Em Monchique, receber ajuda no pós-incêndio é como ir ao supermercado

Já está a funcionar o supermercado solidário, onde as vítimas do incêndio de Monchique podem ir buscar o que precisam, sem qualquer encargo

É como uma ida às compras, a um supermercado qualquer. Mas, aqui, não há transação de dinheiro, e cada um leva aquilo que precisa sem ter de pagar nada. A ideia é garantir o máximo de dignidade no processo de ajuda às vítimas do incêndio de Monchique e ajudá-las a reerguer-se mais rapidamente.

A plataforma Ajuda Monchique, que foi criada na sequência do incêndio que lavrou entre os dias 3 e 10 de Agosto nos concelhos de Monchique, Silves, Portimão e Odemira, idealizou um sistema baseado em cartões magnéticos, que já está a ser utilizado na loja social que foi criada para distribuir a ajuda enviada para Monchique, vinda de todo o país e de além fronteiras.

Esta espécie de supermercado funciona na Rua Serpa Pinto, junto ao quartel da GNR e está ser gerido pela Câmara de Monchique, que, desde o início da semana, passou a ser a responsável pela receção e distribuição de alimentos e outros bens de primeira necessidade às vítimas do incêndio, neste concelho.

A opção por um modelo em que são as pessoas a escolher aquilo que levam para casa está ligada à relutância que muitas pessoas sentem em pedir ajuda.

«Nós testemunhámos, em primeira-mão, que algumas pessoas, provavelmente devido ao orgulho, se mostraram  desconfortáveis com o ter de pedir um apoio alimentar ou de outros bens essenciais, quando falavam connosco no terreno ou aqui nas nossas instalações», contou ao Sul Informação John Roy Dommett, coordenador geral do Ajuda Monchique.

«A razão pela qual achamos que isto é importante é porque pensamos que irá contribuir para que as famílias ganhem mais independência e confiança na sua habilidade de viver, normalmente, em sociedade», acrescentou.

Em Monchique, o incêndio deixou um rastro de destruição com 30 famílias desalojadas. Outros agregados puderam manter-se nas suas casas, mas registaram muitas perdas.

É a estas situações que os voluntários do movimento Ajuda Monchique estão a dar resposta desde os primeiros dias do incêndio. Numa primeira fase, foi feito um levantamento exaustivo dos lesados pelas chamas e das suas necessidades.

Neste momento, três semanas depois do incêndio ter sido dominado, a prioridade é ajudar as vítimas a levantar a cabeça e a prosseguir com as suas vidas. E este supermercado solidário é uma das formas encontradas para atingir o objetivo.

«As pessoas têm oportunidade de se dirigir a um espaço onde escolhem aquilo que precisam e seguem com a sua vida, em vez de ser um apoio que é entregue, num ato de caridade, numa caixa ou num cabaz. Nós queremos lutar um pouco contra isso, oferecendo às pessoas a possibilidade de levar aquilo que quiserem», ilustrou John Dommett.

A Ajuda Monchique já criou «cartões ligados ao número de cada processo, em que as pessoas, consoante as necessidades que nos transmitiram, podem escolher esses bens que precisam».

Apesar de ter passado o testemunho da ajuda alimentar e de bens básicos para a autarquia, a Ajuda Monchique continua a trabalhar, num espaço situado mesmo em frente ao supermercado solidário.

A plataforma de voluntários concentra-se agora em garantir que aqueles que ficaram sem as suas casas encontram soluções de alojamento e que têm tudo o que é necessário, desde mobília a eletrodomésticos, mas também loiça, panelas e talheres, entre outros utensílios.

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