Funambulismo, novo circo, teatro, música e produtos locais são estrelas em Monchique e Aljezur

A partir do próximo fim de semana e até aos primeiros dias de Junho, pela serra e pelas falésias, haverá muita coisa a acontecer

«Por força das circunstâncias, este ano começamos convocando um elogio ao fim – falamos daquilo que termina como forma de falar também do que começa quando algo termina». Este é o mote geral da programação da temporada 2018/2019 do projeto «Lavrar o Mar», ontem apresentado em conferência de imprensa na quinta da Lameira, na martirizada Serra de Monchique, local do primeiro espetáculo.

A programação, que volta a ser apoiada financeiramente pelo 365Algarve, pela Direção Geral das Artes, CRESC Algarve 2020 e pelas Câmaras Municipais de Monchique e Aljezur (e conta com apoio logístico da Junta de Freguesia de Monchique), começa já este fim de semana, dias 10 e 11 de Novembro, com «Medronho #1 – o fogo não tem quatro letras». A saga «do Romeu e Julieta monchiquense» tem aqui uma reviravolta, com a entrada em cena do pai, Manuel Monteiro, personagem interpretada pelo ator António Fonseca, e do filho, Ezequiel (Pedro Frias).

O ator António Fonseca em «Medronho #1 – o fogo não tem quatro letras»

O espetáculo terá lugar no meio da serra, ali mesmo na Lameira, entre cinzas e a primeira erva verde nascida com as chuvas outonais. Nos fins de semana de 10 e 11 e ainda de 17 e 18, nos quatro dias com duas sessões, às 11h00 e às 14h30, o ponto de encontro será o Heliporto de Monchique, de onde o público será transportado para o local do espetáculo.

Os bilhetes custam 10 euros, incluindo uma refeição ligeira que, desta vez, não terá aguardente de medronho. A produção recomenda que se leve calçado confortável e roupa apropriada para a chuva.

 

Do carvão e das cinzas, vai passar-se à exuberância e ao fulgor da festa, em «Dancing!», o espetáculo previsto para os dias 29, 30, 31 de Novembro e ainda 1 de Dezembro, na sede do Rancho Folclórico no Rogil, a propósito do Festival da Batata-Doce, que, por esses mesmos dias, decorre em Aljezur.

Um baile e um jantar, onde a batata-doce será a estrela da noite, confecionada por mãos experientes, segundo receitas, às vezes surpreendentes, da Eritreia, de Moçambique, da Índia e do Norte de África. «Vamos comer com as mãos, sentar-nos em mesas baixas e dançar», explicou Madalena Victorino, uma das responsáveis por esta nova produção do «Lavrar o Mar».

Para dançar, haverá a estreia da Orquestra Vicentina, que resulta de um desafio lançado por Júnior, músico e vocalista dos Terrakota, que vive em Aljezur, a Madalena e a Giacomo Scalisi. Mas haverá ainda a presença dos caboverdianos «Fogo Fogo», apelidados como «a banda mais quente do pedaço».

«Será a festa a contrapor a este Medronho, mais dramático», explicou Madalena Victorino.

 

Nos dias 8 de Dezembro, no Espaço+, em Aljezur, e 9, na sala multiusos da Junta de Freguesia, em Monchique, chega «KÂO – Embalos do Mundo», que, segundo a encenadora, vem «preencher um espaço que tem estado quase vazio na nossa programação, o do teatro e música para a pequena infância». «Várias pessoas, que têm filhos pequenos, têm-nos feito chegar essa necessidade».

«KÂO» traz o canto polifónico, através de três vozes de três mulheres portuguesas: Sofia Portugal, Susana Quaresma e Tânia Cardoso. Ao colo das suas mães e pais, recriando «o mais íntimo dos gestos – o embalo do colo», as crianças dos 0 aos 3 anos vão escutar canções de embalar de muitas paragens do mundo.

Os bilhetes custam 3 euros (adulto+bebé), para um espetáculo que durará 35 minutos.

 

No fim do ano, como já se está a tornar tradição em Monchique, chega o novo circo, desta vez com a companhia francesa Cirque Aïtal, que se apresentará na tenda que será armada no heliporto, entre 28 de Dezembro (sempre às 21 horas) e 1 de Janeiro (às 17h00).

Trata-se do espetáculo «As Estações do Circo», que se estreou em Junho, num festival em França, está agora a ser apresentado em Paris e depois vem diretamente para Monchique.

O chapitô a montar terá, desta vez, lugar para 670 pessoas, já que, nos dois anos anteriores, «muita gente ficou de fora, por falta de espaço», recordou Giacomo Scalisi, o outro responsável pela programação.

Giacomo promete um espetáculo que vai fazer «uma ponte entre circo tradicional e novo circo», com uma trupe de 25 pessoas, de várias nacionalidades do Norte da Europa, desde franceses, a finlandeses e russos. A promessa é de «estímulos acrobáticos, música ao vivo, e onde a relação com os animais, neste caso dois cavalos, volta a aproximar-nos de um lugar primordial, onde poderíamos sonhar e deixar a respiração suspensa por um fio de espanto».

Na noite de 31 de Dezembro, como também é já tradição, o espetáculo terminará com uma festa de passagem do ano, com música, petiscos serranos e muita animação, onde participará a trupe do Cirque Aïtal.

 

Entrando no novo ano de 2019, o primeiro espetáculo a ser apresentado será «Eva Poro», uma criação de Madalena Victorino com artistas que estarão em residência, entre 7 e 31 de Janeiro. O primeiro resultado desse trabalho será apresentado ao público nos dias 8, 9 e 10 de Fevereiro, em Aljezur, e 22, 23 e 24 do mesmo mês, em Monchique, em locais ainda a definir. Em Maio, haverá um «Eva Poro», parte 2, a fechar toda a programação.

