Alcalar volta a ter um dia pré-histórico, com um “novo” túmulo milenar para ajudar à festa [com vídeo]

A história que nos contam as pedras e as estruturas milenares dos Monumentos Megalíticos de Alcalar é bem antiga. Mas […]

A história que nos contam as pedras e as estruturas milenares dos Monumentos Megalíticos de Alcalar é bem antiga. Mas isso não impede que a edição de 2018 da recriação “Um Dia na Pré-História” marcada para este sábado, dia 21 de Abril, faça sol ou faça chuva, tenha novidades.

Um “novo” túmulo com cerca de 5 mil anos, recentemente recuperado, bem como a cerveja da marca Alcalar, produzida com base no conhecimento científico produzido ao longo dos últimos 30 anos pela equipa que estuda este sítio arqueológico, são mais duas razões para ir até aos Monumentos Megalíticos, vestir uma toga de pele de animal e recordar como viviam os “algarvios” que povoaram o local há milénios.

Alcalar vai estar em festa amanhã, dia 21 de Março, sendo palco de mais uma edição da única recriação da Pré-História que se faz em todo o país. E nem a previsão de muita chuva, vento e trovoada para amanhã faz desistir a equipa que está a colocar de pé esta iniciativa. Isabel Soares, diretora do Museu de Portimão, bem humorada, disse ao Sul Informação que «nos tempos pré-históricos também chovia, e muito, e a vida era bem difícil».

Além disso, ao que tudo indica, à tarde o tempo vai melhorar. «Já temos a equipa de 70 pessoas que põe isto de pé preparada, entre funcionários do Museu, membros dos Amigos do Museu, outros voluntários, o grupo de teatro está a postos, o grupo de percussão da Academia de Música de Lagos também. O porco preto que vem de Monchique, para ser preparado com as ferramentas em sílex e depois assado na fogueira, está já apalavrado. Não há razão para cancelar, só porque se prevê chuva!».

Alcalar já tinha sido o local escolhido para apresentar o programa do DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos, há uma semana. E esta foi uma oportunidade para se ficar a conhecer o renovado Monumento 9 de Alcalar.

À semelhança do Monumento 7, que é maior e já era o elemento central desta necrópole, este Monumento 9 era um túmulo, construído para servir como última morada para elementos da elite de então.

O Sul Informação já tinha estado em Alcalar e dado a conhecer este projeto, numa reportagem recente. Na altura, o casal de arqueólogos Rui Parreira e Elena Móran explicou ao nosso jornal que o Túmulo 9 é mais novo «200 a 300 anos» que o seu vizinho do lado.

«O Túmulo 7 é mais antigo, é de meados do 3º milénio antes de Cristo, enquanto este ainda estava em uso e aberto quando esse já estava selado», acrescentou. Ou seja, o Túmulo 9 tem uma datação que aponta para a sua construção «na passagem do 3º milénio para o 2º milénio a.C». Um jovem, portanto, «com pouco mais de 4 mil anos», segundo Rui Parreira, arqueólogo da Direção Regional de Cultura do Algarve.

No dia em que os Monumentos Megalíticos acolheram a apresentação do DiVaM, Rui Parreira explicou que este novo monumento ajuda «a perceber a organização de uma necrópole de há 5 mil anos».

 

E qual é a importância dos túmulos encontrados neste sítio arqueológico?
Rui Parreira explica:

 

Amanhã, sábado, a colina que os líderes desta comunidade pré-histórica escolheram para serem sepultados voltará ao passado.

Uma das principais atrações, este ano, será a cerveja Alcalar, produzida pelos artesãos cervejeiros da Marafada, na Quinta dos Avós, «que resulta da transferência do conhecimento produzido no âmbito do projeto Alcalar e das plantas que eram utilizadas na alimentação há cinco mil anos», salientou Rui Parreira.

Ao longo do dia, haverá, ainda, atividades para miúdos e graúdos, muitas delas de arqueologia experimental, que passam pela confeção de alimentos, numa fogueira, à maneira pré-histórica. E isso significa que não há fósforos nem isqueiros para fazer fogo, nem sequer utensílios de metal para os preparar e manusear.

Apesar de, para qualquer cidadão comum, isso poder constituir um grave problema, neste caso estará presente uma equipa especializada neste tipo de experimentação, que vai fazer o fogo e preparar os alimentos, utilizando os instrumentos de pedra, da forma como se fazia há milénios.

Também se demonstrará como se produzia ferramentas e ornamentos, estando prevista uma oficina de gravura, com base nos padrões gráficos das placas de xisto descobertas em sepulturas pré-históricas na zona de Alcalar, bem como um novo ateliê exemplificando processos de fundição do cobre.

Às 18h00, a Orquestra de Percussão da Academia, dirigida por Vasco Ramalho e formada apenas por jovens oriundos de países terceiros à União Europeia (africanos e brasileiros), vai atuar.

«Esta é uma atividade muito vocacionada para as famílias, que reúne uma série de ateliês que reúne muitas crianças e às famílias. A pré-história, como costuma dizer um colega meu, é um lugar distante. Desta forma, conseguimos uma aproximação à vida de então. Isso tem contribuído para a divulgação do património megalítico», resume Rui Parreira.

E, sendo assim, mesmo que chova, não desista de ir a Alcalar. Os nossos antepassados da pré-história tiveram condições meteorológicas bem mais duras e, mesmo assim, sobreviveram.

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