Apanha mecanizada da azeitona mata milhares de aves na Península Ibérica

Relatório denuncia a morte de milhões de aves na região de Andaluzia durante a apanha da azeitona mecanizada noturna

A apanha de azeitona mecanizada durante a noite em olivais intensivos está a causar a morte de milhares de aves, segundo um relatório oficial emitido pela Junta da Andaluzia (Espanha), que acaba de ser tornado público.

Estes valores podem ultrapassar os 2 milhões de aves, segundo as estimativas desta entidade.

Tendo em conta estes dados, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves anuncia ter solicitado junto do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) que «seja também avaliada com urgência esta situação nos olivais intensivos portugueses».

Milhares de aves migradoras e invernantes usam as zonas de olival como pontos de paragem e refúgio quando estão a migrar.

A utilização de máquinas da apanha da azeitona durante a noite leva a capturas, em números muitíssimo elevados (100 aves por hectare), e causa a morte de milhares de aves. Na sequência deste relatório, têm surgido mais denúncias em outras zonas de Espanha e mesmo em Portugal.

«Apesar da dificuldade de comprovar a veracidade de algumas denúncias e a verdadeira magnitude da situação, começa a ser mais do que evidente que este cenário também se verifica no nosso país, sempre que se recorre à apanha mecanizada neste tipo de olival. Quando os trabalhos decorrem durante a noite, altura em que as aves não conseguem reagir, as consequências são ainda mais desastrosas», salienta a SPEA.

Segundo Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento Terrestre da SPEA, «esta prática poderá afetar severamente as espécies migradoras, tendo um impacto não só nas áreas onde estão implantados os olivais intensivos, mas também nas regiões para onde estas aves se dirigem, criando um dano ambiental a nível europeu».

O relatório oficial aponta para uma estimativa de mais de 2 milhões de aves afetadas. O documento alerta ainda para o facto das aves mortas serem usadas posteriormente como petiscos, contribuindo para um mercado ilegal e que coloca em causa a própria saúde pública.

A SPEA apela à «denúncia de situações em Portugal» e, tal como outras organizações, exige «uma real averiguação do impacto destas operações por parte do ICNF e entidades oficiais e mesmo a sua proibição no caso de se verificar que causa mortalidade nas aves».

Joaquim Teodósio salienta ainda que «este é um problema global, muitas destas espécies são insetívoras e contribuem para a redução de pragas de insetos, por exemplo. A sua diminuição poderá levar ao aumento de pragas e consequentemente à utilização em doses ainda superiores de produtos químicos. Mais um impacto negativo decorrente desta agricultura intensiva que no nosso país tem vindo a causar consequências desastrosas a nível do solo, da biodiversidade, da água, entre outros».

 

Clique aqui para consultar o relatório «Informe sobre el impacto generado por la explotación del olivar en superintensivo sobre las especies protegidas en Andalucía»

 

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