Museu de Portimão passa a ser a casa do Fórum dos Museus Europeus e dá nome a novo prémio

O Fórum dos Museus Europeus (EMF/European Museum Forum) vai passar a ter a sua «casa» no Museu de Portimão. E […]

O Fórum dos Museus Europeus (EMF/European Museum Forum) vai passar a ter a sua «casa» no Museu de Portimão. E esta estrutura museológica algarvia vai ser a inspiração e dar o nome a um novo galardão europeu, o Prémio Museu de Portimão, para distinguir o museu mais acolhedor da Europa.

Estas são, em resumo, as duas novidades mais importantes do protocolo assinado na tarde de ontem, 11 de Julho, na emblemática sala do descabeço da antiga Fábrica Feu que, desde há 10 anos, é a casa do Museu de Portimão.

A dinamarquesa Jette Sandahl, presidente do EMF, e Isilda Gomes, presidente da Câmara de Portimão, foram as signatárias do acordo de parceria que define que o Museu de Portimão vai acolher o secretariado administrativo do Fórum dos Museus Europeus, durante três anos, assim como o arquivo do EMF e do EMYA – European Museum of the Year Award (Prémio Museu Europeu do Ano), durante dez anos.

O protocolo formaliza também a criação do novo Prémio Museu de Portimão, destinado a distinguir o museu europeu mais acolhedor e a ser atribuído todos os anos. José Gameiro, diretor científico do Museu de Portimão, disse ao Sul Informação que a primeira entrega deste novo galardão terá lugar em Maio do próximo ano de 2019, durante a cerimónia de entrega dos prémios EMYA, em Genebra, na Suíça.

Na cerimónia, a autarca Isilda Gomes fez questão de sublinhar que o Museu de Portimão passa agora a ser, de facto, «a casa do EMF». «É sempre um desafio fazer algo novo, não só acolhendo aqui o secretariado e o arquivo, mas também lançando este prémio», disse.

Jette Sandahl, por seu lado, manifestou a sua satisfação pelo facto de os arquivos do EMF e do EMYA ficarem instalados «num museu vivo e a respirar».

«Agora temos uma casa. Já há muito tempo que precisávamos disso. Penso que é realmente importante, para a organização do EMF, a nível interno, mas também para a forma como as pessoas nos veem. Agora seremos identificados com este belo lugar ensolarado, no canto mais bonito da Europa», disse a presidente do EMF, em declarações ao nosso jornal.

«O Museu de Portimão sempre foi muito internacional na sua abordagem e essa foi uma das razões pelas quais ganhou o prémio de Museu Conselho da Europa, em 2010», bem como para receber o secretariado e o arquivo, acrescentou Jette Sandahl.

José Gameiro, diretor científico da estrutura museológica portimonense e até há pouco tempo presidente do júri internacional dos prémios EMYA, salientou ao Sul Informação que este acordo permite «colocar o Museu de Portimão no centro dos prémios europeus. A partir de agora, todos os museus da Europa agora enviarão as suas candidaturas para Portimão e, ao mesmo tempo, temos a possibilidade de receber aqui investigadores que queiram estudar 41 anos deste prémio para os melhores museus europeus».

Mas, «a partir de agora, há também um novo prémio para distinguir o museu mais acolhedor da Europa, a que se deu o nome de Prémio Museu de Portimão. Esse prémio, destinado a premiar o maior humanismo no acolhimento aos visitantes, ainda não existia. Nós, como estamos numa zona turística, costumamos receber bem os visitantes, sendo esta uma maneira de prolongar essa ideia. Pela primeira vez, o Museu de Portimão ficará ligado aos museus de toda a Europa que, no futuro, vierem a ganhar esse prémio», acrescentou.

Mark O’Neill, professor do College of Arts da Universidade de Glasgow, na Escócia, há décadas ligado aos museus e desde há pouco tempo presidente do júri dos prémios EMYA, sucedendo ao português José Gameiro, explicou, em entrevista ao Sul Informação, as razões da criação deste novo galardão europeu.

«A definição de um bom museu, para o EMYA, é a sua qualidade pública, não é tanto o edifício ou as exposições, mas antes as experiências do público. Obviamente, uma das experiências mais importantes é sentir-se bem vindo, já que os seres humanos detetam imediatamente quando não são bem vindos. É maravilhoso para nós que Portimão tenha identificado esta qualidade humana como merecendo um prémio. Tem tudo a ver com a filosofia do EMYA e como vencedor anterior, Portimão é um grande nome para dar ao novo prémio».

Mark O’Neill não tem dúvidas de que «vai haver muita competição». No entanto, admite, «até ficamos surpreendidos como ainda há museus que não são acolhedores, que ainda pensam que são uns templos especiais». Felizmente, acrescentou, «os museus mais modernos já perceberam esta questão do acolhimento».

E o que poderá trazer de bom para Portimão este protocolo? Jette Sandahl considera que «o EMF pode fornecer uma porta de entrada no mundo excitante dos museus da Europa. É onde vivemos e, todos os anos, os quatro mais inovadores museus da Europa vêm ter connosco».

Vantagem mais imediata é a promoção de Portimão e do seu museu, em toda a Europa.

A presidente do EMF, ela própria antiga diretora do Museu de Copenhaga, está confiante no papel dos museus no futuro: «quanto mais misturada e conflituosa for a vida europeia, mais os museus podem ser boas plataformas para ter estas discussões sobre o que é a Europa, para onde vai a Europa, o que estamos a pensar no momento sobre isso».

