Hotéis do Algarve estão a fazer mais dinheiro, mesmo com menos dormidas

Preços altos não são um problema, desde que a qualidade seja garantida, diz delegado regional da AHP

Os proveitos dos hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve subiram 5,7% em Junho, apesar da descida tanto da taxa de ocupação como do número de dormidas, em relação ao mesmo mês de 2017. Números que, para o presidente da Região de Turismo do Algarve, atestam que «a procura está a reconhecer a qualidade do Algarve e disposta a pagar mais».

O Instituto Nacional de Estatística (INE) lançou esta segunda-feira o relatório mensal da atividade turística em Portugal, em Junho de 2018. E o que revelam os números do INE, mas também os divulgados pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), é que, mesmo com menos dormidas, a hotelaria algarvia está a conseguir fazer mais dinheiro.

João Fernandes considera «a subida de 5,7% dos proveitos muito significativa» e desvaloriza o decréscimo no número de dormidas. Isto porque o termo de comparação é 2017, «o ano de todos os recordes». «Em relação a 2016, que foi um ano muito bom, houve 387 mil dormidas a mais entre Janeiro e Junho [1º Semestre]», disse ao Sul Informação.

Do lado dos hoteleiros, também chega a mesma mensagem. «Este ano, está ser melhor que 2016 e um pouco abaixo de 2017», disse João Soares, delegado regional do Algarve da AHP.

«Há realidades muito díspares. Há grandes grupos, no Algarve, com algumas quebras substanciais e outras unidades mais pequenas que estão com desempenho igual ou superior ao de 2017. Há várias empresas a refazer os seus orçamentos, tomando como termo de comparação 2016 e considerando 2017 como um ano extraordinário», revelou.

Os números de Junho, agora divulgados pelo INE, indicam uma forte diminuição nas dormidas de estrangeiros no Algarve – menos 7,1%, o que representa menos 127 mil dormidas. No primeiro semestre, a variação homóloga não foi tão acentuada, fixando-se numa descida do número de dormidas de não residentes de 3,7%.

Tendência inversa manifestaram os residentes, com o número de dormidas de turistas nacionais a subir expressivamente, em Junho (mais 8,5%). No acumulado entre Janeiro e Junho, a subida foi de 6,3 por cento.

O presidente da RTA salientou que os números de Junho «vêm em linha com o que se tem verificado desde o início do ano» e são um sinal de que o Algarve «está a crescer em valor e a fidelizar uma procura resultante de um ciclo anormalmente vantajoso, que aconteceu nos últimos anos».

Já João Soares, em declarações ao Sul Informação, alerta para a necessidade de «encontrar o posicionamento certo», tendo em conta que há vários fatores que estão a concorrer para um decréscimo da procura da região.

«Há a abertura da Turquia, que é um mercado muito difícil de combater, porque também tem muita quantidade e qualidade, tem o Mediterrâneo, uma oferta muito boa e taxas aeroportuárias muito baixas, quase inexistentes.  Também houve a falência da Monarch e da Air Berlin, o que fez com que as tarifas da Inglaterra para o Algarve aumentassem substancialmente», ilustrou.

Isso leva a que o Algarve «tenha um desafio muito grande pela frente», o de encontrar qual é o seu lugar nesta conjuntura. «Nós não podemos competir, em termos de luxo, com o Sul de França, com Ibiza ou com a Grécia, nem com a Turquia, em termos de quantidade. Temos de continuar a apostar na requalificação» e em melhorar o produto oferecido, defendeu.

Este ano, tem havido um aumento dos preços, que permitiu o bom desempenho económico dos hotéis algarvios. Mas, na visão de João Soares, este aumento deve acontecer de forma pensada e justificada. «Há que ter muita atenção ao Value for Money. Há, de facto, produtos que valem o dinheiro que está a ser pedido e outros que não valem», acredita.

Ou seja, «quem não se remodelou, não atualizou os produtos e não melhorou, obviamente que não pode aumentar substancialmente os preços, só porque há procura».

«O cliente não se importa de pagar mais, desde que tenha tudo de bom: o colchão, a cama, o duche, o wi-fi, o spa. O valor não é caro, o que é preciso é que o produto seja melhorado», acredita João Soares

«Nos anos da crise, os preços desceram de forma significativa. Agora, o Algarve reposicionou-se no seu nível, face à qualidade que apresenta. A sustentabilidade das unidades hoteleiras não pode ser garantida com preços baixos», disse, por seu lado, o presidente da RTA João Fernandes.

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