A partir de hoje, o planeta Terra vive a “crédito ambiental”

«Temos uma janela crítica de oportunidade até 2020 para implementar compromissos e ações e reverter as perdas de natureza até 2030»

Esta quarta-feira, 1 de Agosto de 2018, marca o dia em que a humanidade terá usado os recursos naturais disponíveis para o ano inteiro, de acordo com a Global Footprint Network (GFN), alertam a ANP|WWF e a ZERO.

O Earth Overshoot Day é a data em que a pressão anual da humanidade sobre a natureza excede o que os ecossistemas da Terra podem fornecer naquele ano, e chegou mais cedo um dia em relação ao ano passado.

«A data, que passou do final de Setembro, em 1997, para o início de Agosto, em 2018, simboliza a pressão sem precedentes que a humanidade e as atividades humanas estão a exercer na natureza e nos seus recursos. De acordo com a GFN, seriam precisas 1,7 Terras para sustentar o atual nível estimado de recursos necessários às atividades humanas», salientam as duas organizações ambientalistas.

«Estes dados são claros sobre a necessidade de se produzir e consumir de forma muito diferente. O Overshoot Day indica-nos que estamos a forçar os limites do planeta com uma intensidade cada vez maior, uma tendência que é urgente mudar para bem da Humanidade e da sua qualidade de vida, pois sem este Planeta não sobrevivemos», diz Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF.

Francisco Ferreira, da ZERO, acrescentou que «é comum falar-se da importância de mudar os estilos de vida como um elemento chave para a construção de uma sociedade sustentável. Contudo, a mudança necessária rumo à sustentabilidade não será atingida apenas pela ação individual dos cidadãos. A ação política e das empresas em diferentes sectores é crucial».

Enquanto a biodiversidade global continua a diminuir de forma acentuada e os impactos das alterações climáticas estão a tornar-se definitivos, o Earth Overshoot Day é um aviso para indivíduos, países e comunidade global, para repensar as suas ações, de forma urgente, para proteger as florestas, oceanos, vida selvagem e recursos de água doce, ajudando a alcançar o desenvolvimento sustentável.

«Temos uma janela crítica de oportunidade até 2020 para implementar compromissos e ações e reverter as perdas de natureza até 2030, por forma a ajudar a garantir a saúde e o bem-estar das pessoas e do nosso planeta», afirmam os porta-vozes de ambas as ONG de conservação do ambiente, que defendem as seguintes ações:

>> A aposta numa Economia Circular, onde efetivamente a utilização e reutilização de recursos é maximizada, deverá ser uma prioridade transversal a todas as políticas públicas. O ponto fulcral deverá ser a redução no uso de materiais, a promoção da reutilização e a extensão dos tempos de vida dos bens e equipamentos. Para ser eficaz, teremos que mudar o paradigma de “usar e deitar fora”, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, com um forte enfoque na redução, reutilização e reparação e na procura de oferecer serviços em alternativa à venda de bens.

Quantos países são necessários para garantir as necessidades dos seus cidadãos…

>> A promoção de uma dieta alimentar saudável e sustentável (a começar nas escolas, mas a integrar de forma abrangente em toda a sociedade). Em Portugal, tal significará uma aproximação da balança alimentar portuguesa com o preconizado no padrão alimentar da roda dos alimentos, um objetivo, sobre todos os pontos de vista, desejável.

>> A promoção da mobilidade sustentável assente em diferentes estratégias, pode dar um contributo muito importante, nomeadamente através da melhoria do acesso e das condições de operação dos transportes públicos (por exemplo, privilegiando os corredores específicos e melhorando a articulação entre diferentes meios de transporte, ao nível dos interfaces, horários e bilhética); disponibilização de infraestruturas e condições que estimulem a mobilidade suave (andar a pé, utilização da bicicleta); partilha do transporte (car-sharing) ou mesmo a transição para a mobilidade elétrica.

>> O papel do cidadão, cada um de nós pode ter também um papel muito importante, desde logo através da pressão que podemos colocar em todo o sistema de produção.

>> Exigir a nível político e empresarial a democratização da sustentabilidade. Não faz sentido que quem quer ser sustentável deva ser penalizado em termos de preço ou de dificuldade no acesso aos bens necessários. É importante que o preço a pagar seja justo, mas é muito importante que as soluções menos sustentáveis sejam penalizadas ao mesmo tempo que as opções sustentáveis são incentivadas. A pressão de todos nós pode fazer a diferença.

Quantas Terras precisaríamos se a população vivesse como…

>> Dar um passo de cada vez. Propor-se, por exemplo, o objetivo de fazer uma mudança por mês, para tornar o seu quotidiano mais sustentável, e partilhá-lo com os seus amigos e colegas (não só poderá sensibilizá-los, como poderá aumentar o seu “incentivo” para manter o seu interesse).

«Evitar usar o cartão de crédito ambiental é um investimento no nosso bem-estar e qualidade de vida. Viver com pleno respeito pelos generosos limites do Planeta Terra é a única forma de garantirmos um melhor futuro para todos», salientam as duas ONG.

 

Saiba mais em www.overshootday.org e acompanhe a conversa nas redes sociais em #movethedate.

 

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