A exibição, quase em estreia no Algarve, do premiado e desconcertante filme «A Fábrica do Nada», de Pedro Pinho, com a presença da argumentista Leonor Noivo, marca a abertura, no próximo dia 30 de Abril, às 21h30, da primeira edição da Mostra Internacional de Cinema «Algares», a decorrer durante todo o mês de Maio, em Lagoa.
Esta mostra, que Ana Martins, vereadora da Educação da Câmara de Lagoa, garantiu ser «para continuar e reforçar» nos anos vindouros, foi apresentada na quinta-feira ao princípio da noite, na Fnac do AlgarveShopping, na Guia.
Marina Lanza, representante do Festival de Cinema Europeu de Sevilha, que é um dos mais importantes parceiros deste novo certame algarvio, sublinhou o privilégio que será ver o filme «A Fábrica do Nada», premiado no Festival de Cannes (prémio da Federação dos Críticos de Cinema), vencedor do Giraldillo de Oro 2017, em Sevilha, considerado melhor filme no CineVision, em Munique, e prémio especial do júrido Festival de Cinema de Turim, em Itália. «O cinema português tem muito êxito fora de Portugal, com Miguel Gomes, Pedro Costa e agora Pedro Pinho», salientou.
Marina Lanza, na conferência de imprensa de apresentação do «Algares», não quis revelar tudo sobre a colaboração entre o Festival de Sevilha e a Câmara de Lagoa, mas salientou que a colaboração «pode ser muito frutífera».
Nesta primeira edição do «Algares», o terceiro e muito importante parceiro é a Direção de Serviços do Algarve da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares (ex-Direção Regional de Educação), através do seu programa «Juventude-Cinema-Escola», o JCE, que agora assinala os seus vinte anos de vida e que terá a sua festa de encerramento do ano letivo, no dia 30 de Maio, no Centro de Congressos do Arade, no Parchal (Lagoa), no âmbito desta mostra.
«Normalmente, a festa final do JCE conta apenas com os professores e os alunos da rede de escolas que integram este programa. Mas este ano, porque a festa se integra na Mostra “Algares”, vamos abrir e ter um leque mais vasto de público», explicou Graça Lobo, professora que criou e é responsável pelo JCE.
A abertura da mostra será ainda marcada, às 20h30, pela inauguração da exposição «A Aventura do Cinema», que incluirá, segundo a sua responsável, a professora Teresa Laranjo, «posters, cartazes, máquinas antigas de projeção, fazendo a retrospetiva do percurso» do programa Juventude-Cinema-Escola.
«As escolas são como um viveiro do futuro. O público futuro são os jovens de hoje. E o cinema pode ser um momento muito didático, escolhendo os filmes certos e dirigindo isto aos jovens», salientou, a propósito, Marina Lanza, do Festival de Cinema de Sevilha.
Também Francisco Marques, delegado regional de Educação, salientou que o JCE e a parceria estabelecida com a Câmara de Lagoa para a organização desta Mostra «Algares» tem «como ponto fulcral, o cinema, que é uma arte muito específica».
E, sublinhou, «a aposta nas artes é algo que não podemos descurar se estamos a falar de educação». A educação é «desenvolvimento de competências, nomeadamente no âmbito da cidadania». Por isso, salientou Francisco Marques, o cinema pode ser usado como «trampolim para que os alunos possam ter sucesso escolar».
Porque o «Algares» é uma iniciativa que, um pouco no seguimento da filosofia do programa JCE, se destina em especial aos mais jovens (e às suas famílias), a 23 de Maio, às 18h00, terá lugar a sessão «Vou levar os meus Pais ao Cinema», com a apresentação do filme clássico «O Garoto de Charlot», de Charlie Chaplin.
Mas o programa inclui ainda a entrega dos prémios do Lagoa Short Film Festival, dirigido aos alunos algarvios do Secundário (público e privado), a exibição de «Novas Curtas Portuguesas» ou uma aula sobre a «invenção do cinema», por Graça Lobo, a responsável pelo programa Juventude-Cinema-Escola.
