Arquivo das adegas de Lagoa e de Lagos doado para ser tratado e aberto aos investigadores

Espólio arquivístico, bem como peças de arqueologia industrial foram doadas pela Única à Câmara de Lagoa

Registos da entrega de uvas, desde os anos 50, dados sobre os sócios e a sua localização, quantidades de vinho produzidas, vendas e exportações, fotografias, rótulos. Todas estas e muitas mais informações, sobre quase sete décadas de vida das antigas Adegas Cooperativas de Lagoa e de Lagos, foram agora doadas ao Arquivo Municipal de Lagoa, que as irá tratar.

O espólio arquivístico tinha sido herdado, em 2008, pela Única – Adega Cooperativa do Algarve, que resultou da fusão das duas outras adegas. Com as alterações que se avizinham, devido à venda das instalações da cooperativa em Lagoa, todo esse património de informação estava em risco de perder-se.

O protocolo de cedência desse arquivo foi assinado na quarta-feira, dia 14, entre os presidentes da Câmara de Lagoa (Francisco Martins) e da direção da Única (Maria Alice Saraiva), numa cerimónia que teve lugar num dos edifícios da antiga Adega de Lagoa que ainda se mantém de pé.

Aquele espólio arquivístico é um património «de inestimável valor, não apenas para a memória do concelho de Lagoa e região algarvia, mas também da maior relevância para o conhecimento da história da produção vitivinícola portuguesa da segunda metade do século XX».

Diogo Vivas, responsável pelo Arquivo Municipal de Lagoa, salientou que se trata de um «espólio desconhecido do público em geral, não estudado, nem organizado», mas «passível de ser organizado», para evitar o «perigo da perda».

Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa, salientou que «o protocolo é muito mais do que estar a salvaguardar a história da adega, é estar a salvaguardar a história do nosso concelho». É que, acrescentou o autarca, pelo menos desde meados do século XX, «a história da adega é também a história do concelho de Lagoa».

Maria Alice Saraiva, presidente da direção da Adega Única, frisou o «esforço de renascimento, de presença na comunidade lagoense» que tem vindo a ser feito pela nova direção, ainda com menos de um ano de trabalho. É um «esforço», acrescentou, que «tem sido sempre acompanhado pela Câmara Municipal».

O vinho e a sua produção, salientou aquela responsável, são um importante «património» do Algarve. Por isso, a doação do arquivo das adegas a uma entidade que o possa tratar foi considerada um marco na preservação desse património.

Mas não será só isso que a Câmara de Lagoa irá herdar da Adega. Esta é «detentora de um vasto conjunto de equipamentos vinícolas, desde maquinaria e alfaias agrícolas, a garrafas de vinho e bebidas espirituosas de sua produção», elementos que serão aproveitados para a criação do núcleo do futuro Museu Municipal. Parte deles estava, na quarta-feira, exposta de forma simples, durante a assinatura do protocolo e o magusto, acompanhado por vinhos de Lagoa, que se seguiu.

«Trata-se de um conjunto de objetos relacionados com esta atividade económica, que serviram de base à laboração das adegas e que se revestem de significante valor patrimonial no domínio da arqueologia industrial, obsoleto, face à evolução tecnológica e dos processos de fabrico, mas em razoável estado de conservação», acrescentou Diogo Vivas.

Para já, a ideia é que esse espólio da arqueologia industrial se mantenha nas instalações da adega em Lagoa. Mas o presidente da Câmara aproveitou para anunciar que uma prensa de vinho, que é parte desse espólio, será colocada, em breve, no centro da rotunda da EN125 junto à adega. Isto, claro, se a empresa Infraestruturas de Portugal, responsável pela estrada nacional, o autorizar. «Só nos falta que decidam quem manda na rotunda, porque parece que aquilo, afinal, não é de ninguém», brincou Francisco Martins.

Quanto ao espólio arquivístico, Diogo Vivas revelou ao Sul Informação que serão necessários ainda «muitos meses» de trabalho para classificar, catalogar, acondicionar e tratar toda a informação das duas antigas adegas.

Para já, a documentação parece estar toda em «bom estado de conservação», o que, de algum modo, facilita a longa tarefa dos arquivistas. Mas não se sabe ainda quando é que tudo estará devidamente tratado, para que a informação possa ser disponibilizada e aberta aos investigadores e a todos os outros interessados.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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