Tech Hub é «semente» para fazer do Algarve um «Silicon Valley à nossa escala»

O Algarve Tech Hub, que vai nascer no Campus da Penha da Universidade do Algarve, em Faro, será uma realidade […]

Complexo Pedagógico da Penha, onde vai nascer o Tech Hub – Foto: Gonçalo Dourado | Sul Informação

O Algarve Tech Hub, que vai nascer no Campus da Penha da Universidade do Algarve, em Faro, será uma realidade daqui a dois anos. Mas este edifício «é mais do que tijolo». Será um «quartel-general» das empresas de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na região e uma «semente» que pode fazer do Algarve «um Silicon Valley à nossa escala».

A intenção de criar um Polo Tecnológico (Tech Hub) no Algarve não é nova. A Algarve STP, uma associação que reúne a Câmara de Faro, a Câmara de Loulé, a ANJE e a Universidade do Algarve, nasceu em 2001, quando havia a ideia de construir um espaço deste género no Parque das Cidades, mas nunca chegou à prática.

17 anos depois, o local mudou, a tecnologia evoluiu, nasceram novas empresas, que também se envolveram no projeto, e o Tech Hub vai ser uma realidade.

Paulo Águas

Paulo Águas, reitor da Universidade do Algarve, em entrevista ao Sul Informação, adiantou que espera que «o polo tecnológico seja uma realidade daqui a dois anos. Será uma área de 3 mil metros quadrados, ocupada por empresas da área das TIC. Teremos 300 pessoas a trabalhar na Penha».

O edifício que será ocupado por estas empresas é o Complexo Pedagógico, que vai ser «reconvertido em termos de arquitetura com condições adequadas a empresas desta natureza», explica Paulo Águas.

Para a criação deste Tech Hub foi lançado um aviso-convite pela CCDR Algarve, ao abrigo do Programa Operacional Regional CRESC Algarve 2020, com uma dotação orçamental inicial de 3,8 milhões de euros, sendo que «a candidatura a estes fundos vai ficar fechada depois do Verão».

Segundo o reitor Paulo Águas, as empresas que se instalarem no novo espaço «não estarão apenas a prestar serviços a clientes, também lá estarão para interagir com Universidade. Essa é uma condição para estar no polo tecnológico. A nossa vocação não é alugar espaços, é criar condições para interação e desenvolvimento da atividade de investigação ligada à área das TIC. Nesse sentido, há um conjunto de parceiros locais e regionais muito interessantes. A maior parte deles são ex-alunos da Universidade do Algarve e estou convicto que vamos criar um cluster muito competitivo nesta área».

A ideia é partilhada por Hugo Barros, coordenador do CRIA, Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve, que acredita que este projeto pode colocar o Algarve «no mapa do melhor que existe nas áreas da TIC. Não temos piores empresas que os outros, nem piores dinâmicas, muito pelo contrário. Temos é que agregar a massa crítica, porque está muito dispersa», explica ao nosso jornal.

Hugo Barros considera que o Algarve tem um «conjunto de empresas que são do melhor que há no país, não tínhamos era capacidade de reunir esta massa crítica num lugar comum, onde possam partilhar experiências, contactos e potenciar relações com a Universidade».

Esse lugar ainda não está a funcionar, mas a massa crítica já se está a reunir e nasceu a Algarve Evolution, uma associação que tem na sua comissão instaladora representantes de empresas como a Hubel, Vanguard, Evodeck, Visualforma, Dengun, Itelmatis, Algardata, Sisgarbe, Impokulis, Yourdata, MoonShapes, Turbine Kreuzberg e Easy Sensing.

Quatro dos membros da comissão instaladora da Algarve Evolution

No total, foram contactadas cerca de 40 empresas, sendo que 20 delas estão «ativamente envolvidas na dinamização da associação». No entanto, o objetivo é «reunir o maior número possível» de empresas na área das tecnologias.

Segundo Miguel Fernandes, da Dengun, é preciso mudar o «paradigma da concorrência entre empresas. A maior vitória que já temos é estarmos todos sentados à mesma mesa para vermos como isto pode desenvolver-se».

Já Cláudio Martins, da Visualforma, considera que é importante que as empresas se reúnam para «ganhar escala. Temos muitas coisas de qualidade na região, mas nunca temos escala. Aqui estamos a tentar ultrapassar essa questão da dimensão».

O turismo é o grande motor da economia no Algarve, mas, daqui a dez anos, este grupo de empresários gostava que houvesse uma alternativa. «Temos, na área das TIC, mão de obra especializada que está a ser educada aqui e acaba por ir para fora. Queremos começar a reter os nossos jovens e atrair outros de fora. Se não fizermos isto, vamos continuar a ficar dependentes do turismo. A única maneira de inverter isto é criar um plano e uma visão a dez anos para este setor das TIC. É preciso juntar as peças todas: a Universidade, as empresas, as autarquias. Tem que ser toda a região», consideram.

