Algarve – terra de sonhos e oportunidades!

Cláudio Lima é o autor desta “utopia” (ou talvez não), em mais um artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

Estamos em 2030.

O Algarve desenvolveu-se muito, alterando por completo o paradigma em que assentava nas duas primeiras décadas deste século.

De facto, como bem nos lembramos, a nossa economia dependia essencialmente do turismo e das atividades a ele conexas, com uma acentuada sazonalidade. A mão-de-obra necessária para que estas atividades funcionassem era, maioritariamente, pouco especializada.

As “fornadas” de licenciados, que todos os anos saíam da Universidade, acabavam por ingressar no mercado de emprego por via da ocupação desses mesmos postos de trabalho, o que era um grande desperdício, a todos os níveis.

Além disso, as principais respostas que a administração pública (central e desconcentrada) dava, em praticamente todas as áreas, não eram as melhores, quase sempre descoordenadas e fora do seu tempo. Desde a saúde ao ordenamento do território, passando pela educação e pela regulação/fiscalização das atividades de iniciativa privada, proliferavam mostras de que o sistema estava doente.

Diariamente se assistia a um desperdício de recursos públicos, recursos esses que já naquela época eram tão escassos…

Para além de não dar resposta, o Estado, altamente centralizado, dificultava a vida aos privados, entupindo-os de impostos sempre que se “suspeitava” que poderiam estar a enriquecer, ou impedindo-os de desenvolver livremente as suas ideias de negócio.

Lembro-me com total ausência de saudade, do tempo que se demorava até obter uma licença para construir, para investir, ou abrir qualquer tipo de negócio, ou das taxas sobre o turismo e sobre o alojamento local. Na altura era tão difícil explicar isso aos estrangeiros que nos visitavam e que viam em nós tantas oportunidades desperdiçadas…

O nosso sistema de saúde era altamente deficitário, não dando cobertura nem às necessidades dos residentes, nem aos cuidados de saúde de quem, pontualmente, nos visitava.

O sistema de transportes coletivos era caótico. De autocarro ou de comboio, era muito difícil circular pelo Algarve. A única solução era o transporte próprio. Mais uma vez que desperdício que era a todos os níveis!

Circulávamos muitas vezes em viaturas ocupadas apenas pelo seu condutor, inundando o ar de gases tóxicos e gastando energias que podiam ser aproveitadas de outra forma! Mas mesmo assim, andar de carro era uma aventura.

A única estrada “menos má” (porque boa não era de certeza tal era o trajeto, as lombas, a sua iluminação e sinuosidade) custava muito dinheiro, e as outras, quase todas, estavam cheias de problemas: buracos, sinalização, etc. E para “ajudar à festa”, as paisagens (edifícios grafitados, abandonados, em ruínas, etc.) davam nota de que, quem supostamente devia cuidar, não cuidava.

Felizmente isto já não acontece. Embora não haja pleno emprego, as coisas estão francamente melhores. E isso foi bom para todos! Em 10 anos, duplicámos a população residente e o número de turistas é hoje 6 vezes maior do que naquela época. E tudo porque fomos capazes de fazer algo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado para a época.

Tornámo-nos ATRATIVOS. Criámos DIMENSÃO.

Deixámos de reclamar por tudo e muitas vezes por nada. Deixámos de pedir mais dinheiro da União Europeia, que nos considerava uma região rica, sem o sermos verdadeiramente. Hoje, somos – orgulhosamente – uma região rica! Hoje, temos empresas de média e grande dimensão com forte pendor tecnológico e de inovação ambiental, sediadas no Algarve, e que empregam milhares de pessoas.

Conseguimos hoje maximizar a utilização dos recursos naturais que temos ao dispor: o mar e o sol deixaram de ser apenas “para inglês ver”!

Os mercados hoje funcionam de forma mais livre, há menos impostos, taxas e taxinhas, mas isso não significa que as funções do Estado não estejam a ser cumpridas. Muito pelo contrário! Hoje, o Estado gasta menos e gasta melhor.

O Setor Público hoje deixa as boas ideias florescerem e ajuda quem quer investir no Algarve. Temos menos funcionários nas autarquias e nos organismos públicos, mas isso só acontece porque o mercado laboral privado tornou-se mais atrativo. Foram as pessoas que – livremente- acabaram por sair da função pública para o privado.

O nosso principal problema sempre foi um problema de dimensão. E de qualidade. E com qualidade fomos capazes de conseguir dimensão! Hoje, temos mais consumo, mais investimento, mais poupança, simplesmente porque temos mais pessoas no Algarve!

É verdade que o dinheiro que o Estado gasta no Algarve é muito superior ao que era há 10 anos. Mas o Estado Central percebeu, finalmente, que cada euro aqui colocado lhe rendia 6 ou 7 vezes mais em receitas de impostos, do que em qualquer outra região do país.

