Festival de caminhadas voltou a encher e a deixar a sua marca no Ameixial [com fotos]

Caminhadas, cultura e inovação na maneira de comunicar Turismo de Natureza andaram de mãos dadas na Serra do Caldeirão. O […]

A intervir na paisagem perto dos Vermelhos, no Ameixial

Caminhadas, cultura e inovação na maneira de comunicar Turismo de Natureza andaram de mãos dadas na Serra do Caldeirão. O Walking Festival – Festival de Caminhadas do Ameixial (WFA) voltou a ter casa cheia, na sua 6ª edição, que decorreu no fim-de-semana, e a deixar a sua marca na paisagem.

Na sexta-feira, numa altura em que os primeiros participantes iam chegando à aldeia do interior do concelho de Loulé, já estavam «esgotadas as inscrições na larga maioria das atividades», segundo a organização, a cargo da Cooperativa QRER. O programa deste ano, muito orientado às famílias, mas com iniciativas para vários gostos, entre caminhadas e workshops, mostrou-se apelativo e voltou a convencer muita gente a subir a Serra do Caldeirão, para se fazer aos trilhos do Ameixial e localidades vizinhas. Houve mesmo quem tenha feito o caminho de Loulé até esta aldeia, bem próxima da fronteira com o Alentejo, a pé.

Leonor Pêgo, a artista convidada criar uma obra de arte em plena serra – neste caso, no sítio dos Vermelhos, não muito longe da aldeia do Ameixial -, não teve de andar, mas nem por isso deixou de dar o corpo ao manifesto. A escultora portuguesa fez uma instalação artística junto a uma eira antiga, no topo de um monte, numa alusão aos monumentos funerários milenares que existem nesta zona da Serra do Caldeirão, e passou vários dias a carregar pedras, para garantir que a peça estava pronta antes do final do festival.

«Sou escultora e sempre tive muito interesse neste tipo de trabalhos, em que uso o material natural e que a natureza que está à volta nos oferece. Fiz uma viagem por esta zona com o Pedro Barros [Projeto Estela/Escrita do Sudoeste], o que foi ótimo, pois não só fiquei a conhecer imensos segredos da parte arqueológica, mas também da parte comunitária e social», revelou a artista, ao Sul informação.

Leonor Pêgo

No seguimento deste périplo, «surgiu este interesse pelas eiras, que têm esta forma circular, mas reta». Leonor Pêgo fez, então, «duas propostas bem diferentes. Uma tinha a ver com uma escavação, também circular, onde se poderia depositar água. A outra, a que acabei por escolher, foi recorrer à pedra e fazer estes muros».

Escolhida a técnica,, a escultora pensou na obra de arte em si. «Tem este formato esférico, está voltada a nascente e tem um caminho ao centro, para que o caminhante o possa atravessar e ver o nascer do Sol. Também se poderá sentar e descansar. Por outro lado, também quero que a própria natureza também atravesse entre estas pedras, que são um elemento duro, pesado e frio», descreveu.

Para erguer esta estrutura, é necessário «muito cuidado e tentar cumprir os requisitos dos equilíbrios e dos encaixes», tendo em conta que se quer que a peça fique naquele local por muitos anos. «É um quebra-cabeças, uma espécie de puzzle que se vai fazendo», resumiu Leonor Pêgo, com um sorriso no rosto.

Como tem vindo a acontecer desde a primeira edição do Festival de Caminhadas do Ameixial, os participantes são desafiados a colaborar na elaboração das obras de arte, que remetem, sempre, para elementos patrimoniais locais – a Escrita do Sudoeste é um elemento central do WFA, mas o património edificado, como os palheiros ou as antas (monumento fúnebres) existentes na freguesia, são abordados nas caminhadas e iniciativas paralelas do festival.

«Quero fazer aqui uma espécie de experiência quase performativa. A ideia é criar uma espécie de corrente humana, para que as pedras passem pelas mão de todos, até chegarem à escultura. Isso também permitirá dar um ideia do peso que é construir estes muros e estas casas maravilhosas que vemos aqui na serra. E nós já usufruímos de metade do trabalho feito, pois as pedras já estão fora da terra», ilustrou Leonor Pêgo.

Entretanto, na sala da Junta de Freguesia do Ameixal, estiveram os convidados da conferência “Comunicar Destinos de Natureza”, parte dos quais vindos de longe, que partilharam experiências inovadoras e boas práticas na promoção e estruturação do Turismo de Natureza.

Gonçal Portabella e Arcadi Castillo, em representação do Patronat de Turisme de la Diputacio de Lleida e do Instituto para o Desenvolvimento e Promoção do Alto Pirenéu e Iran (IDAPA), Gonçalo Lima, da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, Filipe Macedo, do Turismo dos Açores, e Filipe Silva, do Turismo de Portugal, foram convidados pelos organizadores do WFA para falar sobre o tema.

Também presentes estiveram o presidente da Câmara de Loulé Vítor Aleixo, o presidente da Região de Turismo do Algarve Desidério Silva, o anfitrião José Carrusca, presidente da Junta do Ameixial, e Sara Fernandes, presidente da QRER.

«O grande objetivo foi mostrar o que se está a fazer ao nível da divulgação dos territórios. Os Açores estão com uma campanha muito forte, orientada para o turismo ativo e para um público jovem. O Portugal Trails, do Turismo de Portugal, deu aqui a perspetiva do que se está a fazer a nível nacional para promoção das caminhadas e da bicicleta. No fundo, quisemos mostrar como se anda a promover o território fora de portas», explicou ao Sul Informação João Ministro, a empresa ProActiveTur, que moderou o debate.

No caso dos convidados vindos da Catalunha, «têm vindo a realizar um trabalho muito interessante, que ainda não se faz muito em Portugal, que tem a ver com coisas muito básicas, mas extremamente importantes. Um exemplo é a identificação e classificação de caminhos públicos. Ainda temos um problema muito grande, por cá, em saber se um caminho é público. Os espanhóis já estão a fazer essa base de dados e até já têm publicações sobre isso. Por outro lado, estão numa fase em que estão a requalificar e regenerar caminhos públicos. Nós estamos numa fase contrária: assiste-se com muita regularidade à destruição de percursos pedestres».

Por outro lado, na zona de Lleida, no interior da Catalunha, onde a paisagem se divide entre a alta montanha, os pré-Pirinéus e um vasto planalto, com muita atividades agrícola, há também uma forte sintonia entre o setor público e privado no sentido de valorizar o turismo de caminhadas e de bicicletas. Isso passa, não só, por uma uniformização das condições básicas que os alojamentos proporcionam aos turistas, mas também por uma estratégia de comunicação concertada, onde são envolvidos aqueles que mais lidam com os visitantes, entre os quais os taxistas e empregados de estabelecimentos de restauração.

Esta conferência inicial foi, também, um momento solidário. Além de dar espaço ao festival Walking Weekend, da Pampilhosa da Serra, para se promover, o WFA foi mais longe e irá investir 750 euros na reflorestação de zonas ardidas pelos fogos do Verão passado neste concelho da zona centro do país. Um momento que foi assinalado com a doação de um medronheiro a Gonçalo Lima, que esteve no Algarve para apresentar o festival e acabou por ser surpreendido com esta oferta.

 

Fotos: Fabiana Saboya|Sul Informação e Pedro Barros|WFA/Projeto Estela

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