Só a união pode pôr o Algarve no mapa do turismo culinário e enológico

Até final do mês, a Tertúlia Algarvia, um dos parceiros do projeto Algarve Cooking Vacations, vai começar a comercializar dois programas no principal site internacional de turismo culinário

Foto: Gonçalo Dourado/Sul Informação

O Algarve tem recursos para fazer tudo o que se faz por esse mundo fora, no que toca a turismo culinário e enológico, e «muito mais». Agora, é preciso que os agentes de diferentes setores se juntem, para criar programas que possam competir no mercado internacional e pôr a região no mapa deste nicho caraterizado pelo forte poder de compra e propensão para viajar dos clientes.

Esta é a principal conclusão de um estudo feito por uma equipa de investigadores da Universidade do Algarve, coordenada por Cláudia Almeida, sobre o potencial do turismo culinário e enológico no Algarve, que foi apresentado esta quinta-feira, na sede da RTA, em Faro. Este trabalho foi feito no âmbito do projeto Algarve Cooking Vacations, da Região de Turismo do Algarve (RTA) e da Tertúlia Algarvia, cofinanciado pelo CRESC Algarve 2020.

Para a coordenadora deste estudo, o Algarve tem tudo o que é necessário para entrar neste mercado, a nível internacional. Desde logo, as atividades e produtos tradicionais, desde a agricultura à primeira transformação, mas também património – edificado e natural -, história e, claro, uma gastronomia reconhecida além fronteiras.

Então, o que é preciso fazer? «Falta, essencialmente, o trabalho em parceria. Temos de pegar em todos estes produtores e agentes do setor turístico e começar a juntá-los. É como se fossem peças de Lego, que temos de montar», ilustrou Cláudia Almeida, numa entrevista ao Sul Informação.

«Nós, no trabalho, temos identificados os diferentes agentes que podem participar nos programas a oferecer. Um programa de turismo culinário e enológico envolve muitas áreas diferentes, desde o transporte e a aula de culinária, até à visita ao Museu. Há muita coisa. Nós temos os recursos, mais do que os outros até, e a possibilidade de criar coisas muito giras», acrescentou.

É que, apesar do nome do segmento, regra geral quem compra programas deste género tem como principal motivação de visita a vontade de conhecer a cultura e o património do destino. Muitas vezes, isso pode passar pelo aprender a fazer, uma área que só por si é cheia de possibilidades. Afinal, há quem esteja disposto a pagar bom dinheiro para, por exemplo, participar numa vindima e  no pisar das uvas ou para aprender a confecionar um prato tradicional com quem guarda os saberes milenares dos sabores da região.

Nestes casos, os visitantes demonstram, quase sempre, um profundo interesse em conhecer e ter contacto direto com as técnicas, os produtos e utensílios usados para fazer os pratos típicos do local que visitam – a cataplana, a faca do presunto, a colher de pau, etc. -, «que acabam, muitas vezes, por adquirir, para levar consigo para casa».

Por outro lado, há quem esteja mais interessado na degustação de pratos já confecionados ou de produtos tradicionais. O vinho e aquilo que o envolve está no topo das preferências, sendo só por si uma motivação de visita, mas há também os enchidos, o presunto, os queijos e, no caso do Algarve, os licores e o medronho.

João Fernandes e Cláudia Almeida

O que é certo é que, em todos os casos, são turistas que querem conhecer o território – e não apenas o litoral – e que se interessam pela oferta cultural existente, sejam os museus e monumentos, sejam as expressões culturais mais tradicionais.

Isto, claro, é a realidade lá fora, nomeadamente em países do Mediterrâneo, com fortes ligações culturais a Portugal. É que, antes deste estudo, pouco se sabia sobre este nicho de mercado e sobre a melhor forma de estruturar os programas a oferecer.

Neste momento, em Portugal, há apenas 37 programas disponíveis nas plataformas online, locais privilegiados para comercializar este tipo de oferta. Dessas, a maioria vem do Norte de Portugal e tem forte ligação à vitivinicultura. Relacionados com o Algarve há nove programas, um a mais dos que envolvem o Alentejo, segundo dados apurados no estudo. Nestas propostas, a componente de aulas culinárias é baixa, muito inferior a outros mercados concorrentes, nomeadamente a Itália (o mais forte), a França, a Espanha e a Grécia.

Daí «a grande importância» do trabalho ontem apresentado. Através dele, será possível estruturar a oferta e dar «o pontapé de saída» numa atividade que «pode ser muito importante para o Algarve, em termos económicos», por injetar dinheiro diretamente na economia local, promover circuitos comerciais de proximidade, não ser afetada pela sazonalidade e ter o poder de dinamizar zonas do interior.

No fundo, como resumiu o presidente da RTA, tratou-se de «conhecer os mercados, as tendências, o perfil dos turistas, a cadeia de valor e as estratégias de comercialização e internacionalização». «O grande mote é captar turistas com mais poder de compra, que venham fora da época alta e não visitem apenas o litoral», acrescentou João Fernandes.

João Amaro (ao centro), da Tertúlia Algarvia, é um dos mentores do Algarve Cooking Vacations – Foto Gonçalo Dourado/Sul Informação

A Tertúlia Algarvia, um dos parceiros do projeto Algarve Cooking Vacations já está, de resto, a aproveitar o conhecimento que foi criado. «Até final do mês, queremos colocar duas propostas no BookCulinaryVacations, o principal site do setor, que congrega mais de mil programas em todo o mundo», revelou ao Sul Informação João Amaro, responsável pela associação Tertúlia Algarvia, que gere o restaurante com o mesmo nome na Vila-Adentro de Faro.

«Vamos começar com dois pacotes de curta duração, com quatro dias e três noites. Estes programas vão ter uma centralidade aqui na região do Algarve, apesar de preverem quer uma visita a Monchique, quer uma passagem na adega da Tôr. Vão envolver aulas de culinária, visitas a mercados e ao património, aulas de como fazer pão e outras atividades», descreveu.

Esta será «uma ação experimental», até porque há ainda «oito ou nove meses de projeto» e a ideia é perceber de que forma é que o Algarve se pode posicionar neste segmento. Por outro lado, como frisou João Amaro, o trabalho que tem vindo a ser feito é para todos os agentes da região.

«Um desafio que lançamos é que outros possam desenhar os seus próprios programas. Já visitámos mais de 30 agentes da região, que, só por si, já desenvolvem algum tipo de atividades, como lagares, adegas de vinhos, produtores de plantas aromáticas e afins, que já desenvolvem algum tipo de animação turística», desafiou.

«O ideal é que surjam o maior número de programas possível, seria bom para todos, não estamos a fazer isto apenas para nós», concluiu João Amaro.

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