Chuva que tem caído «não resolve o problema grave da seca»

A chuva que tem caído nos últimos dias «não resolve o problema grave que temos» de seca. Carlos Martins, secretário […]

A chuva que tem caído nos últimos dias «não resolve o problema grave que temos» de seca. Carlos Martins, secretário de Estado do Ambiente, olha com bons olhos para as condições climatéricas dos últimos dias, mas diz que é preciso que chova mais e por mais tempo, para permitir que a água se infiltre nos aquíferos subterrâneos.

O governante, à margem da sessão de abertura do encontro Desafios da Água, que está a decorrer em Albufeira, diz estar «satisfeito com as condições climáticas, em particular se a chuva cair onde a escassez é maior, ou seja, a Sul do Tejo e em Trás-os-Montes».

No entanto, «a nossa preocupação vai além daquela que é mais facilmente percecionada pelos cidadãos, quando olham para uma albufeira com pouca água. Temos outro problema, mais gravoso, sobretudo nas povoações com abastecimento público a partir de águas subterrâneas. Do Minho ao Algarve, a escassez [de águas subterrâneas] é quase total. Todo o território está numa situação das mais gravosas da história, desde que há controlo e registos de águas subterrâneas», explica Carlos Martins.

A chuva dos últimos dias «vai ser acomodada nas albufeiras, mas vai demorar muito mais tempo para passar as camadas dos solos. Aí a velocidade é muito baixa e até que sejam repostas as águas subterrâneas vai demorar muito tempo».

Por isso, Carlos Martins espera um cenário ideal de «precipitação durante muito tempo, para que possa haver recargas dos aquíferos».

O secretário de Estado não quer antecipar o cenário de falta de água nas torneiras em casas abastecidas por águas subterrâneas no Verão, porque «a ideia é de confiança. A partir de Maio, no período em que há, tradicionalmente, menor precipitação, faremos um balanço. Até lá, no consumo humano, não haverá problemas. A haver, será mais no lado da agricultura».

Para Carlos Martins, até mais do que a chuva, «o que pode ajudar no próximo Verão é se os agentes e utilizadores fizerem um uso da água mais consciente. Ainda que o consumo nas nossas casas represente 10% do consumo nacional, deve haver um trabalho de moderação de consumos. Depois também na agricultura, que representa 80% do consumo nacional, e na indústria, também 10%, deve haver um uso com eficiência. Se essa atitude for assumida por todos, será o comportamento mais adequado para ultrapassar o próximo Verão», conclui.

Aliás, segundo os dados do Serviço Nacional de Informação dos Recursos Hídricos, neste momento as barragens a nível nacional, e nomeadamente no Algarve, têm menos água agora do que tinham na mesma época do ano passado.

Os dados referentes ao mês de Fevereiro, que são os mais recentes, indicam que a Barragem de Odelouca, a mais importante da região para abastecimento público, tinha apenas 32% da sua capacidade de água, enquanto no mesmo mês de 2017, já vivendo uma situação de seca, essa albufeira armazenava 56,5%.

A vizinha Barragem do Funcho, destinada apenas à rega, em Fevereiro passado estava mais composta, com 63,7%, mas, ainda assim, bem mais baixo que os 72,6% de 2017.

O Boletim de Armazenamento nas Albufeiras de Portugal Continental do SNIRH indica que, no último dia do mês de Fevereiro de 2018 e comparativamente ao último dia do mês anterior, verificou-se uma descida do volume armazenado em nove bacias hidrográficas e um aumento em apenas três.

Os armazenamentos de Fevereiro de 2018 por bacia hidrográfica apresentam-se inferiores às médias de armazenamento de Fevereiro (1990/91 a 2016/17), acrescenta o mesmo boletim.

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