No TASA, o artesanato também tem de ser ético

TASA faz questão que os seus produtos sejam sustentáveis dos pontos de vista cultural, ambiental e ético

Foto: Pablo Sabater|Sul Informação

O projeto TASA – Técnicas Ancestrais, Soluções Atuais lançou uma nova leva de produtos artesanais, feitos a pensar nas necessidades do mundo atual. Com eles, foi igualmente lançado um manifesto, em que se defende que além de uma componente cultural e de valorização dos recursos endógenos, também tem de haver uma dimensão ética associada ao artesanato, de modo a que quem o cria tenha uma remuneração justa.

Na visão de Graça Palma, da ProActiveTur, que gere este projeto que teve a sua génese no seio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, as artes tradicionais precisam de ser mais valorizadas e, acima de tudo, mais respeitadas pela sociedade. Só assim haverá futuro para elas.

«Sustentável significa, também, que estes ofícios continuam vivos na economia e que os produtos sejam necessários. As pessoas faziam isto para criar objetos de que precisavam, muitas vezes a nível doméstico. Tem de haver pessoas a querer e resposta para essa procura», considerou.

«Mas isso tem de ser enquadrado em certos princípios e numa visão que nós, no TASA, temos da sociedade. Não queremos que haja exploração no trabalho, pretendemos que estas artes sejam devidamente valorizadas e que se tenha em conta o tempo e o trabalho que ali está investido», acrescentou a Graça Palma, em declarações ao Sul Informação.

 

 

Para a ProActiveTur, «a sustentabilidade tem três pilares: cultural, o ético e o ambiental.

O ambiental, diz Graça Palma, é o mais fácil de passar. «São materiais naturais, matérias-primas orgânicas, que se encontram na nossa paisagem».

Também a dimensão cultural é relativamente fácil de explicar. «Percebe-se que há aqui uma história, que são artes e ofícios que são seculares, em alguns casos milenares, como é o caso da cestaria, que é anterior à cerâmica e à olaria, e que estão muito associadas a um modo de viver e a um território».

«A parte ética é mais complicada, porque significa desconstruir uma realidade que ainda impera hoje no Algarve: durante décadas, desvalorizou-se estes ofícios, pois era considerada uma atividade menor, de gente que não era escolarizada, e estava muito associada à pobreza. As pessoas eram exploradas e vendiam ao desbarato», enquadra.

Esta mentalidade «ainda existe na sociedade e mesmo nos artesãos. O que nós defendemos é uma visão ética, pela dignificação das artes e ofícios artesanais, que são um trabalho tão digno como qualquer outro. É até mais específico e especializado e quem os faz têm uma função importante na sociedade, para manter a diversidade cultural e a justiça social, bem como estes modos sustentáveis de trabalhar e a cultura viva».

 

 

Apesar de ainda não haver qualquer selo ou certificação que ateste esta dimensão ética, «há já entidades a caminhar nesse sentido. Neste momento juntámos ao nosso logotipo estas três dimensões, explicando a quem compara produtos TASA a forma como defendemos estes valores».

A sustentabilidade é, de resto, uma preocupação demonstrada há muito por esta empresa e faz parte do ADN do TASA.

Afinal, o grande objetivo do TASA é manter as artes tradicionais, criando novos produtos, em parceria com quem se dedica a estas artes e ofícios há décadas, mas procurando, também, formar novos artesãos, que garantam que estes saberes, em alguns casos, milenares não se percam.

«Nós estamos a tentar disseminar as artes tradicionais e tentar que eles sigam para as novas gerações. Já conseguimos formar novos artesãos , que já estão a trabalhar e criaram produtos inovadores. Alguns são protótipos, outros estão já a ser comercializados», enquadrou Graça Palma.

 

 

Estas novas criações estiveram expostas no Hotel Maria Nova, em Tavira, cujos clientes tiveram a oportunidade de experimentar, durante uma semana, o que é ser artesão.

«Quisemos proporcionar aos turistas, aos visitantes e aos curiosos experiências criativas em que contactam com os materiais e com as técnicas. É claro que são objetos mais simples, mais fácil de fazer, o que lhes permite levar consigo uma memória do Algarve».

A ideia é conseguir que quem visita o Algarve leve da região uma imagem «não tão etnográfica, do senhor velhinho em cima do burrinho, mas a ideia de que a cultura está viva e presente na nova geração».

«Estivemos aqui a convite do Hotel Maria Nova, que teve esta visão e já antes tinha procurado esta mensagem», explicou Graça Palma, à margem de uma tertúlia realizada nesta unidade hoteleira, onde se procuraram caminhos para o futuro do artesanato, no Algarve.

Esta sessão contou com artesãos, mas também com representantes da associação Passar ao Futuro, uma organização internacional que tem um polo em Lisboa e que trabalha questões relacionadas com a sustentabilidade das artes tradicionais. Durante a conversa, foi muito focada a dimensão da ética e da justiça social associada ao artesanato.

 

Fotos: Pablo Sabater|Sul Informação

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