Plataforma Algarve Agricultura nasce para responder aos desafios do setor na região

Foi um autêntico raio-x ao estado da agricultura e das atividades do mundo rural, no Algarve, mas foi também a […]

Foi um autêntico raio-x ao estado da agricultura e das atividades do mundo rural, no Algarve, mas foi também a base para a criação de uma plataforma que pense o setor agrícola da região, no futuro. Centena e meia de pessoas, entre produtores, técnicos e decisores políticos, juntaram-se na sede do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, em Loulé, no dia 22 de Junho, para uma jornada de trabalho que visou pôr os agentes do setor a conversar e, acima de tudo, a colaborar.

No final, o sentimento entre os promotores da conferência “Setor Agrícola no Algarve: Reforçar dinamismos e explorar potencialidades” era o de dever cumprido. De tal forma que Vítor Neto, presidente do NERA, lançou, de imediato, o desafio de não deixar o trabalho feito por aqui.

«Proponho a criação de uma Plataforma Algarve Agricultura, através da qual todos os que aqui estiveram hoje poderão lançar o debate e levantar questões setoriais. Vou marcar já uma reunião com o grupo de trabalho que organizou esta conferência. Vamos continuar», anunciou Vítor Neto, no final da conferência.

A João Guerreiro, professor e antigo reitor da Universidade do Algarve, coube a difícil tarefa de resumir, em poucos minutos, o que foi veiculado pelos oradores, ao longo de várias horas, em intervenções cuja riqueza e pertinência foram elogiadas por muitos dos que assistiram à conferência.

«Abordámos os temas principais e aquilo que é mais relevante para o Algarve, neste setor», resumiu João Guerreiro. Isto porque a iniciativa não se limitou a abordar a agricultura. Também áreas como a pecuária, a gestão florestal e a caça estiveram em debate. Afinal, é de tudo isto que se faz o interior do Algarve.

Daí que uma das ideias fortes que saíram da conferência é a vantagem de uma abordagem mista ao território, que poderá ter «usos mistos». No fundo, trata-se de aliar a agricultura à silvicultura e à pecuária, numa lógica integrada de produção, abrindo espaço «para o ambiente e para o turismo».

Nesta iniciativa também ficou bem patente «a capacidade de renovação e reorientação que estas atividades têm tido, nos últimos anos», na visão de João Guerreiro. Testemunhos de empresários do setor agrícola permitiram perceber não só as dificuldades que estes enfrentaram ao longo dos últimos anos, mas também as estratégias que usaram para se adaptar e dar a volta por cima.

Este trabalho passou, muitas vezes, pela alteração das culturas produzidas, mas também por verdadeiras revoluções no modelo de negócio. «Isto é algo que tem muito a ver com o mercado. São os consumidores que comandam as principais opções feitas nas explorações agrícolas», considerou João Guerreiro.

Em muitas das intervenções, nomeadamente nas dos produtores convidados a estar presentes, também foi realçada a dificuldade nas relações com a administração. «Temos o simplex, mas talvez haja aqui a necessidade do simplex ser um pouco mais aprofundado, neste setor», considerou o antigo reitor da UAlg.

Do que não há dúvidas é de que a região algarvia «tem um potencial enorme» para o desenvolvimento do setor agrícola, nomeadamente as horas de Sol, que permitem «ter culturas o ano inteiro».

Mas, avisou João Guerreiro, «há que incorporar cada vez mais conhecimento, nestas áreas», já que é por aí que o Algarve pode compensar a pequena escala da sua produção, em relação a outras regiões.

A iniciativa de lançar esta reflexão partiu do NERA, que desafiou a Universidade do Algarve, a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) algarvia e a Direção Regional de Agricultura e Pescas a juntar-se à comissão organizadora.

Para Vítor Neto, o anfitrião, o evento foi um sucesso. «Ouvimos aqui hoje coisas extraordinárias. Nem tudo o que foi dito foi novidade, mas o nível da análise aos problemas está muito mais elevado», em relação a outros debates que ocorreram no passado.

No seu discurso inicial, o presidente do NERA já havia defendido «a oportunidade desta iniciativa», que surge numa altura de grandes mudanças ao nível da economia mundial, da política europeia e em que as alterações climáticas são uma realidade cada vez mais evidente. «Quem não se preparar vai ter surpresas», avisou.

Vítor Neto lembrou que a agricultura «tem passado económico, no Algarve, não é uma descoberta recente» e «tem tradição e história de sucesso». Falando num «novo ciclo positivo da agricultura algarvia», o responsável pelo NERA defende que «agarrar o dossier da agricultura faz hoje todo o sentido».

O secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, o algarvio Miguel Freitas, que marcou presença na conferência, não coloca em causa este ciclo positivo, mas avisou que os grandes problemas que se avizinham estão ligados às alterações climáticas, um tema pouco abordado na iniciativa.

«No futuro, termos problemas efetivos de escassez de água, menos gente para trabalhar e menos recursos financeiros, nomeadamente públicos. E se há menos recursos, temos a ciência e conhecimento para ajudar», avisou o membro do Governo.

«É fundamental perceber que temos de ter novos modelos institucionais. Só uma boa organização económica, humana e social é que nos permitirá enfrentar a falta de recursos futura», concluiu Miguel Freitas.

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