Sem férias e todo o ano: assim é o trabalho do Banco Alimentar no Algarve

Banco Alimentar apoia, ao longo de todo o ano, 120 instituições, num total de 16 mil pessoas

É nas duas campanhas anuais feitas nos supermercados que se ouve falar mais do Banco Alimentar contra a Fome do Algarve (BACFAlg), mas a verdade é que há um «grande trabalho feito ao longo de todo o ano» e que não tira férias. É preciso organizar os alimentos angariados, bem como distribuí-los pelas 120 instituições algarvias ajudadas. Os tempos não são tão maus como durante os anos de crise, mas situações de carência continuam a existir na região. 

Ao entrar nas instalações do Banco Alimentar, em Faro, fica-se com uma sensação de verdadeira arrumação. Todos os alimentos estão divididos por zonas: há a parte dos congelados, a das carnes e uma só dedicada aos alimentos que foram recolhidos na última campanha em supermercado.

Organização é a palavra de ordem, apesar da azáfama que se vive logo de manhã. As carrinhas de instituições vão chegando e é preciso carregá-las com alimentos. Uma delas está ao serviço da Junta de Freguesia da Conceição de Faro e é Abel Romeiro quem a conduz.

«Há muitos anos que faço este trabalho todas as terças-feiras. Venho buscar os alimentos, que depois levo para a Junta de Freguesia», conta ao Sul Informação, enquanto coloca, na bagageira, uma palete com bolachas, óleo e iogurtes. É a partir da Junta que tudo será depois distribuído às famílias.

 

Abel Romeiro

Funcionário da Junta, Abel Romeiro diz, sem hesitar, que este é um serviço que faz «com todo o gosto», porque os alimentos que recolhe «são uma ajuda importante para algumas famílias».

Na retaguarda, Nuno Cabrita Alves, presidente do Banco Alimentar contra a Fome do Algarve, instituição que também tem instalações em Portimão, é quem coordena todas as operações.

«Há um trabalho grande que é feito durante todo o ano. Ao longo das 52 semanas do ano, não só fazemos a distribuição dos alimentos recolhidos nas duas campanhas anuais, mas também vamos fazendo a recolha diária de alimentos em supermercados que são nossos parceiros», explica ao Sul Informação. 

Atualmente, esses supermercados são a Makro, o Aldi, o Lidl, o Apolónia e o Recheio e a verdade é que esta já é «uma fonte de abastecimento importante e que tem vindo a crescer».

«Nós trabalhamos com produtos em fim de linha: que não foram vendidos ou o prazo está a terminar ou não são bonitos, mas que estão em condições de ser consumidos. Assim, em vez de irem para o lixo, usamos os alimentos para alimentar quem mais precisa», diz.

Do Apolónia, por exemplo, o Banco Alimentar recebe desde peixe a carne, passando pelas verduras. Atualmente, o Banco Alimentar tem uma frota de três viaturas que permitem transportar alimentos a temperatura controlada em toda a região.

No total, são 120 as instituições que o BACFAlg ajuda e tudo é feito com base nos voluntários. «A nossa equipa assenta em recursos humanos voluntários. Temos 20 a 30 pessoas, em permanência, durante a semana», explica Nuno Cabrita Alves.

Uma das particularidades deste Banco Alimentar é o facto de ter quatro reclusos a trabalhar, em regime aberto. Ou seja: presos que saem, de manhã, dos Estabelecimentos Prisionais, e voltam à tarde. Também há pessoas com algum tipo de deficiência a trabalhar, com vista à sua reintegração na sociedade, bem como desempregados de longa duração.

José Pinto é um dos voluntários que trabalha nas instalações de Faro do Banco Alimentar. «Estou cá desde o início. Sou escuteiro e enveredei por isto porque vejo o que acontece à minha volta», lamenta, em conversa com o Sul Informação. 

Três vezes por semana é ele quem coordena as entregas. «É um trabalho de que gosto e é muito importante. Trabalhamos durante todo o ano. É bom realçar isso», diz.

Ainda assim, há algo que José Pinto nota cada vez mais: «temos falta de voluntários e vejo isso com muito maus olhos».

Para Nuno Cabrita Alves, este é mesmo o «principal problema» do Banco Alimentar. «Temos falta de voluntários para alguns turnos de armazém e também para trabalho administrativo. No total, temos 50 voluntários em todo o Algarve, o que é pouco. Precisávamos de mais 10 ou 15».

Apesar desta falta de pessoal, o BacfAlg já consegue distribuir cerca de «2 milhões de quilos de alimentos, por ano, em todo o Algarve». Os números são «altos» e fazem deste o 5º maior Banco Alimentar do país, num total de 21.

«As coisas mudaram um pouco desde o tempo da crise. Temos cerca de 16 mil pessoas apoiadas, quando, no período mais crítico, chegámos às 23 mil. Houve situações muito complicadas na altura. Cheguei a ser confrontado com pessoas desesperadas», conta, com mágoa, Cabrita Alves.

O trabalho voluntário nas duas campanhas anuais, de recolha nos supermercados, é muito importante. Mas o responsável pelo Banco Alimentar faz questão de realçar, uma vez mais, a importância do trabalho diário.

«Temos 90% a 95% das Instituições Particulares de Solidariedade Social algarvias a trabalhar connosco. É uma tarefa que me deixa uma grande satisfação pessoal, porque permite ajudar a mudar o status quo. Tenho orgulho no facto de as 16 Câmaras reconhecerem a importância do nosso trabalho», conclui.

Quem quiser ser voluntário no Banco Alimentar, basta entrar em contacto com o 289 872 456.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

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