Tó Trips e João Doce trazem a sua «Guitarra Makaka» a Santo Estêvão

Concerto encerra ciclo de 2018 dos «Serões de Outono»

Tó Trips, acompanhado por João Doce, vai apresentar o seu projeto «Guitarra Makaka» num concerto marcado para sábado, 15 de Dezembro, às 22h00, na Casa do Povo de Santo Estêvão, no interior do concelho de Tavira, a fechar a edição 2018 do ciclo «Serões de Outono».

Ao vivo, na senda de levar o «Guitarra Makaka» pelo país fora, Tó convidou e construiu um espetáculo cúmplice e entusiasmante com o percussionista João Doce, reputado músico angolano residente em Esmoriz, Aveiro, sobejamente (re)conhecido como membro dos Wray Gunn e colaborador de The Legendary Tigerman.

Com este espetáculo encerra o ciclo de programação “Serões de Outono 2018”. «Foram noites inesquecíveis, de grande empatia/sintonia entre os músicos e o muito público que se deslocou até ao interior do concelho de Tavira, ao Barrocal. Foram vários os espetáculos esgotados», salienta José Barradas, responsável pela organização.

De tal modo que «os objetivos foram largamente ultrapassados, qualidade artística e de produção, propostas em período de época baixa, descentralização, trabalho em rede, mediação cultural, e levar as pessoas, pela programação, a esta pequena aldeia, que, de outra maneira nunca, porventura, lá iriam», acrescenta.

Tó Trips é co-fundador de marcos da recente música nacional, como é o caso dos Lulu Blind ou Dead Combo, e membro da fase final dos Santa Maria Gasolina em Teu Ventre, lançou, em 2009, o seu primeiro álbum a solo, ‘Guitarra 66’, pela Mbari, efusivamente recebido pela crítica.

Registo de música crua, aberta, generosa, de espírito nomádico, encaixa as pistas e materializações que Trips dava já nos Dead Combo. O meta-fado de Paredes, a música de fantasminhas da boémia lisboeta, a tradição cubana como vista por Marc Ribot, o lado mais lírico do western spaghetti de Ennio Morricone ou o encontro ibero-árabe do flamenco, deixando-nos com uma linguagem que entretece todos estes vocabulários e o torna uma língua sua, real como só os verdadeiramente bons e honestos o conseguem ser.

Guitarrista do melancólico e do luminoso, transforma em som um homem que é profundamente português, fascinado pelas viagens – reais, internas, imaginárias e impossíveis.

Regressou, em 2015, com o novo disco “Guitarra Makaka – Danças a um Deus Desconhecido”. E mais uma vez não se deixa Tó prender a fórmulas, não obstante possuir, à guitarra, um estilo particularmente distinto.

Isto é, o aparecimento de um novo disco a solo seu deve-se, antes de mais, à necessidade de documentar o desenvolvimento e exploração de uma nova linguagem. Mais concretamente à guitarra Resonator, com os seus cones metálicos a ampliar de modo natural o som e raízes associadas a ícones como Tampa Red ou Bukka White.

Não que Tó finja aqui ser quem não é – aliás, mais longe do blues do delta do Mississippi não podia estar. Afinal, o seu interesse na tradição será apenas por aquilo que – na acepção real do termo – ela possui de mais primitivo. Isto é, o seu projeto é efetivamente o da prossecução daquilo que, em rigor, nas cordas de aço, nunca existiu em lugar nenhum.

Daí que se socorra da alegoria da “ilha imaginária”, embora trabalhe igualmente no sentido de evocar memórias específicas. No fundo, mais não se fala do que de uma música que soube fazer do isolamento uma fortaleza e da independência o melhor que tem a dar de si.

 

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