Cápsula do tempo preserva memória do restauro da Torre da Lapa

O contrato de adjudicação da obra de conservação e restauro, um print da página de abertura do Sul Informação de […]

O contrato de adjudicação da obra de conservação e restauro, um print da página de abertura do Sul Informação de hoje, bem como outra impressão da reportagem sobre o restauro, uma mensagem para as gerações vindouras, de todo o executivo da Câmara de Lagoa, com as fotos dos autarcas, bem como uma pen drive, com o timelapse sobre as obras e o documentário produzido e ainda duas moedas do ano corrente.

Foi tudo isto que esta terça-feira, dia 10 de Julho de 2018, ficou guardado numa cápsula do tempo, um tubo estanque enterrado junto à Torre da Lapa, a antiga atalaia do litoral de Lagoa, cujo restauro foi hoje inaugurado.

«Daqui a 100 anos, quando abrirem isto, já não há computadores para abrir esta pen e ver o que está lá dentro», brincou Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa. Em conjunto com Alexandra Gonçalves, diretora regional de Cultura, e o comandante Santos Arrabaça, capitão do Porto de Portimão, o edil lagoense depositou esta cápsula do tempo num buraco junto à Torre da Lapa.

«É um testemunho dos nossos dias, do que se sabe sobre esta torre e do que pela sua conservação fizemos, que aqui deixamos para quem vier depois de nós», acrescentou José Fernando Vieira, arquiteto paisagista da Câmara de Lagoa.

«Quero agradecer, enquanto presidente da Câmara, aos teimosos que fizeram isto. Há quatro anos, quando se começou a falar na recuperação da Torre da Lapa, na Assembleia Municipal diziam que não, que não era possível. Mas viva a teimosia de uns quantos, da senhora vereadora [Anabela Simão] e do José Vieira. É com muita teimosia, muita persistência, muito trabalho que não se vê que surgem estas coisas», sublinhou Francisco Martins.

Alexandra Gonçalves, diretora regional de Cultura, e Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa, com a cápsula do tempo

A diretora regional de Cultura, por seu lado, classificou o restauro da antiga torre de atalaia, que estava muito arruinada, como uma «conquista».

Alexandra Gonçalves elogiou também o documentário produzido pela Câmara de Lagoa, com prata da casa, sobre a história e as estórias da Torre da Lapa. «Vê-se que há aqui muito trabalho de investigação que está na base, um trabalho de pesquisa da história e da memória, não só deste local, como da riqueza envolvente. A investigação é um trabalho escondido, silencioso, mas que é essencial», disse.

«Preservar é muito importante, mas também o é criar mecanismos de interpretação deste património, cultural e natural, para quem nos visita e para a comunidade de proximidade», acrescentou.

«Para tudo isto, a Câmara de Lagoa reuniu uma equipa maravilhosa, e o produto final, quer da recuperação, quer dos documentário, é maravilhoso e agora torna-se público, ficando disponível para todos», sublinhou Alexandra Gonçalves. A cereja no cimo deste bolo será a classificação da Torre da Lapa como «imóvel de interesse nacional», o que está «para breve», garantiu a diretora regional de Cultura do Algarve.

José Vieira, o comandante Santos Arrabaça e o vice-presidente Luís Encarnação inauguram Caminho dos Promontórios

Mas a manhã desta terça-feira foi ainda aproveitada para outra inauguração: a do novo percurso pedestre pelas arribas do litoral de Lagoa, denominado «Caminho dos Promontórios», que, aliás, integra no seu trajeto a Torre da Lapa.

José Vieira salientou que o trilho se estende ao longo de «uma sucessão de promontórios, que, o que não têm de magnificência, têm de beleza». Entre a Praia do Molhe, junto a Ferragudo e ao Farol da Ponta do Altar, e a Praia do Paraíso, junto a Carvoeiro, são 7 quilómetros de percurso pedestre, devidamente sinalizados, com zonas de paragem e painéis informativos…e uma paisagem de fazer perder o fôlego.

Além da Torre da Lapa, há pelo caminho outros pontos de grande interesse patrimonial, como o farol ou a chamada Presa da Moura, uma antiga barragem romana no Vale Lapa.

Em termos de património natural, José Fernando Vieira destaca o Leixão da Gaivota, frente à Praia dos Caneiros, que é uma Zona de Proteção Especial para aves, as orquídeas que despontam nas arribas calcárias no Inverno ou ainda os dois casais de falcões-peregrinos que ali nidificam.

Ou ainda, a riqueza geológica das próprias arribas, já que o trilho estende-se ao longo de sete quilómetros de costa e incide sobre uma plataforma rochosa calcária com uma altitude que varia entre os 2,5 e os 40 metros. Este percurso é interrompido por vales suspensos, pequenas enseadas e areais (praias) e, ocasionalmente, marcada por cavidades verticais naturais designadas por “algares”.

O Caminho dos Promontórios (uma segunda fase do Caminho do Algar Seco) é um investimento conjunto no valor de 118.500 euros.

Complementa outros dois percursos pedestres do litoral de Lagoa: o Caminho do Algar Seco (perto de Carvoeiro, acessível a pessoas de mobilidade condicionada), e o Percurso dos 7 Vales Suspensos (entre a Praia de Vale Centeanes e a Praia da Marinha). Juntos, permitem descobrir e conhecer mais de metade da orla costeira do concelho.

 

Vídeo em timelapse das obras de conservação e restauro:

 

Clique aqui para ver o documentário sobre a história e estórias da Torre da Lapa

 

Texto para as gerações vindouras que ficou guardado na cápsula do tempo, enterrada junto à Torre da Lapa:

«A TORRE DA LAPA E AS MEMÓRIAS DA CONSTRUÇÃO DO ALGARVE

Há um caminho que atravessa a história e une os algarvios daqui e dali, os de agora e os de outros tempos. Há memórias a preservar, histórias e aventuras a contar,  que nos ajudam a compreender quem somos e a garantir que compreendemos o passado e as motivações dos que nos precederam.

Há memórias gravadas nos arquivos, mas também há pedras com memória; registos incontornáveis na consolidação de uma identidade, para compreender quem somos enquanto povo, mas também enquanto indivíduos. Na verdade, a nossa história determina invariavelmente o caminho a seguir no futuro.

A decisão e o empenho na recuperação e preservação da Torre da Lapa assenta nestes princípios, mas também numa visão, em que a valorização e a proteção do território e dos seus valores naturais e patrimoniais potencia uma visitação pedagógica, respeitadora e sustentável.

A Torre da Lapa, construída no século XVI para assegurar a vigilância de um importante troço de costa, é um singelo legado histórico, porém, é igualmente um testemunho eloquente de um passado atribulado que é importante revisitar. Um tempo em que o Algarve estava a “ferro e fogo” sob as investidas de piratas e corsários de várias proveniências e que obrigou a um forte empenho na construção de uma complexa estrutura de defesa e vigilância, ao longo de toda a costa, de que este monumento fez parte.

O reconhecimento deste valor patrimonial levou a que esteja a caminho de ser classificada como Monumento de Interesse Público.

A resiliência da Torre da Lapa à passagem do tempo inspirou, no poder autárquico de Lagoa, a vontade de registar e enviar ao futuro as motivações do seu empenho  no restauro deste monumento. A mensagem que aqui vos deixamos é transmitida pelos que procuraram compreender e interpretar o povo e o território, neste século XXI a fervilhar de mudança e enormes desafios.  Possamos nós deixar-vos um mundo melhor.

À Geração que aceder a este testemunho, deixamos uma sentida saudação.

Torre da Lapa, Lagoa, 10 de Julho de 2018»

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

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