João da Rosa, de Olhão, já é “Escola Azul” e todos deram o seu contributo

«Estou muito feliz. Sendo eu o coordenador, achei que teria de fazer o trabalho todo, mas não. Tenho-me limitado a […]

«Estou muito feliz. Sendo eu o coordenador, achei que teria de fazer o trabalho todo, mas não. Tenho-me limitado a coordenar e todos os professores do agrupamento estão envolvidos a 100% no projeto. Tem sido um enorme sucesso». Foi desta forma que Nuno Magalhães, responsável pela dinamização do “Escola Azul”, em Olhão, avaliou o caminho até agora feito pelo projeto.

As declarações deste professor, licenciado em Biologia Marinha pela Universidade do Algarve, foram feitas aos jornalistas momentos antes da ministra do Mar Ana Paula Vitorino ter atribuído, oficialmente, a distinção de “Escola Azul” ao agrupamento de escolas olhanense João da Rosa, o único no Algarve e um dos poucos a nível nacional onde este projeto arrancou, de forma experimental.

A governante esteve esta sexta-feira em Olhão e não teve medo sujar os sapatos para se juntar aos alunos da EB1 de Marim que estavam a recolher amostras no lodo, junto ao moinho de maré existente na sede do Parque Natural da Ria Formosa.

Foi no meio de alunos do 4º ano deste estabelecimento de ensino que Ana Paula Vitorino ficou a conhecer o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no agrupamento João da Rosa, que já começou há meses.

Nuno Magalhães e Ana Paula Vitorino

«A minha ideia inicial era proteger o ecossistema das ervas marinhas, que tem um potencial imenso em termos de biodiversidade. É lá que muitos peixes desovam, é onde se fixa um grande número de animais, mas também de algas. Para além disso protegem contra a erosão costeira. Há cem anos, quando havia ervas marinhas do lado oceânico das ilhas, não havia os problemas de erosão e do mar levar a areia das dunas, como há agora», contou Nuno Magalhães.

«Mas, como nós sabemos, as plantas não são icónicas para ninguém. Daí ter escolhido o cavalo-marinho, que é uma espécie icónica, como o tigre ou o golfinho. E temos aqui na Ria Formosa a maior população de cavalos-marinhos do mundo», acrescentou.

Esta espécie, «infelizmente, está muito ameaçada», já que, na Ásia «é considerado um afrodisíaco e há quem o apanhe aqui na Ria Formosa para o vender para o mercado asiático».

A criação do imaginário foi um primeiro passo. Os demais, foram dados com a ajuda da comunidade escolar.

«Todo o Agrupamento está envolvido. Estes meninos, que são do 4º ano, trabalham em torno de uma história [o conto Formosa] desenvolvida por uma investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMar do Algarve), que está promover a educação ambiental dos mais pequeninos em articulação connosco. Os alunos do 2º ciclo também estão envolvidos, através do cavalo-marinho e desta história», disse.

Já os alunos mais velhos, do 7º ao 9º ano, participam de forma mais profunda. «Vêm à Ria, fazem campanhas de monitorização da erosão, com o Coastwatch, de recolha voluntária de plásticos e também de monitorização das ervas marinhas e sequestro de carbono», segundo Nuno Magalhães.

Muitas destas atividades acontecem num ambiente mais descontraído e com a Ria Formosa como pano de fundo. «São aulas práticas. A escola não deve ser sempre dentro de quatro paredes. Há que sair para o campo, o que, neste caso, é a Ria. Nós procuramos, ao máximo, fazer não só aulas laboratoriais, mas também no terreno», concluiu.

A ministra do Mar ouviu Nuno Magalhães, conheceu alguns dos investigadores que dão apoio científico ao projeto, em Olhão, e professores do agrupamento João da Rosa, que acolheram o “Escola Azul” de braços abertos. E também sondou os mais pequenos e ficou a saber, da boca deles, um pouco mais sobre a proteção das ervas marinhas.

«A importância deste tipo de projetos é enorme, mas eu queria focar dois aspetos. Por um lado, a questão da preservação da Ria Formosa e os hábitos de proteção do oceano e do ambiente, em geral. Por outro, o facto de estarmos a criar gerações oceânicas», disse Ana Paula Vitorino.

«É muito importante vocacionar os nossos jovens para que mais tarde, quando adultos, sejam cidadãos preocupados com a preservação dos oceanos e das zonas costeiras, bem como das várias espécies que aí existam. E, também, que possam vir a ser profissionais em áreas ligadas ao mar», acrescentou.

A ministra do Mar salientou que «o ecossistema da Ria Formosa é único, que, como diz o professor Nuno Magalhães, é “só” o ecossistema marinho com maior biodiversidade do país».

Com o “Escola Azul”, poder-se-á estar a começar a formar um batalhão de futuros protetores da fauna e da flora existente neste rico sistema lagunar.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação e Luís Pacheco|Câmara de Olhão

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