

A diversidade e riqueza do programa, que pode ser consultado num guia em papel disponível no Teatro Lethes e do qual a ACTA vai dando notícias atualizadas no seu site e na sua página de Facebook, pretende dar resposta a uma crescente procura da parte do público.

«No final de 2016, dissemos que, no final de 2017, queríamos ultrapassar a marca dos 10 mil espetadores num ano. Chegámos e ultrapassámos. Este ano [2018], feitas as contas, já temos 11.085 espetadores, o que é fantástico. Nos sete anos desde que assumimos a gestão e programação do Teatro Lethes, o público tem vindo a aumentar», contou Elisabete Martins.

Para a atriz e produtora executiva da ACTA, isto significa que «começa a haver resposta da comunidade e reconhecimento pelo trabalho que temos vindo a fazer».

Também por isso, foi criado o Cartão de Amigo do teatro, o Lethes Go. «É a nossa novidade! O cartão surge no sentido de valorizar a fidelidade no nosso público, mas também para tentar criar novos públicos e facilitar a vinda ao teatro. Não é que seja muito caro, mas é simpático ser reconhecido por cá vir regularmente. Estou otimista e acredito que vai correr bem», afirmou.

O ano de 2019 marcará, igualmente, o arranque de um projeto na área da acessibilidade. «Nós, na ACTA, já temos uma parceria com a Apatris 21, no projeto “Inclusão pela Arte”, que no fundo, torna as aulas de expressão dramática acessíveis a pessoas portadoras de deficiência, neste caso, Trissomia 21, autismo e outra patologias que não estão identificadas».

Nesse trabalho, ao qual Elisabete Martins está intimamente ligada, «deparámo-nos com o resto, com o facto disto da acessibilidade não ser apenas uma questão física. Há uma comunidade de tamanho expressivo de surdos e com deficiência visual. E nós decidimos encetar esta parceria com a Acesso Cultura, de modo a tornar o Lethes mais acessível».

Projeto Inclusão Pela Arte – Foto: ACTA

Desta forma, será promovida, no Dia Mundial do Teatro, 27 de Março, uma visita encenada que terá um intérprete de língua gestual, algo que «demora um bocado a preparar», já que «a intérprete vai ter de aprender o texto e de ensaiar connosco».

«Nos próximos anos, teremos espetáculos com áudio descrição e sessões descontraídas, que, como o nome indica, são espetáculos preparados para todo o tipo de público, onde há sempre luz na plateia. Normalmente, pessoas que tenham dificuldades de audição, visão ou défice de atenção, são olhadas de lado e mandadas calar. Estas sessões são para o público em geral, mas destinam-se a fazer com que estas pessoas se sintam à vontade», disse, ainda, Elisabete Martins.

A programação do Lethes será isto e muito mais e contará com a presença de diversas companhias de vários pontos do país, como a Companhia de Teatro de Braga, o Teatro de Montemuro e o Teatro do Noroeste, entre outras.

«E a ACTA irá por aí fora em digressão, com vários espetáculos», noutros concelhos da região, mas também além-fronteiras do Algarve, concluiu Elisabete Martins.

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