«Se conseguirmos criar um ecossistema suficientemente avançado em determinada área de conhecimento, que faça nascer um unicórnio [startup avaliada em mais de mil milhões de dólares] daqui a 5 anos, que impacto teria isso para a economia? As TIC podem produzir tanto ou mais do que o turismo já produz para a região», acrescenta Miguel Fernandes.

O Algarve tem vantagens que «devem ser capitalizadas. Temos uma excelente localização e não há uma exaustão de recursos, como em Lisboa, por exemplo. Temos um aeroporto, o clima… Quantas pessoas da Escandinávia não davam um braço para estar aqui seis meses a trabalhar, se houvesse ecossistema digital mais amigável?  Silicon Valley é o que é pelas suas condições, que são parecidas com o Algarve, mas… o Algarve ainda é melhor».

Sendo melhor que Silicon Valley, pode o Algarve atingir um patamar aproximado? A Algarve Evolution acredita que sim, mas «na sua dimensão e na sua especialização. Não vamos conseguir ser como Silicon Valley, que é bom em tudo o que é tecnologia, mas podemos ser bons em algumas das áreas. Temos que comparar dimensões e temos de fazer algo à nossa escala».

João Guerreiro

A criação do Tech Hub no Campus da Penha é uma boa notícia, mas «o Tech Hub é mais do que tijolo. Temos de ver o edifício como uma sede, um porto de ancoragem, onde podemos realizar eventos e que pode ser uma incubadora de startups. É o nosso flagship, o nosso quartel-general. Esta é a semente de tudo o que pode haver depois e o objetivo é criar uma região tecnologicamente competitiva em qualquer parte do mundo. No entanto, não se cria um ecossistema digital com um edifício. O hub é o Algarve e vai haver muitos outros escritórios e outros espaços», acredita a associação.

João Guerreiro, presidente da Algarve STP, entidade que deverá assumir um papel de gestão do Tech Hub, concorda com esta visão. Em declarações ao Sul Informação, o ex-reitor da Universidade do Algarve explica que este projeto «não é uma realidade pontual, física. É uma rede que se está a tentar criar no Algarve com um conjunto de empresas de tecnologias de informação, empresas de energia, universidade, câmaras municipais, incubadoras que estão a ser dinamizadas pelas autarquias e outras entidades, como o IEFP ou o IPMA».

Desde a sua criação, o Algarve STP tem quatro sócios mas, com o Tech Hub prestes a tornar-se uma realidade, «já houve convite a outras câmaras municipais, mas também ao IEFP e ao IAPMEI, para se tornarem associados», revela João Guerreiro.

«Temos no Algarve uma série de empresas, acima das 200, que incidem na área das tecnologias. O que se pretende é aglomerar, dar coerência. Este é um setor transversal, com futuro. Todos os setores precisam de uma forte componente das TIC», acrescenta.

 

Tech Hub ainda não nasceu, mas já há planos para expansão

O Tech Hub ainda não começou a receber empresas, mas, segundo Paulo Santos, vice-presidente da Câmara de Faro, «o primeiro piso já está completo e o segundo já está praticamente cheio». Por isso, a autarquia tem planos para que, no futuro, possa existir uma expansão do Tech Hub para fora dos limites da Universidade do Algarve.

No âmbito da reunião com Nelson de Souza, secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão, para apresentar o projeto do hub, surgiu esta ideia. «Aproveitando o facto de termos o Complexo Desportivo da Penha, paredes meias com o Campus, surgiu a possibilidade de haver uma segunda fase do Tech Hub ao lado. Começámos a olhar e o plano de urbanização da Penha tem previsto um hotel tradicional naquele espaço, junto à Associação de Futebol do Algarve», revela Paulo Santos ao Sul Informação.

Segundo o autarca, «vamos pegar neste lote definido para o hotel, com 17 mil metros quadrados, que já foi a hasta pública duas vezes e ficou vazio, e noutro, que tem tido um aproveitamento que, se calhar, não é o ideal, e vamos dar flexibilidade. Aí, podemos criar uma extensão do Tech Hub em dobro ou triplo. São entre 8 a 10 mil metros quadrados».

Já na componente do hotel, «vamos flexibilizar o lote para que, por hasta pública, se possa trabalhar numa lógica de alojamento temporário. Pode haver uma zona de acolhimento a estudantes universitários, ou uma área de acolhimento com estúdios, em resposta ao local de trabalho que ali será criado. Será uma zona com áreas de lazer e desporto, que são condições essenciais para os funcionários deste tipo de empresas».

Este processo de alteração do plano de urbanização demora «cerca de um ano. Já estamos a trabalhar nele. Depois, o passo seguinte dependerá da dinâmica do Tech Hub e da iniciativa privada».

Paulo Santos acredita que a criação do Tech Hub «é uma oportunidade para Faro e para o Algarve», até porque «não há-de haver muitos sítios na Europa que juntem qualidade de vida, clima e acessibilidades, com o aeroporto, e com qualquer parte da Europa à distância de um voo e com dois voos é possível chegar a qualquer parte do mundo».

«Estes são ingredientes que permitem fazer florescer qualquer semente que se lance na terra», conclui Paulo Santos.

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