Hoje, somos uma região verdadeiramente rica, que não teve de pedir dinheiro a ninguém. Nem de se subjugar às decisões que vinham muitas vezes não se sabia bem de onde, mas que não eram benéficas para a nossa região.

Fizemos uma coisa tão simples, mas ao mesmo tempo tão difícil na altura: tratámos de nos organizar, de nos requalificar, de nos tornar atrativos, em todos os domínios. Estivemos anos a planear sem pôr em prática. Mas assim que o fizemos, os seus efeitos positivos foram tão bons, e aconteceram tão rápido!

O Algarve continua na moda, mas está hoje na moda, porque é efetivamente bom para tudo: para trabalhar, para estudar, para viver e para passar férias!

Graças a um esforço consertado entre públicos e privados, foi possível trazer para o Algarve grandes investimentos, altamente inovadores, que permitiram a criação de emprego jovem e qualificado. As grandes infraestruturas, reivindicadas durante tantos anos, foram finalmente criadas.

O Hospital Central do Algarve, a par da criação de novas unidades de saúde modernas, algumas públicas mas muitas de índole privado, dispersas um pouco por toda a região, vieram dar uma resposta de excelência, aos níveis da prestação de cuidados de saúde.

As estradas foram todas requalificadas, a A22 passou a ser de uso gratuito. Os transportes coletivos são hoje usados por 70% da população fixa e flutuante para as suas deslocações regulares e diárias. Isso acontece porque hoje, o metro de superfície, o autocarro, o comboio, deixaram de estar sob a gestão de diferentes entidades e, são hoje, uma verdadeira rede dinâmica e eficaz de transportes ao serviço das pessoas.

Os seus horários, assim como o seu fluxo, estão ajustados às necessidades, o que nos trouxe benefícios, a todos os níveis. Algo que já tinha sido indicado como de extrema relevância na primavera de 2015, pela Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas, no seu documento “Por uma Economia Regional – linhas orientadoras para um modelo de desenvolvimento económico do Algarve”.

O Turismo era um turismo com uma fraca cultura identitária e, por causa disso, competia com outros mercados que nada tinham a ver connosco, como a Turquia ou o Egito, a não ser pelo facto de serem banhados por água salgada e disporem de hotéis de média dimensão.

Hoje, o Algarve, no seu todo, atrai muita gente, pela qualidade que todos sabíamos que tinha, amplificada, requalificada e, efetivamente, melhorada. Continuam a ser o nosso sol e as nossas praias a contribuir fortemente para a vinda de turistas, mas tudo o resto, desde a gastronomia à prática de desportos ao ar livre, é igualmente valorizado, e o nosso clima ameno, aliado à nossa proximidade com as principais cidades da Europa, fazem do Algarve aquilo que ele já era, mas hoje é ainda mais: o principal destino turístico do país.

E graças à criação de uma imagem forte enquanto destino, hoje os fluxos turísticos são menos sazonais e conseguimos atrair pessoas de todas as idades, para aqui usufruir do melhor que nós temos, todo o ano. E temos tanta, mas tanta coisa boa!

Não resolvemos todos os nossos problemas, é certo. Mas o principal, que era termos uma economia mais robusta, fruto de uma organização produtiva mais diversificada, para termos peso, sermos economicamente sustentáveis e geradores de riqueza, tudo isso, foi possível alcançar numa década… E que década! Até a classe política, na altura muito criticada, conseguiu pontos de convergência supra partidários que possibilitaram que tudo isso pudesse acontecer. E hoje, somos uma voz mais forte, porque temos políticos que representam uma região mais forte.

Quem me dera poder regressar a 2019 e saber o que sei hoje, para aproveitar todas as oportunidades que se encontravam “à mão de semear”…

 

Autor: Cláudio Lima
Vogal da Ordem dos Economistas – Delegação do Algarve
Especialidade: Economia e Gestão Empresariais

 

Quem é Cláudio Lima?
Nascido em Paris no ano de 1975, vive atualmente em Loulé, mas diz ter uma ligação muito especial a Quarteira, onde estudou, viveu, casou e viu nascer os seus dois filhos.
É Licenciado em Gestão de Empresas e pós-graduado em Gestão de Projetos em Parceria, ambos concluídos na Universidade do Algarve, e que lhe valeram a sua inscrição na Ordem dos Economistas.
O seu percurso profissional iniciou-se numa empresa de software em Almancil, em 1998, já lá vão 20 anos, e desde então tem feito um pouco de tudo, desde formador, consultor, contabilista, responsável financeiro e de recursos humanos, em diversas organizações, públicas e privadas.
Atualmente é Diretor do Departamento de Administração Geral na Região de Turismo do Algarve.
Gosta de ler e praticar desportos ao ar livre, em especial a corrida.
Considera-se um apaixonado pelo Algarve.

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