Almargem não quer nem o petróleo «negro, nem o verde» no Algarve

Almargem diz que Aspaflobal e algumas entidades governamentais têm «de ser indiciadas como os principais culpados desta catástrofe»

Nem petróleo negro, nem petróleo verde – leia-se, eucaliptos. A Almargem reagiu ao «incêndio florestal catastrófico» que afetou os concelhos de Monchique, Silves e Portimão e aponta o dedo ao Estado, mas também à associação de produtores florestais Aspaflobal, que considera que são os principais responsáveis pelo crescimento de «diabólicas massas de petróleo verde».

A associação ambientalista algarvia apelou, mesmo, ao presidente da Câmara de Monchique Rui André «para que tenha a coragem de iniciar de imediato a elaboração de um exemplar plano de desenvolvimento para o futuro do concelho, baseado em atividades verdadeiramente sustentáveis, disponibilizando-se para ajudar neste propósito, em conjunto com outras entidades locais e regionais».

Numa análise ao incêndio de Monchique, à forma como se propagou e às suas consequências, a Almargem defendeu que as proporções que este atingiu estão muito ligadas à forte aposta que foi feita no eucalipto, na Serra de Monchique, nas últimas décadas.

A Aspaflobal, a entidade «responsável pela plantação de eucaliptos na zona da Perna da Negra», onde começou este incêndio, é acusada pela associação ambientalista de não ter tido «qualquer problema em instalar aqui mais um gigantesco barril de petróleo verde, não sendo obrigada a colocar de imediato em prática um plano de gestão e prevenção dessa zona perigosa, limitando-se para esse efeito a apresentar apenas há uns meses atrás uma candidatura a financiamento estatal, a qual, uma vez aprovada, só iria entrar em vigor em 2019».

«A Aspaflobal e algumas entidades governamentais têm assim de ser indiciadas como os principais culpados desta catástrofe pois, apesar da argumentação repetidamente propagandeada nestas situações até por reputadas autoridades académicas, algumas delas simpatizantes ou mesmo avençadas pela indústria do papel, a eucaliptização de extensas áreas serranas promove a desertificação humana, diminui a biodiversidade e aumenta exponencialmente o risco de incêndio», defendeu a Almargem.

«Sobretudo no atual contexto das alterações climáticas, na origem de períodos de calor e seca extrema como o que agora sucedeu, plantar eucaliptos de forma intensiva e desprotegida em Monchique e na restante serra algarvia deve passar a ser considerada uma atividade perversa e desumana», afirmam.

Apesar disso, tem-se notado que «tal como sucedeu o ano passado no centro do país, boa parte das pessoas afetadas pelo incêndio evita culpar ou falar dos eucaliptos, pois muitos dos respetivos empregos e rendimentos provêm do apadrinhado sector do negócio das madeiras».

 

O outro grande problema, na visão da Almargem, tem a ver com «as centenas de pequenas propriedades semi-abandonadas, onde a limpeza e erradicação dos eucaliptos deve ser realizada de imediato, com compensações adequadas aos respetivos proprietários, pois estas árvores exóticas convivem bem com o fogo, proliferando abundantemente nos anos seguintes».

Com alternativa, a Almargem considera «que se deve apostar em atividades como agricultura e hortofruticultura sustentáveis, agropecuária, pastorícia, apicultura, produção florestal tradicional (sobreiros, castanheiros, medronheiros) e artesanato, para além do turismo cultural e de natureza. O ênfase deve ser dado a projetos que permitam criar emprego e, sobretudo, trazer pessoas a viver para o meio rural, em vez de continuar a permitir a proliferação de tristes monoculturas desertificadas».

«Infelizmente, tal já foi por diversas vezes dito e sistematicamente ignorado, por exemplo, após o enorme incêndio de 2003 que destruiu mais de 40 mil hectares em Monchique e concelhos vizinhos. O que mudou desde então? Rigorosamente nada!», considerou a associação ambientalista algarvia.

No que toca ao fogo e à estratégia de combate adoptada, a Almargem considerou que a prioridade dada à segurança das populações «não pode ser contestada». Mas isso «não deve nunca impedir que os operacionais no terreno desenvolvam também estratégias adequadas para evitar a propagação do incêndio mesmo através de zonas despovoadas o que, neste caso, parece não ter acontecido e possibilitou a amplificação da catástrofe».

«A Almargem solidariza-se com todas as pessoas diretamente afectadas pelos incêndios dos últimos dias em Monchique e Silves, algumas das quais perderam tudo o que tinham. O esforço e o sacrifício dos bombeiros e outros operacionais envolvidos no combate ao fogo e proteção das populações deve também ser realçado e louvado. Já as estratégias e planos postos em prática pelos responsáveis da proteção civil têm de ser analisados de forma muito crítica», defendeu a associação.

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