Presidente veio a Faro trazer palavras de conforto e apelar à tolerância e inclusão [com fotos]

O Presidente da República esteve em Faro este sábado para visitar alguns dos locais mais afetados pelo temporal e pelo […]

O Presidente da República esteve em Faro este sábado para visitar alguns dos locais mais afetados pelo temporal e pelo tornado, que causaram estragos em vários concelhos da região. Marcelo Rebelo de Sousa foi à Praia de Faro, ao Pavilhão Municipal da capital algarvia, onde está alojada a comunidade cigana cujo acampamento foi danificado pelos ventos fortes – local que também visitou -, e terminou o périplo na Galvana, numa propriedade agrícola que foi muito afetada pelo tornado.

Nos diferentes locais, o Presidente deixou palavras de conforto às vítimas e mostrou-se confiante de que haverá soluções para os afetados pela intempérie.

Aos ciganos de Faro, pediu paciência na espera por casas novas, o que não significa que não haja uma solução intermédia, que permita dar melhores condições aos cerca de 130 membros da comunidade que vive no Cerro do Bruxo, junto à EN2, à saída de Faro.

«Para resolver a questão mais complicada [do realojamento], virá cá, depois de amanhã, o ministro do Ambiente com a secretária de Estado da Habitação, que irá ver esta situação. Isto terá de ser tratado em conjunto entre entidades públicas centrais e o município, para ver como é possível enfrentar essa questão. Pelo que sei, há várias situações sociais de realojamento que o município tem de satisfazer, que não têm só a ver com esta comunidade. Há que compatibilizar isto e arranjar uma fórmula para que não haja o que hoje se entende que não deve haver: segregações, separações e distanciamentos. Tem de haver integração comunitária e ela começa pela habitação», considerou Marcelo Rebelo de Sousa.

Os chefes da comunidade, por seu lado,  falaram dos problemas com que os ciganos do Cerro do Bruxo se debatem, bem como a história de uma situação que se arrasta há 20 anos e que tarda em ser resolvida. E pediram uma solução de curto prazo, afirmando estar conscientes que não será possível ter uma casa de um momento para o outro.

«O que ficou falado foi, na segunda ou na terça-feira, ver de uma solução. Falaram num projeto chamado “Porta de Entrada”, em que são instaladas casas pré-fabricadas, onde se vive muito bem. Traz dois ou três quartos, não é como uma barraca. Tem água, tem luz, tem casa-de-banho, tem tudo», ilustrou José Manuel da Encarnação, um dos chefes da comunidade cigana.

«Temos de construir uma solução, em conjunto, que, não sendo definitiva, terá de ser condigna, até termos uma solução definitiva», disse, por seu lado, o presidente da Câmara de Faro Rogério Bacalhau.

Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para fazer um elogio à integração, pedindo o esforço de todos os envolvidos. «A sociedade em geral tem de perceber que é do seu interesse aceitar a integração de todos e não marginalizar ninguém, se quiser ser digna e justa, como aponta a nossa Constituição. E é do interesse de todos que ninguém se marginalize a si mesmo. É importante que todas as comunidades queiram integrar-se, queiram que os seus filhos e netos se integrem, estudem, tenham uma profissão e a exerçam sem discriminações», considerou.

E deu o exemplo da empatia que pretende que exista na sociedade, ao fazer questão de cumprimentar quase todos os membros da comunidade que esperaram por ele no Pavilhão Municipal, com especial atenção para as crianças e jovens, perante as caras espantadas, mas sorridentes, dos que estavam longe da primeira fila, mas que não deixaram, por isso, de receber um beijinho ou um passou-bem.

Para o Presidente da República, «este esforço recíproco é uma questão de mentalidade e está a ser feito». «Mas é uma luta de todos os dias. A Democracia é uma guerra de todos os dias, não fica pronta quando se escreve a Constituição», disse.

Isto passa, em grande medida, pela educação, o que leva o Chefe de Estado a considerar fulcral que esteja a ser garantida a ida à escola das crianças. «É muito importante que não haja aqui interrupção, em termos de valorização pessoal e de integração comunitária», disse.

Marcelo Rebelo de Sousa também levou palavras de conforto aos afetados pelo temporal, na Praia de Faro, e a um dos agricultores que viram o tornado do passado domingo causar avultados prejuízos.

Na praia de Faro, os estragos mais visíveis foram aqueles que o mar causou no espaço público. Mas houve também particulares que contabilizaram danos e há locais onde a força das ondas escavou a duna, deixando estruturas por terra e ameaçando outras.

O presidente não temeu a distância, nem o terreno acidentado e fez questão de percorrer, a pé e em passo apressado, a frente de mar a poente da praça central da praia, chegando até à zona fora da concessão da Câmara, levando atrás de si uma ofegante comitiva de dezenas de pessoas.

Também por terra caíram muitas das estufas que Vitor Guerreiro tem no seu terreno de cinco hectares, na zona da Galvana, nas imediações da Conceição de Faro. Esta foi uma das explorações agrícolas fortemente afetadas pelo tornado.

«Houve aqui uma destruição quase total e uma perda da maioria da produção. Já cá estiveram, bem como noutras explorações, os responsáveis da Direção Regional de Agricultura. Fizeram os cálculos e têm um número», disse Marcelo Rebelo de Sousa, que salientou que «já está pronta e vai avançar» uma portaria do Governo com uma dotação de 3,6 milhões de euros para apoiar os produtores afetados pelo tornado.

Resta saber se o valor dos apoios corresponde às expetativas dos lesados. «Se vai ser possível reconstruir ou não, depende muito das ajudas que derem. Foi perda total daquilo que são muitos anos de trabalho. Provavelmente, com 50% será difícil», considerou o agricultor farense.

O Presidente da República assumiu que veio a Faro «trazer ânimo e solidariedade». E, diz, «tenho encontrado muito ânimo por aqui». De caminho, procurou e encontrou alguns tomates no meio das estufas destruídas – que galgou com destreza – e até levou dois consigo, com autorização (e a insistência) do dono da exploração.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

 

 

Comentários

pub