Moradores contestam obras no centro histórico de São Brás de Alportel

Quantidade de armários de eletricidade que estão a ser instalados na rua e abertura de roços nas casas sem autorização dos proprietários deixam população descontente

As obras começaram, para enterrar os cabos de eletricidade que antes estavam nas fachadas, muitas delas bem antigas, da Rua Gago Coutinho, em pleno centro histórico de São Brás de Alportel. Mas depois chegaram os – muitos – armários de eletricidade e foram abertos roços nas paredes das casas, por vezes, sem autorização, causando o descontentamento dos que ali vivem.

A obra de requalificação desta rua, onde se situa a porta de entrada para os Paços do Concelho e que liga o emblemático Largo de São Sebastião à Igreja Matriz de São Brás de Alportel, foi anunciada pela autarquia como uma intervenção de valorização do património edificado ali existente.

Mas, acreditam as mais de duas dezenas de subscritores de um abaixo-assinado que foi lançado por Graça Passos, uma das moradoras da rua, o que está a acontecer é, precisamente, o contrário.

Em causa estão, por um lado, os buracos que foram abertos nas fachadas das casas, para colocar os cabos de eletricidade e, em algumas situações, para instalar novos contadores. O problema é que houve casos em que a intervenção foi feita sem avisar os proprietários e sem esperar pela sua autorização.

Graça Passos conta que, um dia, ao chegar a casa, deu com o roço feito na sua parede exterior. «Não fui avisada e ninguém me pediu autorização», assegurou.

«Abrir roços para a ligação dos cabos ao interior das casas é uma intervenção bem feita e necessária. Mas houve um procedimento que não correu bem. O empreiteiro da obra bateu às portas e avisou algumas pessoas. Mas, nas que não estavam em casa e não foram avisadas, o empreiteiro abriu à mesma os roços. Confesso que também não gostava de chegar a casa e ver um roço aberto na minha parede», disse ao Sul Informação o presidente da Câmara de São Brás de Alportel.

Além da questão da abertura de roços, há também a de como serão depois tapados. Isto porque muitas das casas desta rua são feitas de argamassa e pedra, mas, como o Sul Informação pôde verificar no local, estava a ser utilizado cimento para tapar os buracos.

O edil Vítor Guerreiro diz que este material apenas está a ser colocado «para fazer o enchimento» e que o reboco final será feito «com uma mistura de cal e areia».

Por outro lado, há os armários de distribuição de eletricidade, que estão a gerar descontentamento não só pela sua quantidade – perto de 20 -, mas também pela sua localização. Uma destas estruturas foi colocada à frente do local onde existia a porta da antiga Farmácia Passos, um edifício emblemático do centro histórico de São Brás.

A importância deste património para os habitantes da vila pode ser medido pelo facto de ter sido uma moradora da rua a avisar Graça Passos, que é descendente do poeta Bernardo de Passos e atual responsável pelo espólio desta família são-brasense, entre o qual se inclui o edifício onde funcionou a farmácia de seu avô.

«Uma senhora, que eu não conheço, telefonou-me, numa altura em que eu estava em Lisboa, chocada com o armário da EDP que estava em frente à janela da minha fachada, onde era a porta para a antiga Farmácia Passos. Apesar de ter sido transformada em janela, a soleira ainda é visível», contou Graça Passos ao Sul Informação.

Isto aconteceu sem que a proprietária da casa tivesse sido avisada. «Eu estive na reunião da Comissão do Centro Histórico, à qual pertenço, no dia 16 de Maio, e a única coisa que foi dita sobre esta obra foi que iria retirar os fios das fachadas. E é claro que isso é boa ideia», considerou.

O que Graça Passos e outros moradores da rua, que também assinam o abaixo-assinado, não esperavam, era que a rua fosse invadida por armários da EDP. Agora, exigem à Câmara que a situação seja revista e encontradas soluções alternativas.

Vítor Guerreiro admitiu que os armários de eletricidade não são uma solução ideal, mas são «um mal necessário».

«Também não me agrada. Mas, ao retirar os cabos das fachadas dos edifícios, a solução é enterrá-los. Só que, para cada quatro habitações, tem de existir um armário elétrico. E, como o centro histórico tem casas muito pequenas, acabamos por ter muitos armários», justificou.

«Tecnicamente, não digo que não haja alternativas. Mas, pelo que conhecemos e também pelo que nos foi transmitido pela EDP, não é fácil enterrar os armários elétricos e, na nossa situação, não é possível. Uma solução era embutir os armários nas paredes dos edifícios, o que traria problemas acrescidos para os proprietários», assegurou Vítor Guerreiro.

O edil são-brasense afirmou, mesmo, ter ficado «desagradado» com a escolha que foi feita para a localização de alguns dos armários. «Estamos a desenvolver diligências para alterar a localização de, pelo menos, dois dos armários que, quanto a mim, chocam mais. Vamos colocá-los em locais em que não afetem, em termos visuais, alguns edifícios com maior interesse patrimonial e da memória do povo», prometeu.

Um deles será, precisamente, «o que se encontra à frente da porta da antiga Farmácia Passos». Vítor Guerreiro assegurou que esta é a ideia do executivo «desde o início» e mesmo sem a queixa de Graça Passos não «iria deixar que aquele armário ficasse ali».

Quanto aos tubos negros que foram colocados nas fachadas com azulejos, para passagem de cabos sem ser necessário abrir roços, o presidente da Câmara de São de Alportel diz que «serão pintados da mesma cor que a parede por trás deles». Mas, se em alguns casos essa será uma boa solução, noutros, quando as fachadas estão revestidas a azulejos multicoloridos, não se vislumbra como será possível pintar os tubos.

«Esta obra teve dois objetivos fundamentais. O primeiro foi tornar a rua acessível para pessoas com mobilidade reduzida e isso está a ser feito. O segundo é o de valorizar o nosso património, retirando o alcatrão, para o substituir por pedra, e retirar os cabos aéreos das fachadas dos edifícios», disse Vítor Guerreiro.

No entanto, para já, apenas estão a ser enterrados os cabos da EDP, mantendo-se nas fachadas os de telecomunicações. Uma situação que desagrada a Graça Passos e aos signatários do documento que colocou a circular, que não compreendem o porquê de se fazer uma obra de fundo e não se resolver todas as questões. Para mais, quando isso implicou a instalação dos polémicos armários de eletricidade.

Vítor Guerreiro garantiu que os demais fios e cabos também vão sair das paredes e «as fachadas vão ficar totalmente libertas. Nós já temos enterrados no subsolo os negativos – os tubos – e estamos a fazer pressão sobre as empresas de telecomunicação para que venham retirar os fios das fachadas. Não precisam de partir nada, as infraestruturas necessárias já lá estão».

No futuro, o presidente da Câmara de São Brás de Alportel pretende levar à Comissão do Centro Histórico «um projeto artístico para embelezar os armários com obras de arte». A ideia «é que ali sejam pintados elementos de pormenor do centro histórico, como uma chaminé típica ou o catavento da igreja».

Este projeto, que já «está a ser preparado», seria realizado em parceria com a Associação de Designers do Sul, anunciou o autarca.

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