PS afasta militantes de Olhão por «traição», um deles fala em «expulsão seletiva»

Carlos Manso, um dos militantes que serão afastados, fala em «expulsão seletiva, com o objetivo de silenciar a oposição interna»

O PS expulsou 11 dos seus militantes da concelhia de Olhão por «traição» e suspendeu por um ano Saúl Neves de Jesus,  na sequência do apoio que estes deram a Luciano Jesus, candidato pelo PSD à Câmara de Olhão nas autárquicas de 2017, e das críticas públicas ao presidente da Câmara olhanense, o socialista António Pina.

Após as eleições, a Federação do Algarve do PS abriu um processo disciplinar a vários militantes de Olhão. Na última reunião deste órgão, o presidente da Comissão Regional de Jurisdição, o olhanense Filipe Ramirez, anunciou que já havia uma decisão e que seriam expulsos 11 militantes, enquanto um outro seria castigado com suspensão de um ano.

Segundo o anúncio que foi feito, Carlos Manso, Alexandre Pereira, Carlos Alberto Mata, Victor Bartolomeu, Cândido Pereira, João Marcelino Estrela, Ana Micaela Custódio, Paula Marreiros Lopes, Alexandra Carmo, Ondina Pacheco e Leonor Lemos foram expulsos do partido «por traição aos princípios e estatutos do mesmo».

«O Partido Socialista é um partido aberto, livre e democrático, onde todas as pessoas são livres de se inscrever, e, como militantes, são livres de dar a sua opinião e de discordar das posições tomadas pelo partido, bem como das pessoas escolhidas pelo mesmo para se candidatarem às diferentes eleições que o partido disputa», assegurou o PS/Olhão, na nota enviada às redações ontem à noite, em que dava conta dos castigos aplicados .

No entanto, diz a estrutura partidária, os militantes do partido também têm deveres, «nomeadamente o dever de solidariedade para com o partido, sendo claramente assumido que, em caso de discordância, se espera que exista responsabilidade e decoro para, ou não tornar públicas as divergências, ou, em última análise, em caso de divergências insanáveis, que abandonem o partido antes de tomarem posições públicas contra o mesmo».

Contactado pelo Sul Informação, Carlos Manso, que chegou a ser o presidente da Comissão Política do PS/Olhão – cargo agora ocupado pelo presidente da autarquia António Pina – disse que não foi, ainda, notificado da sua expulsão do partido, decisão que foi ratificada, a nível central, pela Comissão Nacional de Jurisdição. «Soube pela comunicação social», assegurou.

Na sua opinião, ele e os demais visados por esta decisão foram alvo «de uma expulsão seletiva, com o objetivo de silenciar a oposição interna». Isto porque, assegurou, foi acusado de «emitir publicamente opiniões contrárias à do presidente da Câmara», mas «houve pessoas muito mais ativas nas críticas e no apoio ao outro candidato que não foram expulsas».

O outro candidato a que se refere Carlos Manso é Luciano Jesus, que até há pouco mais de um ano era o responsável máximo pelo PS olhanense e presidente da Junta de Freguesia de Olhão, eleito pelos socialistas e membro de uma família de históricos deste partido. Mas Luciano Jesus decidiu abandonar o partido, na sequência de divergências com o presidente da Câmara António Pina, e ir a eleições com o apoio do PSD e do CDS-PP.

Em causa, uma luta interna na hora de designar as listas para as Autárquicas de 2017. A Comissão Política do PS Olhão, então dirigida por Luciano Jesus, chumbou a recandidatura de António Pina à Câmara e obrigou a Federação do PS a avocar o processo de escolha dos candidatos, neste concelho.

A recandidatura de António Pina acabou por ser confirmada pela Federação, que também deu ao edil olhanense – que viria mesmo a ser reeleito – o poder de escolher a composição das listas. Algo que levou Luciano Jesus a afastar-se do partido, dias depois. Mais tarde, lançou uma candidatura que se assumia como independente, mas que contou com o apoio de PSD e CDS-PP.

As consequências para os que, na altura, defenderam que António Pina não devia ser o candidato do PS e o criticaram publicamente e para os que se mantiveram ao lado de Luciano Jesus, mesmo depois deste ter saído do partido, foram agora conhecidas. Além das onze expulsões, Saúl Neves de Jesus, pai de Luciano Jesus, foi castigado com um ano de suspensão da militância.

«Consideramos que as regras básicas de convivência partidária obrigam a que, por vezes, tenham que ser tomadas soluções assertivas, por forma a fazer respeitar essas regras que regem o nosso funcionamento interno. Esperamos que esta decisão não tenha que voltar a ser repetida e que, de hoje em diante, as discordâncias e diferenças de opinião sejam apresentadas e debatidas internamente, como é apanágio do Partido Socialista», conclui a nota do PS.

Carlos Manso assegurou ao Sul Informação que nunca fez mais do que emitir a sua opinião e que esta não foi a primeira vez que o PS/Olhão procurou expulsar um militante – neste caso, por apoiar um familiar próximo, candidato por outro partido. Na altura em que Manso ocupava o cargo de presidente da Comissão Política concelhia, «foi sugerida a expulsão de uma pessoa, mas eu impedi». Mais tarde, garantiu, o militante em causa «foi incluído nas listas do PS a um órgão autárquico e foi eleito».

O antigo presidente da concelhia de Olhão defendeu que pode haver espaço para opiniões diversas dentro de um partido, pois só o tornam «mais forte». «Apesar de ter sido expulso do PS, continuarei a ser um democrata e um socialista», rematou Carlos Manso.

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