Para a especialista dinamarquesa, o que é interessa é «se as pessoas, as comunidades, sentem que os museus são importantes para si e para a sua vida»

«Cada vez mais, os museus conseguem tornar-se nessas plataformas, onde o resto de nós pode ir. O Museu de Portimão, por exemplo, tornou-se um lugar onde as pessoas que cá trabalharam, na antiga fábrica de conservas, podem vir e ver a sua própria história aqui apresentada, de uma forma que os coloca no meio desse contexto cultural mais alargado. Cada vez mais, os museus percebem como é importante estar intimamente ligado e enraizado na comunidade», concluiu Jette Sandahl.

Mark O’Neill também está razoavelmente confiante quanto ao futuro dos museus. Nas suas declarações ao nosso jornal, recordou que «os museus, em toda a parte, estão a sofrer cortes de financiamento e receitas, por causa da austeridade, mas a verdade é que o número de novos museus está a crescer. Metade dos museus que estão abertos agora não estavam abertos há 30 anos».

Por isso, remata: «as pessoas precisam de museus, por causa da identidade, do sentimento de pertença a uma comunidade, de sentir que têm um lugar especial neste mundo globalizado».

 

O que é o European Forum Museum

O European Forum Museum (EMF) é uma instituição sem fins lucrativos, registada no Reino Unido, que, entre outras iniciativas, assegura o enquadramento legal e organizativo para o desenvolvimento do Prémio do Museu Europeu do Ano (EMYA) e Prémio Museu Conselho da Europa.

O EMYA foi fundado em 1977, com o objetivo de reconhecer, encorajar, premiar e demonstrar a excelência e a inovação na área dos museus, em particular na área da qualidade pública e responsabilidade social.

A ênfase na necessidade de inovação no setor dos museus foi partilhada pelo Conselho da Europa, que, desde o início, tem sido um apoiante ativo e parceiro do EMF/EMYA, na organização e atribuição dos prémios, nos 47 países de toda a Europa.

O prémio Museu Conselho da Europa, importante distinção no contexto europeu e profissional, não só recompensa a inovação – atualmente com ênfase na inovação digital e tecnológica -, mas acentua uma perspetiva europeia e a articulação e interpretação em museus da cidadania, democracia, direitos humanos, tolerância e diálogo intercultural, unindo culturas e superando fronteiras sociais e barreiras políticas.

O EMF é dirigido por uma direção (Board of Trustees, cuja reunião mais recente teve lugar em Fevereiro, precisamente no Museu de Portimão), constituída por profissionais de museus de toda a Europa.

A direção nomeia um máximo de treze e um mínimo de nove juízes que constituem o júri de avaliação e seleção dos diversos tipos de prémios.

Os membros do júri EMYA representam diferentes disciplinas profissionais, possuindo elevada experiência prática e teórica na área dos museus e da museologia.

A promoção das candidaturas dos museus europeus aos prémios EMYA é apoiada por correspondentes nacionais, nomeados para o efeito, em cada um dos 47 países do Conselho da Europa.

 

Os prémios

Existem dois prémios principais:
– o Prémio Museu Europeu do Ano (EMYA)
– o Prémio do Museu Conselho da Europa (CoE)

Há ainda outros prémios e menções especiais:

– o Prémio Silleto, que reconhece a excelência no trabalho com a comunidade local e o envolvimento de voluntários e amigos de museus
– o Prémio Kenneth Hudson, que é dado como reconhecimento ao mais inesperado e arrojado museu ou a um museu que desafie a normal perceção do papel dos museus na sociedade
– a Menção para a Sustentabilidade e outras Menções Especiais são conferidas a museus que demonstrem excelência em aspetos particulares do seu trabalho
– e agora passa a haver também o Prémio Museu de Portimão, para distinguir o museu mais acolhedor da Europa.

 

Arquivo EMF/EMYA

Sendo o EMF uma organização com uma história de mais de quatro décadas (1977-2018), preservar o seu arquivo é «uma prioridade e um enorme mas responsável desafio».

O Arquivo EMF/EMYA é composto por documentos de candidatura e descrição dos museus, formulários, fotografias e outros materiais de apoio de mais de 1000 museus, além de publicações, newsletters, relatórios dos juízes, registos de conferências e das cerimónias anuais de entrega dos prémios.

Como os serviços administrativos do EMF foram deslocados em várias ocasiões e em diversas cidades, o arquivo está dividido em três locais: Berlim, Milão e Liverpool.

Por esse motivo, o EMF considera que é de «grande importância a sua reunião e localização num só lugar, disponível para a consulta, pesquisa e investigação nas áreas da museologia e do património».

O EMF suporta todas as despesas necessárias à aquisição de equipamento (estantes e prateleiras), de acordo com o padrão e tipologias já existentes no Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) do Museu de Portimão.

Assegura ainda a transferência e o transporte dos seus arquivos desde os diferentes locais atuais até Portimão, providenciando a presença de um membro da sua direção para a entrega e apoio à equipa do CDAH, fornecendo ainda as diretrizes e indicações para os procedimentos de acesso públicos aos seus arquivos.

Para a direção do EMF, José Gameiro assumirá um «papel de interligação formal», como coordenador de apoio à parceria entre aquele Fórum e a Câmara de Portimão, e à atividade do secretariado e do arquivo.

O EMF salienta que Gameiro assume esse papel dada a sua «visão global e o profundo conhecimento dos ciclos anuais da organização das atividades do EMF/EMYA» e a sua «experiência pessoal acerca das necessidades de ambos os parceiros, tanto através da direção científica do Museu de Portimão, quer enquanto membro da direção da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus (2018-2020) e pela sua ligação ao EMF/EMYA desde 2011, como membro do júri e depois, desde 2015, na qualidade de presidente do júri do Prémio Museu Europeu do Ano e Prémio Conselho da Europa.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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