Morreu o professor Joaquim Romero Magalhães

A Universidade do Algarve tinha-lhe atribuído, há poucos dias, o título de Doutor Honoris Causa

Joaquim Romero Magalhães, na cerimónia do seu doutoramento honoris causa, na Universidade do Algarve, a 12 de Dezembro passado – foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Joaquim Romero Magalhães, de 76 anos, morreu esta madrugada, na sua casa, em Coimbra, confirmou o Sul Informação junto de fonte ligada à família.

O historiador e investigador algarvio, professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, onde se dedicou sobretudo a investigar a História Económica, em especial do seu Algarve natal, era natural de Loulé, onde nasceu em 1942.

Reconhecendo a sua carreira e vida exemplar, a Universidade do Algarve tinha-lhe atribuído, há poucos dias, a 12 de Dezembro, o título de Doutor Honoris Causa, numa cerimónia emotiva que o Sul Informação acompanhou.

Ainda não se sabe pormenores sobre as suas cerimónias fúnebres. O historiador algarvio tinha estado doente no Verão, tendo mesmo estado internado, mas tinha vindo a melhorar nos últimos meses. Na cerimónia do doutoramento honoris causa, apesar de debilitado, mostrou toda a sua vitalidade intelectual.

Eis uma breve biografia de Joaquim Romero Magalhães, feita com base no discurso de Maria Leonor Costa, professora no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que foi a sua madrinha no doutoramento Honoris Causa ao académico algarvio:

Nasceu em 1942 em Loulé. Cursou o liceu em Faro e seguiu para Coimbra em 1959, preterindo no ano seguinte Direito em favor da História.

Nos tempos de estudante participou no associativismo académico, então uma das formas mais expressivas de intervenção cívica e política para um jovem estudante num país em ditadura. O regime, ao reprimir a “chamada crise académica” de 1962 com forças policiais, despertaria nesta geração o interesse pela atividade política, tornando-a protagonista da resistência ao Estado Novo.

Membro da República do Prakistão, Joaquim Romero Magalhães foi presidente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra e presidente da Associação Académica de Coimbra nos anos críticos de 1962 e 1963.

Defendeu a tese de licenciatura em 1967 e pouco mais tarde, após um brevíssimo período como professor do ensino secundário, encetou em 1973 a sua carreira de docente na Faculdade de Economia daquela universidade. Ali prestou provas de Doutoramento em 1984 e de Agregação em 1993. Teve posição de catedrático em 1994, sendo desde 2012 catedrático jubilado.

Logo na elaboração das provas finais de licenciatura encontrou boas razões para olhar a região onde nasceu. Escreveu um retrato inovador do Algarve interessando a prestigiada editora “edições Cosmos”, que nesses anos finais da década de 1960 se distinguia no panorama editorial português pela entrega de coleções a diretores cientes de que a divulgação científica e cultural é um meio de intervenção cívica.

Saiu a sua primeira obra impressa em 1970 com o título “Para o estudo de Algarve económico durante o século XVI” na coleção Marcha da Humanidade, dirigida pelo seu mestre Vitorino Magalhães Godinho, outra figura notável da cultura portuguesa, que revolucionou a historiografia e que viu em Joaquim Romero Magalhães o seu natural herdeiro intelectual.

A revolução de 25 de Abril de 1974 alterou a marcha de Portugal, chamando o doutor Joaquim Romero Magalhães para o centro das decisões que transformariam profundamente a sociedade portuguesa. O país conheceu em 1976 uma nova constituição política. Joaquim Romero Magalhães na sua juventude, então com 34 anos, deu um contributo decisivo a esta fase da vida nacional, como deputado eleito à Assembleia Constituinte.

É hoje, como tal, Deputado Honorário à Assembleia da República, distinção que o parlamento português deliberou por unanimidade atribuir em Março de 2016 aos deputados da Assembleia Constituinte, considerando uma forma digna de comemorar os 40 anos da aprovação da Constituição da República Portuguesa de 1976, para a qual muito contribuiu a pluralidade das visões políticas representadas pelos diferentes deputados à Assembleia Constituinte.

Além de deputado, Joaquim Romero Magalhães deu mais serviço à causa e coisa pública, sendo secretário de Estado da Orientação Pedagógica entre 1976-1978.

As suas qualidades pessoais e a confiança que mereceu das forças vivas nacionais em diversos ciclos eleitorais justificam a sua continuada intervenção na vida do município de Coimbra, como presidente da Assembleia Municipal entre 1986 e 1998.

Por diversos anos académicos entre 1985 e 1999 exerceu cargos de direção na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, quer como presidente do Conselho Diretivo quer como presidente do Conselho Científico (1989-1991, 1996-1999), certamente porque para tais funções importa igualmente a consideração e confiança dos pares.

É ainda pelas suas qualidades pragmáticas, mas também pela sua sensibilidade ajustada ao exercício da diplomacia, que lhe foi confiada a presidência da Comissão Nacional Para As Comemorações Dos Descobrimentos Portugueses, com cargo de Comissário-Geral entre 1999- 2002. Ações e virtudes devidamente assinaladas com seis condecorações, cinco das quais conferidas pelo estado brasileiro e uma pelo Estado português.

Outros dados biográficos (fonte – Universidade de Coimbra):

Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1967); diplomado com o Exame de Estado de professor do ensino liceal (1971); Doutor (1984), Agregado (1993) e Professor Catedrático Jubilado (2012) da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Professor convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (1989 e 1999); da Universidade de São Paulo (1991 e 1997); e da Yale University (2003); Sócio correspondente estrangeiro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (2001).

Coordenou no Alvorecer da Modernidade, vol. III da História de Portugal dirigida por José Mattoso (1993). Publicou recentemente Vem aí a República! 1906-1910 (2009). Na Imprensa da Universidade está a reunir obra dispersa com o título genérico de Miunças, três volumes (2011-2012).

Presidente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (1963), Presidente da Associação Académica de Coimbra (1964); Deputado à Assembleia Constituinte da República Portuguesa (1975-1976); Secretário de Estado da Orientação Pedagógica dos governos presididos por Mário Soares (1976-1978); Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (1985-1989 e 1991-1993); Comissário-Geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002), e diretor da revista Oceanos (1999-2001). Membro da Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República (2009-2011).

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