Haverá também uma conferência sobre «a receção dos clássicos no cinema», por Adriana Freire Nogueira, professora da Universidade do Algarve e «extraordinária comunicadora», marcada para 16 de Maio, às 18h30, na Biblioteca Municipal de Lagoa. Segundo Graça Lobo, a conferência, aberta também ao público em geral, irá falar sobre «como é que ainda hoje temos os mitos e a cultura greco-latina no cinema».
A 31 de Maio, às 21h00, fechando esta primeira edição da Mostra Internacional de Cinema «Algares», o Auditório Municipal de Lagoa irá receber mais uma exibição de um filme de grande qualidade, «O Futebol», de Sergio Oksman, realizador brasileiro radicado em Espanha há anos. Na sessão, estará presente José Luís Cienfuegos, diretor do Festival de Sevilha.
Marina Lanza, da organização do certame sevilhano, explicou que «Futebol» é um filme apropriado para esta época, pouco antes do Mundial de Futebol na Rússia. A película, entre a ficção e o documental, «fala da relação de um pai e um filho que não se falam a não ser quando falam de futebol». Na realidade, o filme até fala muito pouco de futebol…
Isa Mateus, do Cineclube de Faro, parceiro do programa JCE e desta mostra de cinema, em jeito de conclusão, salientou que «o sucesso do JCE reside nas redes de cumplicidades e no facto de sentirmos a necessidade de fazer a mediação entre o que é cultura e o que é educação».
E é nessa confluência entre Cultura e Educação que se situa esta Mostra Internacional de Cinema. «O Município de Lagoa aposta na formação de públicos, que passa pelo cinema e pelas outras artes. Somos uma Cidade educadora, que abrange todas estas questões, num sentido muito lato», conclui a vereadora Ana Martins.
Curtas-Metragens com «orçamento zero» mostram o que valem
O Festival de Curtas-Metragens (Lagoa Short Film Festival) é uma iniciativa promovida pela Nobel Internacional School, escola privada com sede em Lagoa. Pedro Carvalho, professor responsável pelo certame, disse esperar «curtas de todo o Algarve, de Alcoutim a Vila Real de Santo António», todas feitas por jovens estudantes do Ensino Secundário, de escolas públicas e privadas de toda a região.
O projeto, recordou, «nasceu há quatro anos, inserido numa visão de escola que está preocupada em desenvolver competências sociais dos alunos, em paralelo com as competências académicas». Por isso, foi criada a disciplina de «Expressão Artística», ocupando dois tempos letivos por semana e para a qual não havia «nem programa, nem manuais».
O objetivo era «fazer com os alunos algo que fosse uma obra de arte, para ser apresentada à comunidade». O desafio lançado aos alunos foi que fizessem curtas-metragens, «onde eles fizessem tudo, desde escrever o guião, ir filmar (até com um smartphone), representar, maquilhar, editar, montar».
A única condição é que o pequeno filme tinha de ter «orçamento zero: trabalhar com o guarda roupa que já tinham, os seus próprios telemóveis, ninguém ia comprar programas de edição».
Os resultados, confessa o professor Pedro Carvalho, «foram surpreendentes!». De tal forma que, se na primeira edição o festival teve uma mostra final no ginásio daquela escola internacional, no segundo ano já foi para o Auditório Municipal de Lagoa, que encheu, e este ano alargou-se, com o apoio da Câmara lagoense e da DGESTE, à participação de curtas realizadas por alunos de todo o Algarve.
A sessão final, onde serão revelados os premiados, está marcada para dia 4 de Maio, sexta-feira próxima, às 21h00, de novo no Auditório Municipal de Lagoa. O professor ainda não sabe quantos filmes irão concorrer, porque a data limite de entrega é até amanhã, dia 30 de Abril.
«Como bons portugueses, deixamos tudo para o fim». No ano passado, houve 30 curtas a concurso, «quase todas entregues no último dia». Este ano, «até já recebi nove curtas, e duas delas são de fora da Nobel School». Dia 4, irá então saber-se quem são os futuros «Manoeis de Oliveira» algarvios.
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação
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