Alcoutim e Sanlúcar voltam a contrabandear cultura e muita animação [com fotos]

O português pode ser a língua oficial de Alcoutim e o castelhano a de Sanlúcar de Guadiana, localidades que se […]

O português pode ser a língua oficial de Alcoutim e o castelhano a de Sanlúcar de Guadiana, localidades que se olham, separadas pelo rio, durante todo o ano. Mas bastou uma ponte física, aliada a outras de natureza imaterial, para que se oiçam as mais variadas línguas nas duas vilas. O denominador comum é o sorriso nos rostos.

O Festival do Contrabando voltou a unir as duas margens do Guadiana e a promover o tráfico de cultura na fronteira entre Portugal e Espanha. Até amanhã, domingo, está instalada uma ponte pedonal entre Alcoutim e Sanlúcar, que permite a qualquer um passar de um lado para o outro. Nem sequer é preciso ter passaporte.

E se a passagem flutuante é o ex-libris do evento, está longe de ser a sua única atração. Nas duas vilas que acolhem o festival, a animação de rua é uma constante e há contrabandistas, guardas fiscais, carabineiros e personagens vindas do passado a cada esquina.

Mas há, também, artesanato feito por mestres dos nossos dias, que, em alguns casos, estão junto às suas bancas a criar peças ao vivo. E, claro, gastronomia, daquela bem típica do Nordeste algarvio e da zona raiana.

Ontem, sexta-feira, foram muitos os que chegaram bem cedo a Alcoutim, para desfrutar de um almoço com vista sobre o rio Guadiana, antecipando a inauguração da ponte, marcada para as 15h00.

A cerimónia oficial contou com dois membros do Governo, os secretários de Estado da Cultura e do Turismo, MiguelHonrado e Ana Mendes Godinho, respetivamente, que tutelam o programa “365Algarve”, o principal financiador do festival, bem com um representante do Governo espanhol.

E se a ocasião começou por ser solene, depressa se tornou bem informal. Ao chegar a Espanha, depois de estrear a ponte, Miguel Honrado e Ana Mendes Godinho aceitaram o desafio de contrabandistas espanhóis para dar um passo de dança, embalados por música de um grupo português.

À sua volta, turistas das mais variadas nacionalidades incentivavam o baile com palmas e aproveitavam para tirar muitas fotografias.

A alegria e boa disposição generalizada não passaram despercebidas ao presidente da Câmara de Alcoutim Osvaldo Gonçalves, que apontou, como objetivo, o ultrapassar dos 10 mil visitantes, em três dias de festival.

«As nossas expetativas são enormes, depois do sucesso do ano passado. Ninguém espera que a afluência seja menor. Tendo em conta que no ano passado foi aquilo que foi, este ano esperamos aumentar», disse.

O número de visitantes é importante, até porque significará um aumento do retorno para a economia local e para os expositores. Mas também houve uma preocupação em «aumentar a qualidade do que oferecemos às pessoas».

«Aprimorámos um pouco aquilo que é a oferta cultural e esperamos que, mesmo, com a ameaça do mau tempo, as pessoas fiquem satisfeitas, algo que está a acontecer, como eu constatei hoje», acrescentou Osvaldo Gonçalves.

Este evento tem uma carga emocional elevada para os que habitam as duas localidades que a acolhem, de ambos os lados da fronteira. Como se recordou nas Jornadas do Contrabando, que voltaram a dar o pontapé de saída para o festival, o contrabando foi uma atividade a que uma população empobrecida, faminta e, no caso de Espanha, a sofrer as consequências da guerra civil e do pós-guerra, se viu obrigada a recorrer.

Daí a importância simbólica desta ponte, que permite que se faça hoje às claras e com descontração uma passagem que, em tempos, se fazia clandestinamente e sob o risco de ser abatido pelas autoridades de um lado e de outro da fronteira.

Há, mesmo, um desejo antigo no coração dos habitantes de Alcoutim e Sanlúcar: o de que seja construída uma ponte que fique o ano inteiro.

«Há uma grande vontade destas duas margens de se unir através de uma ligação permanente. Este é um desejo muito antigo. Não estamos a falar de uma ponte rodoviária. A nossa ideia é criar uma ponte pedonal e ciclável, até porque o que queremos é que as pessoas fiquem aqui», explicou Osvaldo Gonçalves.

Da parte dos representantes dos Governos dos dois países, foi afirmada a abertura para que essa ponte exista. «A vontade existe, assim hajam condições financeiras para fazer a ponte», disse o edil alcoutenejo.

Enquanto se espera por uma ligação que funcione todo o ano, a única forma de caminhar sobre as águas do Guadiana para passar entre Alcoutim e Sanlúcar é a ponte que estará instalada até domingo.

A passagem está aberta por períodos de duas horas e meia, ao sábado e domingo de manhã (encerra às 12h30), e durante a tarde, até às 17h30 de sexta-feira e sábado e as 18h00 de domingo. O programa completo do festival, em formato pdf, pode ser descarregado seguindo este link.

O Festival do Contrabando é organizado pela Câmara Municipal de Alcoutim, em parceria com o Ayuntamiento Sanlúcar de Guadiana. Os apoios surgem do Governo de Portugal, Turismo de Portugal, da Região de Turismo do Algarve e do “365Algarve”, bem como da Junta de Andaluzia e da Mancomunidad da Betúria, ambas de Espanha.

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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