Quatro animais selvagens vítimas do incêndio chegaram ao RIAS, mas só um sobreviveu

Biólogos alertam população para não alimentar animais selvagens

Um ouriço-cacheiro foi o único sobrevivente entre os quatro animais selvagens, vítimas do incêndio de Monchique, que foram recebidos no RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens. Além deste resistente ouriço, chegaram a Olhão um javali-bebé, uma raposa e uma cobra.

Fábia Azevedo, coordenadora do RIAS, contou ao Sul Informação que, «diretamente relacionados com os incêndios, chegaram quatro animais, o que é muito pouco. Sabemos que muitos outros animais foram afetados, mas não sobreviveram ou não foram recolhidos. O único animal que recebemos com lesões relacionadas diretamente com o fogo, vítima do fumo e do calor, foi uma raposa que chegou já em coma e não sobreviveu, apesar de todos os esforços».

Um javali-bebé, «ainda com o cordão umbilical», também foi entregue ao RIAS. «Provavelmente a mãe abandonou-o com o stress do fogo e da fuga. Terá ficado para trás esta cria, que tinha poucos dias, e também não sobreviveu. Chegou ainda uma cobra que terá tentado fugir do fogo e foi atropelada», adianta Fábia Azevedo.

Já o ouriço, que «devia estar desorientado», quando foi recolhido, «não tem lesões, não tem nada queimado, respira bem e está bem».

Em relação a outros animais selvagens que se mantêm no terreno, Fábia Azevedo, bióloga, deixa um alerta: «temos sabido de relatos de raposas, genetas e alguns veados desorientados. As pessoas que os quiserem ajudar podem disponibilizar água, mas disponibilizar alimento não é aconselhado».

Fábia Azevedo com o ouriço sobrevivente

Segundo a coordenadora do RIAS, «estes são animais habituados a viver no mundo selvagem, conseguem procurar alimento sozinhos, apesar de a disponibilidade alimentar ser reduzida, conseguem percorrer quilómetros à procura de alimentos».

Os animais selvagens «são muito resilientes, conseguem adaptar-se muito facilmente. Obviamente que, nos primeiros dias, vão sofrer um pouco com fome, mas o instinto vai levá-los a procurar alimento, a novos territórios e a novos habitats».

A bióloga explica que, «quando se alimenta um animal selvagem, estamos a criar um mau hábito e se ele passar a depender exclusivamente dos humanos, vai ficar domesticado». Por outro lado, «se a alimentação for incorreta, vai ficar suscetível a doenças».

Fábia Azevedo dá o exemplo do caso da raposa de Cabanas de Tavira que, devido à alimentação incorreta, «ficou fragilizada e com o sistema imunitário fragilizado. Isso fez com que contraísse outras doenças, como sarna. Por muito boa vontade e ajuda que queiram dar, não se deve alimentar animais selvagens, principalmente mamíferos, principalmente carnívoros, pois perdem a capacidade de se alimentar sozinhos», explica.

No caso dessa raposa, ela «vinha bastante domesticada e tivemos que a juntar com outra para que pudesse socializar e aprender o instinto da espécie. Esteve connosco ainda uns largos meses, no início foi difícil, mas correu bem e foi um caso de sucesso», considera a bióloga.

«Quando as raposas começam a associar que o humano é uma fonte de comida, vão procurá-la junto das pessoas. Ao aproximarem-se das casas e aldeias, vão encontrar alimento fácil. As pessoas têm galinheiros, patos, pombais…».

Por isso, «é importante que as pessoas da zona façam um esforço para não deixar os restos da comida na rua, propositadamente, para alimentar os bichos, devem fazer o oposto. Além de criar o hábito, a comida é processada, cozinhada, condimentada e não é indicada para os animais selvagens», reforça Diogo Amaro, também ele biólogo no RIAS.

Fábia Azevedo e Diogo Amaro

Apesar de o incêndio de Monchique já estar extinto, Fábia Azevedo acredita que, «nos próximos dias, iremos receber ainda animais desorientados, já afastados da zona dos incêndios. São animais que fugiram porque perderam o habitat e vão dar a zonas inapropriadas».

Em relação às zonas ardidas, a bióloga garante que os animais que, nesta altura, estão deslocados, «vão regressar. Vai demorar, mas voltam. No Inverno, com as primeiras plantinhas, a vida vai voltar a renascer. Havendo plantas, há insetos, roedores e as aves serão as primeiras a chegar».

Uma das principais preocupações dos biólogos é a águia-de-bonelli que «estava a começar a estabelecer-se bem na Serra de Monchique e, de repente, aconteceu esta catástrofe e teve de fugir», lamenta Diogo Amaro.

Para o biólogo, «é preciso fazer um esforço mais forte para ver se os animais vão voltar. É preciso saber para onde foram». Neste caso específico, caso haja necessidade, pode ser necessário atrair os animais com plataformas para ninhos artificiais.

«O foco deve ser a águia-de-bonelli. Se houver essa preocupação com esta espécie, vai ajudar todas as outras», conclui Diogo Amaro.

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