Vêm para caminhar, principalmente na época baixa do turismo, e animam, em cada vez maior número, as pacatas vilas de Alcoutim e de Sanlúcar do Guadiana. O turismo de natureza, principalmente a vertente de caminhadas, traz cada vez mais gente a esta zona raiana e tem-se vindo a revelar um forte aliado para economia destas duas vilas, que apostaram em unir-se para tirar dividendos da sua aptidão natural para este tipo de atividades.
Um dos expoentes máximos desta aposta conjunta é o Festival de Caminhadas de Alcoutim, que, como frisa Júlio Cardoso, que coordena a organização do evento, «é também de Sanlúcar». A edição de 2018 deste evento decorreu no passado fim-de-semana e trouxe muita gente a estas duas localidades. O Sul Informação também subiu a serra até Alcoutim e atravessou o rio, para testemunhar in loco o que é o festival e o seu impacto.
«Tivemos cerca de 300 inscrições, com origem variada. Os nossos vizinhos espanhóis aderem muito, desde o primeiro ano. Também temos estrangeiros residentes e alguma procura de outros que estão no Algarve em férias. Portugueses, temos não só algarvios, mas também pessoas de outros pontos de país. Vieram pessoas de Lisboa e Coimbra», revelou Júlio Cardoso.
«Nos últimos anos, quando vamos, por exemplo, à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), a maior procura é pelas caminhadas. Aliás, a nossa imagem tem estado relacionada com esta oferta. E nota-se uma procura crescente, daí já termos muita gente a vir de Lisboa e até de locais mais a Norte», acrescentou.
O festival é um momento que, naturalmente, concentra mais caminhantes. Mas nem por isso eles deixam de vir, noutras alturas do ano.
«As caminhadas são uma alavanca para a economia local. Desde que foram criados os percursos do Baixo Guadiana, em 2000 e pouco, começou a haver procura. Depois, com o aparecimento da Via Algarviana e o facto da vila ser o começo ou o final desta infraestrutura, vem muita gente ao longo do ano, principalmente no Outono e na Primavera», disse o coordenador do festival.
Para estes resultados, ajuda a parceria criada entre Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana. «Tudo isto decorre de um compromisso e de uma estratégia que nós temos, em que as duas margens trabalham em conjunto para um objetivo comum, o de desenvolver os nossos territórios, de um lado e de outro da fronteira», salientou o presidente da Câmara de Alcoutim Osvaldo Gonçalves, em declarações ao Sul Informação.
Até porque estes são territórios que partilham «as mesmas potencialidades e os mesmos problemas».
«Todas estas atividades que promovemos em conjunto são, de alguma forma, uma maneira de passarmos às administrações regionais e nacionais a mensagem que é necessário de trabalhar juntos. Temos de promover ações que beneficiem tanto um lado como o outro da fronteira, para que a população se fixe nos nossos territórios», reforçou ao nosso jornal José María Pérez Díaz, alcaide de sanlúcar de Guadiana.
Foi este desejo em colaborar, para resolver problemas comuns, que levou as duas autarquias de ambos os lados das fronteiras a dar as mãos e a lançar este festival. E quem fica a ganhar são os caminhantes.
Quem vem a este festival de caminhadas tem a oportunidade de calcorrear, não só, percursos já marcados, mas também outros «que são guiados por caminhos muito interessantes e bonitos que não estão sinalizados, embora alguns estejam em vias de o ser», explicou Júlio Cardoso.
«Também temos as experiências na natureza. Este ano estreámos uma relacionada com a apicultura. Também temos a manhã e a tarde do pastor, que fazemos desde o primeiro ano e é uma das caminhadas estrela do festival, que esgota sempre», disse.
Outra novidade foi a inclusão do festival na recém-criada Algarve Walking Season. O festival alcoutenejo foi, de resto, o momento de lançamento formal deste projeto que também inclui o Walking Festival Ameixial e o evento de caminhadas que a Almargem irá realizar pela primeira vez, em Novembro, em Lagos.
A AWS é apoiada pela Região de Turismo do Algarve e surgiu no âmbito de uma candidatura ao programa Valorizar do turismo de Portugal. O seu grande objetivo é promover, em conjunto, as três iniciativas e, com isso, atrair mais pessoas à região.
A inclusão do festival de Alcoutim neste projeto, como Osvaldo Gonçalves já havia salientado ao Sul Informação, permitiu «aceder a Fundos da União Europeia, que não tivemos no passado. As primeiras quatro edições foram totalmente suportadas por nós».
Alcoutim joga nesta frente, mas não só. «Tem vindo a crescer e há possibilidades de crescer mais. A ideia, sem prejuízo de estar no projeto AWS, é ligar este evento a outras iniciativas que vamos realizando, ao longo do ano. Já fazemos as caminhadas noturnas no Verão, que, apesar de não serem feitas ao abrigo do festival, poderão sê-lo, no futuro», segundo Júlio Cardoso.
Em Outubro «foi aprovada uma candidatura transfronteiriça para realizar umas jornadas de turismo de natureza nos meses de Setembro ou Outubro onde se privilegiará a vertente das caminhadas e vamos ter empresas e festivais de outros pontos da Europa como convidados».
Ou seja, as caminhadas parecem ter vindo para ficar (e crescer) na raia do Guadiana.
Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação
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