Na conferência de imprensa, Madalena Victorino explicou que se trata de uma co-criação com vários artistas, dirigida por ela, mas com um «grupo de performers muito interessantes, que vão trabalhar com crianças da comunidade». «Interesso-me muito por esta relação entre arte e comunidade», acrescentou.

Esta nova produção irá misturar «crianças da escola pública e crianças da escola alternativa», «que não se encontram e que têm também educações diferentes».

O espetáculo terá como mote «o ar como espaço da criação de um novo espaço». «Eva é uma égua que desaparece no prado, Poro é a pele».

Outra característica interessante, segundo Madalena, é que, em Fevereiro, o espetáculo inclui «só homens e rapazinhos», enquanto em Maio terá «mulheres e meninas». Será um «dividir destes dois mundos, masculino e feminino», que abordará de forma muito criativa e até experimental a relação entre os géneros.

A criação vai contar com a violoncelista Joana Guerreiro, também coautora e responsável pela música original que será apresentada. Ela irá «entrar no mundo masculino para produzir a música, mas eles não a veem», explicou Madalena Victorino.

E onde será apresentada esta criação? «Vai seguramente acontecer na natureza, em espaços em evaporação. Pensei em aldeias que desaparecem. Estou a trabalhar para encontrar a melhor cenografia para esta experimentação», revelou a encenadora.

 

Em Março, chega então o «Medronho #2», desta vez com textos de Afonso Cruz, sobre as mulheres da Serra. As apresentações serão nos fins de semana de 15,16 e 17 e ainda 22,23 e 24 de Março, em Marmelete, sempre às 20h00.

Giacomo Scalisi explicou que Afonso Cruz, com este novo espetáculo, estará a «escrever para este outro lado da serra, onde o medronho ainda existe e não foi levado pelo fogo». Aqui, anunciou, a performance teatral dos atores voltará a ser acompanhada por uns copinhos de aguardente de medronho.

«Iremos beber o medronho que, de um momento para o outro, pode desaparecer», frisou. Mais uma vez, como pano de fundo, estará a questão de «como as coisas acabam e recomeçam».

 

Em finais de Março e em Abril, culminando com uma «Grande Travessia» na paisagem, aberta ao público (e de acesso gratuito), no Domingo de Páscoa, dia 21, haverá uma residência criativa sobre um aspeto particular do novo circo, o funambulismo.

A artista francesa Tatiana-Mosio Bongonga, «cujo palco é um fio, suspenso a 80, 90, 100 metros de altura, onde ela faz um percurso de 300 metros», como disse Giacomo Scalisi, irá começar por ensinar o que sabe em ateliês na última semana de Março e de 1 a 20 de Abril, em Monchique e Aljezur.

No dia 21 de Abril, Domingo de Páscoa, em princípio à tarde, haverá então uma «grande travessia na paisagem», com Tatiana e talvez alguns dos participantes nos ateliês. «Não sabemos ainda onde será esta travessia, mas será na natureza», anunciou Giacomo.

A acompanhar a travessia suspensa num fio esticado a dezenas de metros de altura, haverá música, com «uma orquestra de sopros, com mais de 100 elementos», que será criada de propósito para este espetáculo.

Remi Gallet, músico e compositor que «vive aqui há muito tempo» e com o qual Tatiana trabalha, será o responsável pela parte musical deste evento inédito no Algarve…e pouco visto no resto do país, mesmo nas grandes cidades.

«Teremos uma grande orquestra de sopros, de instrumentos do ar, o mesmo ar que vai sustentar Tatiana na sua travessia», acrescentou.

 

Foto: Christophe RAYNAUD DE LAGE/WikiSpectacle

Entre 3 e 5 de Maio, nos dois concelhos, haverá mais uma vez novo circo, mas agora com a francesa «Cie. XY», que, com os seus 21 acrobatas, apresentará o espetáculo «Les Voyages». Será um evento de «acrobacia aérea e de mão em mão, muito físico», explicou Madalena Victorino.

É uma criação «site specific», ou seja, criada «em função do que encontrarem no território, pessoas, terras, ruas, falésias». No final, haverá «um grande momento, não se sabe ainda exatamente onde, para apresentar essa criação que eles vão desenvolver». Será um espetáculo que valoriza «a relação entre corpo, acrobacia, território e ar».

Finalmente, a fechar mais esta temporada de programação do «Lavrar o Mar», em Maio haverá o segundo ciclo do «Eva Poro». As apresentações serão nos dias 17, 18 e 19, em Monchique, e nos dias 31 de Maio, 1 e 2 de Junho, em Aljezur. Mais uma vez, para já, ainda não se sabe quais os locais que serão escolhidos.

Giacomo Scalisi, durante a conferência de imprensa, enquadrou o trabalho que tem sido feito e a sua capacidade de atrair, a dois concelhos periféricos do Algarve, companhias e artistas de grande gabarito internacional. E nem tudo tem a ver com o dinheiro…

«Nestes três anos, criámos uma grande relação com as pessoas, com a comunidade. Construímos esta teia. As companhias estrangeiras vêm para cá, utilizam esta teia e desenvolvem os seus próprios projetos». O que resulta desta mistura poderá ser visto, até Maio, em diversos locais dos concelhos de Aljezur e de Monchique.

 

Bilhetes:

Podem ser comprados clicando aqui.

Estão ainda disponíveis nestes locais:
Monchique: Biblioteca Municipal
Aljezur: Casa Lavrar o Mar – Rua João Dias Mendes
Odeceixe: CTT

(os bilhetes irão sendo postos à venda à medida que os espetáculos se forem aproximando)

 

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