80% das fechaduras das casas portuguesas não são seguras

Cerca de 80% das fechaduras das casas portuguesas não são seguras. A conclusão surge da extrapolação para a realidade nacional […]

Cerca de 80% das fechaduras das casas portuguesas não são seguras. A conclusão surge da extrapolação para a realidade nacional de um estudo realizado, há quatro anos, em Espanha, pela Unión de Cerraderos de España, segundo o qual as fechaduras usadas são antiquadas e fáceis de abrir.

“Esta extrapolação é possível, uma vez que o nosso parque de fechaduras é em tudo semelhante ao espanhol e não se alterou desde 2014”, como atesta Ricardo Jardim, presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Chaves e Sistemas de Segurança (APECSS).

Esta associação nacional é membro da European Locksmith Federation (ELF), que realiza pela primeira vez em Portugal a sua convenção anual internacional.

A importância da certificação e regulamentação da atividade no nosso país, que a APECSS tem defendido, a adoção de sistemas de segurança assentes nas novas tecnologias e as implicações de inovações como as impressões 3D são os temas principais em discussão no evento que termina este domingo, no Porto.

A ELF Convention 2018 refletiu sobre o momento de viragem nos sistemas de segurança do mercado residencial, ou seja, da segurança mecânica tradicional para sistemas de segurança de conveniência “Smart” e “IoT”.
Foram ainda debatidas as implicações na segurança de fechaduras mecânicas e eletromecânicas como consequência do avanço tecnológico de impressões 3D.

“A adoção de tecnologias que já nos permitem, por exemplo, abrir a porta à distância com recurso a smartphones levanta questões de segurança. No entanto, os atuais sistemas são tão antiquados e frágeis, que certamente a tecnologia vem contribuir para melhorar”, explica Ricardo Jardim.

Com mais de mil profissionais inscritos, oriundos de 46 países, como Estados Unidos da América, Brasil, China, Suécia, Líbano, Nigéria e Turquia, a ELF Convention 2018 contou com oradores como Marc Tobias, advogado de investigação norte-americano especializado em fechaduras, e o seu associado venezuelano Tobias Bluzmanis, especialista em métodos de intrusão, e Aaron Smith, professor australiano.

Marc Tobias analisou e alertou para vários problemas nos sistemas de segurança da Casa Branca e do Pentágono, colaborando com agências governamentais como o FBI. “The security implications of 3D printing technology and how it relates to mechanical and electro-mechanical locks” é o tema que Marc Tobias e Tobias Bluzmanis abordaram.

Aaron Smith falou sobre o tema “What do 3D printing the iPhone X and drones have to do with my business?”.

 

Regulamentação, precisa-se, pela segurança de todos

Um dos maiores desafios com que Portugal se confronta nesta área é a ausência de regulamentação do setor. No nosso país, além de termos fechaduras antigas e frágeis, o trabalho profissional para forçar a abertura de portas, por exemplo em caso de esquecimento da chave, não é certificado, o que acarreta riscos de segurança e concorrência desleal.

A APECSS tem vindo a lutar pela regulamentação do setor em Portugal, defendendo a adoção do modelo italiano que criou disposições para profissões não regulamentadas enquadradas no Quadro Europeu de Qualificações (QEQ).

Deste modo, a associação defende a certificação dos profissionais de acordo com a experiência técnica demonstrada, bem como a existência em todas as empresas do setor de pelo menos um técnico qualificado no âmbito do QEQ.

“O exercício desta atividade implica o acesso a informação cuja divulgação pode comprometer a segurança e os bens pessoais de cada pessoa; envolve a segurança do consumidor e o conhecimento de informação sensível relativa aos bens pessoais daquele, como morada, bens valiosos que possui, códigos de acesso, chaves de viaturas, entre outros. Torna-se portanto fundamental que o tratamento desta informação seja feito por entidades com a devida formação e competentemente certificadas”, defende o presidente da APECSS. “Os cidadãos têm o direito de poder recorrer a profissionais cujas qualificações sejam reconhecidas e que obedeçam a um código deontológico que os responsabilize”, acrescenta.

Ricardo Jardim chama a atenção para o elevado número de participações criminais de furtos em estabelecimentos, residências e viaturas com recurso a arrombamento, escalamento ou chaves falsas.

“A regulamentação e a certificação da atividade são essenciais para a segurança do cidadão e até para salvaguardar o profissional que presta o serviço. Isto porque, se este atualmente chamar as autoridades para presenciarem e tomarem nota do arrombamento de uma fechadura a pedido do suposto proprietário da respetiva casa, estas não são obrigadas a comparecer. Não há qualquer lei que as obrigue a fazê-lo”, remata.

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